Putin e Trump são as grandes estrelas do World Press Cartoon 2025
O desenho mostra a Estátua da Liberdade com a boca cosida, impedida de falar. Olhando de perto, percebemos que as linhas que cosem a boca à "Lady Liberty" formam, na verdade, a famosa assinatura de Donald Trump, que o presidente norte-americano adora mostrar às câmaras, firmada a marcador negro, sempre que assina uma ordem executiva. É um trabalho do cartunista Darco, originário do Montenegro, e publicado na edição do dia 21 de março deste ano da revista Monitor.
Galardoado com o Grande Prémio, este é o grande vencedor da edição deste ano do World Press Cartoon, a competição que reúne desenhos de imprensa e mostra os mais conseguidos, os mais engraçados, mas também aqueles que mais nos fazem pensar.
"Na minha opinião, Trump suspendeu todas as liberdades do povo americano e quis ter a certeza de que cada uma de suas assinaturas calasse a boca de todas as pessoas livres. Também proibiu a publicação de caricaturas em jornais diários conhecidos, como o Washington Post ou New York Times", diz Darco à Euronews. "Hoje em dia, não há muita liberdade na imprensa mundial, porque os jornais se tornaram privados e não são mais a imprensa livre de antigamente. Por isso, acho que mesmo os diretores e editores dos jornais não fazem ideia do que é uma caricatura, do que é humor, do que é liberdade", acrescenta.
A mostra, que podemos dizer que está para o desenho de imprensa como o World Press Photo está para a fotografia, voltou a ser organizada após dois anos de pausa e tem, mais uma vez, o cartunista português António Antunes como diretor da organização.
Organizado pela primeira vez em 2005, o WPC comemora o 20º aniversário com um novo local, mudando-se de armas e bagagens para o Palácio Anjos, em Algés.
Donald Trump divide com Vladimir Putin o estatuto de grande estrela da edição deste ano: "Trump e Putin estão muito presentes, naturalmente, porque foram notícia ao longo do ano. Mas temos outros temas em destaque, como o aquecimento global ou a Faixa de Gaza", diz António Antunes.
O português, que há mais de 50 anos é o cartunista principal do semanário Expresso e um dos maiores nomes do desenho de imprensa no mundo, destaca a importância desta arte na conjuntura atual: "Com as fake news, com a censura, com as pressões, com cartunistas despedidos e jornais fechados, tudo isso faz do World Press Cartoon um salão muito querido por cartunistas de todo o mundo", acrescenta.
Putin é, aliás, o retratado no desenho vencedor do primeiro prémio na categoria de caricatura, da autoria do alemão Frank Hoppmann e publicado na edição do primeiro dia do ano da revista Italien. Hoppmann tinha já vencido o Grande Prémio na edição de 2020 com uma caricatura do primeiro-ministro britânico Boris Johnson.
Comentando o seu estilo muito particular, o desenhador alemão explicou à Euronews: "o que gosto, quando pinto ou desenho, é de provocar uma reação forte, não necessariamente positiva, mas uma reação que comove o observador". Quanto à ameaça à liberdade de imprensa que representam políticos como Putin, não se mostra muito preocupado: "Tenho quase a certeza de que bandidos como Putin, Erdogan ou Trump não querem saber de caricaturas, de desenhos críticos ou de meios de comunicação críticos. Esse é o nosso trabalho, o que certamente requer um pouco de coragem, mesmo se estamos sentados em casa e relativamente protegidos. Às vezes, somos alvo de hostilidade, muito comum hoje em dia nas redes sociais. Mas temos de estar acima disso".
Finalmente, o primeiro prémio na categoria de desenho humorístico foi para a iraniana Nahid Maghsoudi, com um cartoon alusivo ao Dia Internacional da Mulher, 8 de março, publicado no site neerlandês Cartoon Movement, mostrando uma burca ensanguentada pendurada num cabide, ao lado de um balão de fala igualmente ensanguentado, mostrando assim o silenciamento de que as mulheres são vítimas em alguns países.
A exposição, que reúne cerca de 300 desenhos de todo o mundo, pode ser vista no Palácio Anjos, em Algés (Portugal), até ao dia 8 de fevereiro.