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Anúncios de emprego com base no género: as mulheres estão a afastar-se das funções "masculinas"?

• Oct 15, 2024, 12:27 AM
7 min de lecture
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As palavras de género nos anúncios de emprego podem estar a contribuir para a sub-representação das mulheres em certas profissões e cargos, de acordo com um relatório de um organismo de investigação alemão, o Instituto de Investigação do Emprego (IAB), publicado no final de setembro.

"Os estereótipos de género nos anúncios de emprego podem levar a um enviesamento de auto-seleção, em que as mulheres optam por não se candidatar a esses empregos, mesmo que reúnam as qualificações necessárias, devido à perceção de que não se adequam", concluiu o estudo.

O relatório indica, ainda, que os "anúncios de emprego estereotipadamente masculinos" também podem "levar a um preconceito no processo de contratação, em que as mulheres são injustamente avaliadas como sendo menos competentes ou menos adequadas para o trabalho".

Os investigadores do IAB avaliaram anúncios de 710 profissões publicados num dos maiores portais de emprego online da Alemanha, o BA Jobbörse, e descobriram que há mais empregos orientados para o género feminino.

Mesmo assim, o relatório concluiu que, em certos domínios, como o STEM [ciência, tecnologia, engenharia e matemática], a maioria das descrições de emprego utilizava termos "masculinos".

Os cargos na área da saúde e dos serviços sociais eram linguisticamente "femininos", enquanto os cargos de chefia em todas as profissões eram mais suscetíveis de utilizar uma linguagem "masculina".

O que torna uma linguagem mais feminina ou masculina?

Para decidir se os anúncios eram dirigidos a homens ou mulheres, os investigadores separaram as palavras em categorias "de agente" e "de comunidade".

Enquanto as caraterísticas de comunidade realçam o lado humano, as caraterísticas de agente dão prioridade à determinação e ao crescimento pessoal.

"Especificamente, a investigação socio-psicológica demonstrou que os homens são mais frequentemente associados a caraterísticas de agente, enquanto as mulheres são frequentemente associadas a caraterísticas de comunidade", afirmaram os investigadores do IAB.

Com base nos estudos existentes sobre o género, os investigadores elaboraram uma lista de palavras que se enquadram nestas duas categorias, antes de analisarem a sua presença nos anúncios de emprego.

A maioria dos especialistas diria que a associação das palavras ao género é mais problemática do que a presença desses termos nos anúncios de emprego.

Por exemplo, alguns empregos exigem que o candidato seja "assertivo". O problema é que esta qualidade é considerada "masculina", mais do que o facto de aparecer no anúncio.

"Para muitos empregos, são necessárias competências classificadas como de comunidade ou de agente, pelo que essas competências devem ser mencionadas no texto do emprego", explicou o Dr. Michael Stops, investigador do IAB.

No entanto, acrescentou que, nos casos em que certas formulações "não são necessárias para descrever o emprego", os empregadores devem considerar a possibilidade de as excluir dos anúncios, caso desencorajem os candidatos com base no género.

Stops defendeu ainda que se poderia fazer mais para incentivar as pessoas a candidatarem-se a empregos em que os estereótipos de género possam constituir um obstáculo.

Explicou que, de acordo com outros estudos, os homens não são afetados pela redação dos anúncios de emprego com base no género, ao contrário das mulheres.

Estes resultados não foram testados no recente relatório.

Linguagem neutra em termos de género

Tal como noutros Estados-membros da UE, na Alemanha os empregadores não podem especificar explicitamente uma preferência de género nos anúncios de emprego. A redação deve ser neutra, o que levou à utilização da "estrela de género".

Como em muitas outras línguas, o alemão modifica os substantivos em função do género. Por exemplo, um professor do sexo masculino é designado por "Lehrer", ao passo que uma mulher com este papel seria designada por "Lehrerin".

Quando se utiliza a forma plural, a construção masculina tem preferência, mesmo quando um grupo é constituído por homens e mulheres.

Para ser mais inclusivo, uma solução é acrescentar um asterisco aos substantivos.

Em vez de absorver a forma feminina na masculina, escrevem-se ambas - Lehrer*in.

Esta solução causou polémica na Alemanha, tendo algumas pessoas afirmado que a linguagem sensível ao género está a prejudicar a precisão linguística.

De acordo com a professora Alexandra Scheele, da Faculdade de Sociologia da Universidade de Bielefeld, a linguagem nos anúncios de emprego pode alimentar as divisões profissionais de género.

No entanto, a professora sublinhou o papel primordial que a educação desempenha.

"Quando escolhem as oportunidades de formação profissional depois da escola, as mulheres já estão a escolher entre um leque mais reduzido de empregos", disse à Euronews.

"Os rapazes e as raparigas continuam a ser tratados de forma diferente na escola. E novos estudos mostram que mesmo que uma rapariga tenha as mesmas notas a matemática que um rapaz, tende a considerar-se menos boa nessa disciplina. Portanto, este estereótipo já existe na educação", acrescentou.

Para o futuro, seria interessante analisar mais atentamente os perfis de qualificação das mulheres que optam por não se candidatar a empregos enquadrados numa linguagem "masculina".

"As mulheres tendem a escolher profissões nos anúncios de emprego que já correspondem às suas qualificações atuais", afirmou.

A professora Scheele também referiu que, no que diz respeito à contratação, a abordagem "semelhante a mim" ainda é muito prevalecente.

"Quem procura um sucessor profissional, muitas vezes já tem em mente alguém parecido com ele. E se a função foi anteriormente desempenhada por um homem, é provável que voltem a procurar um homem".

Tornar a linguagem mais inclusiva, segundo Scheele, é apenas um aspeto da luta contra os estereótipos de género que alimentam os desequilíbrios profissionais.