Porque é que os titãs europeus do mercado acionista estão atrasados em relação às "Sete Magníficas" dos EUA?
As ações europeias de grande capitalização continuam a ter dificuldades em acompanhar o extraordinário desempenho das muito elogiadas "Sete Magníficas" titãs da tecnologia dos Estados Unidos.
No acumulado do ano, as "Sete Magníficas" registaram uma subida média de 55%, enquanto as homólogas europeias, como as "Eurostars" ou "GRANOLAS", estão muito aquém, registando um ganho médio modesto de 7,6% e 0,6%, respetivamente.
A diferença de desempenho entre os EUA e a Europa estende-se para além das ações de grande capitalização, com o S&P 500 a ganhar 25% no acumulado do ano, em comparação com apenas 5% de aumento para as ações europeias, de acordo com o Stoxx 600.
A Euronews falou com Jordy Hermanns, gestor de carteiras e estratega de investimentos da Aegon Asset Management, sobre os fatores que estão na origem desta grande diferença entre os dois lados do Atlântico.
Hermanns apontou um catalisador claro: "Os sectores da tecnologia e da IA continuam a ser poderosos impulsionadores de retornos, sustentando a força contínua das Sete Magníficas".
A Europa está a perder o "boom" da IA
De acordo com o especialista, o fraco desempenho das ações europeias resulta, em grande medida, de diferenças estruturais na composição do mercado e de ventos contrários externos.
As Sete Magníficas - incluindo potências tecnológicas como a Alphabet, a Amazon, a Apple, a Meta Platforms, a Microsoft, a Nvidia e a Tesla - foram impulsionadas pelo atual "boom" da inteligência artificial e pela sua integração em todos os sectores.
"Este fator de retorno da IA está basicamente ausente nas ações europeias", afirma Hermanns. Sem o vento de popa da IA, as ações europeias não têm o catalisador explosivo que impulsionou os mercados dos EUA para novos patamares.
Exposição à China e novos ventos contrários macroeconómicos
As principais empresas europeias estão também a enfrentar desafios específicos da região.
As multinacionais europeias têm uma exposição significativa à China, onde o abrandamento do crescimento económico e as tensões geopolíticas persistentes estão a diminuir a procura. Esta situação afetou particularmente o sector do luxo e o titã francês LVMH, que depende fortemente dos consumidores chineses.
Além disso, as incertezas geopolíticas, incluindo as políticas comerciais da nova administração dos EUA, afetaram de forma desproporcionada as empresas europeias.
"As tensões geopolíticas parecem afetar mais as empresas europeias", acrescenta Hermanns.
Os fabricantes europeus de automóveis e as marcas de luxo podem enfrentar obstáculos adicionais se as tarifas propostas pelo antigo presidente dos EUA, Donald Trump, voltarem a surgir. Trump sugeriu medidas abrangentes, incluindo uma tarifa de 60% sobre as importações chinesas e uma tarifa universal de 10% sobre os produtos de outros países.
A Ferrari, entre outras empresas do Eurostar, poderá ser particularmente vulnerável, dada a sua dependência das exportações para os EUA e a China. Embora a procura de produtos europeus de gama alta tenda a ser resistente, a incerteza em torno dos direitos aduaneiros - e das potenciais medidas de retaliação - deixa os investidores apreensivos.
"É evidente que os investidores não gostam da incerteza das tarifas iminentes, para qualquer empresa", sublinha Hermanns.
O crescimento da Novo Nordisk enfrenta novos desafios
A Novo Nordisk A/S, a maior empresa da Europa em termos de capitalização bolsista, registou um ganho de apenas 4% até à data, o que a coloca no caminho do seu desempenho anual mais fraco dos últimos cinco anos.
Após um crescimento exponencial impulsionado pelo seu medicamento de sucesso para a obesidade, o Wegovy, a Novo enfrenta agora uma concorrência acrescida com a entrada no mercado de alternativas mais baratas.
"Com outras empresas a oferecerem agora alternativas, a posição de monopólio da Novo Nordisk neste mercado está a ser corroída", observa Hermanns. "Apesar disso, o mercado total continua a crescer e a quota de mercado da Novo Nordisk permanece muito elevada."
Implicações para o investimento: um apelo à diversificação
Enquanto os gigantes tecnológicos norte-americanos estão a reescrever o manual dos retornos das ações, os gigantes europeus debatem-se com ventos contrários estruturais e desafios externos.
Quer se trate do abrandamento da China, dos riscos tarifários ou da ausência de um "boom" impulsionado pela IA, o caminho a seguir parece estar longe de ser fácil.
Como observa o especialista, o desempenho superior contínuo das ações dos EUA está a remodelar as carteiras globais, inclinando-as cada vez mais para os ativos dos EUA, mas também aumentando o risco de concentrações.
No entanto, Hermanns aconselha prudência: "Os investidores não devem concentrar-se apenas nas ações dos EUA e devem considerar a diversificação geográfica".
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