"Hope", a esperança árabe de chegar a Marte
A equipa de cientistas e engenheiros do Centro Espacial Mohammed Bin Rashid, no Dubai, chegou ao momento mais aguardado dos últimos seis anos de trabalho árduo e planeamento meticuloso. A 20 de julho de 2020, lançou, a partir do Japão, a sonda Hope numa viagem de sete meses com destino a Marte. E, para já, teve sucesso.
Esta é primeira missão espacial árabe. Ayesha Sharafi, engenheira envolvida no projeto, descreve o momento histórico como "uma montanha-russa de emoções, entre estarmos entusiasmados, felizes e gratos por esta oportunidade e nervosos e aterrorizados. Mas, acima de tudo, - afirma - há uma emoção que toma conta de nós, há esperança".
A sonda, apelidada "Al-Amal", em árabe, ou "Hope", numa versão internacional, carrega no nome a esperança que todos os envolvidos na missão depositam na chegada dos Emirados Árabes Unidos (EAU) a Marte. Mas o caminho a cumprir tem ainda várias etapas pela frente.
O êxito da primeira fase deixa, por essa razão, o presidente da Agência Espacial dos EAU, Ahmad Belhoul al-Falasi, cautelosamente satisfeito.
"Estamos a tentar ser conservadores, mas não podemos conter a felicidade que temos. Já passaram seis anos, por isso ainda estamos na primeira fase do lançamento, estamos à espera da segunda fase, que é a parte crítica", confessa.
Segunda etapa: a separação
O sucesso do lançamento trouxe um alívio efémero, antes de a equipa se preparar para a próxima série de momentos decisivos. O desafio seguinte é separação da nave espacial do foguetão, ao atingir 34.000 km/h em direção a Marte.
"Cinco minutos após a separação estaremos a passar os painéis solares. Quinze a trinta minutos depois da separação, vamos receber o nosso primeiro sinal e pôr em funcionamento os nossos propulsores de controlo de reação, de modo a estabilizar a nave espacial e capturar os raios solares", explica Ayesha al Sharafi.
Ao longo da noite de lançamento, todos os objetivos da missão foram atingidos.
Primeiro, conta o diretor do projeto, Omran Sharaf, teve lugar "o lançamento e a separação da nave espacial do veículo de lançamento, o que aconteceu cerca de uma hora após o lançamento. E logo a seguir, em cerca de 20 minutos" foi recebido "o primeiro sinal da nave espacial".
Apesar de liderada localmente, a missão "Emirates Mars" não teria sido possível sem um compromisso de colaboração internacional.
A missão contou com a parceria da Mitsubishi Heavy Industries, uma empresa japonesa do grupo Mitsubishi, que lança naves espaciais.
E, de acordo com o diretor do projeto, "em vez de construir todas as instalações de uma ponta à outra", a equipa recorreu ao aluguer de"instalações que estão disponíveis em todo o mundo". E até a NASA partilhou a rede de trabalho sobre o espaço sideral. "Ligámo-la à nossa sala de operações e no Dubai", conta.
Tempo de contratempos
Até chegar a este momento, os cientistas tiveram de ultrapassar vários desafios para levar a cabo a missão.
Inicialmente agendada para 14 de julho, a descolagem da sonda árabe, acabou por ser adiada duas vezes, devido à más condições meteorológicas previstas para o centro espacial japonês, na ilha de Tanegashima.
Mas a partida pregada pelo tempo não teve repercussões tão grandes como aquelas causadas pela pandemia de covid-19.
"Antecipamos e pensamos em coisas que podemos enfrentar quando se trata de risco e quando tem a ver com programação e assim por diante. Mas não estávamos a prever a covid-19. A começar por termos tido de enviar esta nave espacial mais cedo para o Japão. Cerca de um mês antes da data prevista Isso, por si só, foi um grande desafio que a equipa foi capaz de superar", afirma Mohsen Al Awadhi, engenheiro de sistemas na missão.
O objetivo final da missão é recolher dados que vão ser partilhados livremente com toda a comunidade científica. E para estes cientistas esse é o aspeto mais entusiasmante da missão.
Para a ministra das Ciências Avançadas dos EAU, Sarah Al Amiri, "a parte divertida começa com a ciência, e isso significa começar a recolher dados científicos, verificando e validando o processamento de dados que fizermos sobre eles, para que possamos divulgar os nossos conjuntos de dados ao público e aos cientistas de todo o mundo e ele possam usá-los nas suas áreas de investigação. Isto também instiga a equipa de investigação científica a dar o pontapé de saída e começar. E esperamos verdadeiramente fazer uma descoberta científica até ao final de 2021 com os dados recolhidos nesse ano".
O que quer que Marte tenha reservado para os cientistas, a missão em curso já deu à equipa nela envolvida muito conhecimento prático. E, até agora, mantém viva a esperança de chegar ao planeta vermelho.