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Assustador "Oddity" triunfa no MOTELX 2024

• Sep 17, 2024, 1:00 PM
9 min de lecture
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Este não é um festival para os fracos de coração. O MOTELX, que todos os anos traz a Lisboa o melhor e o mais arrepiante que se faz a nível mundial em termos de cinema de terror, é uma semana cheia de sustos de todos os tipos e para todos os gostos.

Já que falamos de sustos, o filme a sair do festival com o galardão mais badalado - o Meliès d'Argent, que premeia o melhor filme europeu e dá acesso à competição dos Meliès d'Or em Sitges - está cheio deles. Oddity chega-nos da Irlanda pela mão de Damian McCarthy e é apresentado como "um deleite para quem gosta de jump scares", um filme que "nos sobe pela espinha com os seus silêncios, sombras e reviravoltas".

O júri, na atribuição do prémio, considerou que Oddity é "uma história envolvente, contada com estilo, bons efeitos práticos e novos níveis de suspense, realizado num registo sombrio e provocador". "Adorámos também o anterior filme do realizador (Caveat) e estamos realmente ansiosos para ver que novo material ele escolherá no futuro", concluiu o júri.

Irlanda em foco

Mas a contribuição da Irlanda para as escolhas deste ano não ficou por aqui e o país trouxe-nos também Fréwaka ("Raízes"), da realizadora Aislinn Clarke.

Aqui, não estamos tanto no terreno dos sustos, mas mais do terror psicológico e dos medos interiores. É um filme sobre luto e solidão, em que as lendas e tradições da Irlanda profunda têm um papel central.

O filme tem a particularidade de ser quase todo falado em gaélico irlandês, algo que diz muito à realizadora e argumentista, que esteve presente em Lisboa e conversou com a Euronews Culture: "Toda a minha educação foi feita em gaélico irlandês, o meu pai falava irlandês em casa. Nunca antes houve um filme de terror falado em irlandês, e eu cresci a ver filmes de terror. Tendo em conta como as nossas histórias são obscuras e a nossa História é traumática, é espantoso que nunca tenha havido um filme de terror em irlandês. Por isso, quando os produtores me propuseram fazer este filme em irlandês, aceitei sem pestanejar", conta.

Aislinn Clarke em entrevista à Euronews
Aislinn Clarke em entrevista à Euronews Euronews

"Há muito trauma e muita dor na história irlandesa. O filme é sobre isso, sobre os nossos traumas partilhados", conclui.

Há muito trauma e muita dor na história irlandesa. O filme é sobre isso.
Aislinn Clarke
Realizadora de "Fréwaka"

De volta ao lote dos premiados, Meat Puppet, de Eros V (Reino Unido) venceu o Meliès d'Argent para melhor curta-metragem e O Procedimento, de Chico Noras, uma história de humor negro sobre eutanásia, leva o prémio MOTELX de melhor curta-metragem de terror portuguesa, que a organização considera o mais importante do certame e é dotado de um prémio monetário de 5000 euros.

Mas não podemos falar dos premiados deste festival sem referir The Substance, o filme que fez sensação em Cannes e promete ser um dos grandes filmes desta rentrée para os fãs de terror, com estreia agendada para este início de outono nos principais mercados.

Um filme em que a carne humana é a matéria principal (dos planos muito generosos dos corpos de Demi Moore e Margaret Qualley à orgia de sangue e monstruosidade que vai crescendo até à apoteose), esta fábula sobre o mito da eterna juventude é um misto de comédia negra e body horror, com assinatura da francesa Coralie Fargeat. O filme, que foi apresentado fora de competição, venceu o Prémio do Público.

MOTELX chega à maioridade

Foi em 2007 que este festival, dirigido por Pedro Souto e João Monteiro, começou a assustar os lisboetas. Com a edição número 18, o festival chega à maioridade com uma maturidade acrescida, tanto em termos de presença e adesão do público, como em filmes presentes: "Foi e continua a ser uma grande aventura", diz Pedro Souto. "Começámos com um festival muito mais reduzido. Neste momento temos uma semana inteira, com cerca de 80 sessões e mais de 100 filmes. Ao longo destes anos, tivemos muitos filmes portugueses, e isso dá-me muito contentamento. As pessoas vêm aqui e veem que o terror português existe", conclui.

As pessoas vêm aqui e veem que o terror português existe.
Pedro Souto
Diretor do MOTELX

O cinema português aqui apresentado passa não só pelas 10 curtas-metragens candidatas ao prémio de melhor curta portuguesa e pelas oito a concurso ao lado das curtas internacionais, como também por raridades e curiosidades como O Velho e a Espada, primeira longa-metragem de Fábio Powers, que chega aqui depois da estreia mundial no festival Fantasia, de Montréal.

Filme assumidamente de "Série B" feito com um orçamento baixíssimo, efeitos especiais dignos de Nollywood, muito humor e sobretudo muito desenrascanço, O Velho e a Espada é, simultaneamente, uma homenagem de Fábio Powers a uma figura da aldeia onde passa férias (que assume o papel de protagonista no filme) e a produções japonesas como Kamen Rider, com que cresceu: "A produção foi caótica, ninguém sabia o que estava a fazer, só eu tinha a estrutura do filme na minha cabeça", conta à Euronews. A presença deste filme no festival prova que há aqui terror para todos os gostos.

Claramente um exemplo de aposta ganha, João Monteiro define assim o MOTELX: "Mais do que um sucesso de público, o que eu queria destacar é que este é um festival com ambiente e é isso que atrai as pessoas. Todos os anos há pessoas que vêm aqui pela primeira vez e descobrem que, afinal, o terror é o seu género favorito".

Filmes tão arrepiantes que fazem os espetadores desmaiar?: "Nos primeiros anos tivemos alguns casos de pessoas a sentirem-se mal, mas isso aconteceu, em grande parte, porque as salas não tinham ar condicionado", brinca Pedro Souto. Por isso, se quiser marcar presença na edição de 2025, pode vir à vontade, que todas as salas do cinema São Jorge estão agora devidamente climatizadas e não acreditamos que vá desmaiar... mas não garantimos que não dê alguns saltos na cadeira.