Número de mortos em megaoperação contra gangue no Rio de Janeiro sobe para 121
Considerada a maior ação policial da história do país, as autoridades informaram ter levado a cabo uma megaoperação com agentes de várias forças policiais, em helicópteros, com forças especiais em veículos blindados (BOPE), que teve como alvo o Comando Vermelho nas favelas do Complexo do Alemão e da Penha.
No último balanço das autoridades, realizado na tarde de quarta, os tiroteios no local fizeram 121 mortos, entre eles quatro agentes da política e 117 suspeitos de narcotráfico.
Segundo explica a imprensa brasileira, moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, afirmaram ter encontrado pelo menos 74 corpos. Já delegado da Polícia Civil, Felipe Curi disse esta tarde que foram encontrados 63 corpos naquele local.
De acordo com o último balanço da polícia um total de 113 pessoas foram detidas e toneladas de droga apreendidas.
Já a Defensoria Pública do Rio de Janeiro fala em 132 mortes, 128 civis e quatro da polícia.
Imagens nas redes sociais mostraram fogo e fumo a subir das duas favelas enquanto se ouviam tiros. O Departamento de Educação da cidade informou que 46 escolas, nos dois bairros, foram fechadas. Ao passo que a Universidade Federal do Rio de Janeiro, nas proximidades, cancelou as aulas noturnas e informou as pessoas que estavam no campus que deviam procurar abrigo.
Claudio Castro, governador do estado do Rio, disse que a operação foi a maior da história da cidade e que o governo federal deveria fornecer mais apoio para combater o crime.
Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SESP) e o governo do Rio de Janeiro, o objetivo principal era combater a expansão territorial do Comando Vermelho (CV) e cumprir 100 mandados de prisão contra integrantes e lideranças criminosas daquela organização criminosa.
A ação coordenada na terça-feira foi resultado de um ano de investigação sobre o grupo criminoso, informou a polícia. As autoridades deixaram ainda um aviso, na rede social X, aos responsáveis pela morte dos agentes no contexto desta intervenção: "Os ataques cobardes dos criminosos contra os nossos agentes não ficarão impunes".
A operação foi uma das mais violentas da história recente do Brasil, com as organizações de direitos humanos a pedirem investigações sobre as mortes.
Qual foi o motivo da operação?
Surgido nas prisões do Rio de Janeiro, o gangue criminoso Comando Vermelho expandiu o seu controlo sobre as favelas nos últimos anos.
O gangue é acusado de tráfico de drogas pesadas, e a polícia do Rio informou que dezenas de armas, e mais de 200 kg de cocaína, foram encontrados durante a operação.
Embora a operação policial de terça-feira tenha sido semelhante às anteriores, a sua escala foi sem precedentes, disse Luis Flavio Sapori, sociólogo e especialista em segurança pública da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.
"O que é diferente na operação de hoje é a magnitude [do número] de vítimas. São números de guerra", destacou.
Segundo Sapori, este tipo de operações é ineficaz porque não costuma resultar na detenção dos líderes, mas sim dos subordinados, que podem ser substituídos posteriormente.
De acordo com a imprensa local, alguns alegados membros de gangues bloquearam estradas no norte e sudeste do Rio em resposta à operação.
Pelo menos 70 autocarros foram utilizados nos bloqueios, causando danos significativos na operação rodoviária, informou a empresa de autocarros da cidade, a Rio Onibus.
Grupos de direitos humanos condenam a violência
Entretanto, o organismo de defesa dos direitos humanos das Nações Unidas declarou-se "horrorizado" com a operação policial mortal, apelou a investigações eficazes e recordou às autoridades as suas obrigações ao abrigo do direito internacional em matéria de direitos humanos.
César Muñoz, diretor da Human Rights Watch no Brasil, apelidou os acontecimentos de terça-feira de "uma enorme tragédia" e um "desastre".
"O Ministério Público deve iniciar as suas próprias investigações e esclarecer as circunstâncias de cada morte", disse Muñoz, em comunicado.
O Rio de Janeiro tem sido palco de ataques policiais letais há décadas. Em março de 2005, cerca de 29 pessoas foram mortas na Baixada Fluminense, ao passo que, em maio de 2021, 28 foram mortas na favela do Jacarezinho.
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