Putin ameaça Ucrânia e Europa com instalação de mísseis hipersónicos na Bielorrússia

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou na sexta-feira que Moscovo iniciou a produção dos seus mais recentes mísseis hipersónicos e reafirmou os planos de os instalar na Bielorrússia ainda este ano, representando uma ameaça para a vizinha Ucrânia.
Sentado ao lado do presidente da Bielorrússia, Aleksandr Lukashenko, na ilha de Valaam, perto de São Petersburgo, Putin disse que os militares já selecionaram locais de instalação na Bielorrússia para o míssil balístico de alcance intermédio Oreshnik.
"Os trabalhos preparatórios estão em curso e, muito provavelmente, estarão concluídos antes do final do ano", disse Putin, acrescentando que a primeira série de Oreshniks e respetivos sistemas foram produzidos e entraram em serviço militar.
A Rússia utilizou pela primeira vez o Oreshnik, que em russo significa avelaneira, contra a Ucrânia em novembro, quando disparou a arma experimental contra uma fábrica em Dnipro que construía mísseis quando a Ucrânia fazia parte da União Soviética.
Esse ataque provocou explosões que, segundo consta, duraram até três horas, mas não houve vítimas mortais.
Os meios de comunicação social estatais russos elogiaram o Oreshnik após o ataque a Dnipro e, num aviso ao Ocidente, afirmaram que demoraria apenas 11 minutos a chegar a uma base aérea na Polónia e 17 minutos a chegar à sede da NATO em Bruxelas.
Putin também elogiou as capacidades do Oreshnik, afirmando que as suas múltiplas ogivas, que atingem o alvo a velocidades até Mach 10, são imunes à interceção e são tão poderosas que a utilização de várias delas num ataque convencional pode ser tão devastadora como um ataque nuclear.
No entanto, os peritos sublinharam que as capacidades reais do míssil ainda não foram comprovadas e podem ser exageradas para fins de propaganda.
Em junho, segundo relatos, o Oreshnik sofreu um lançamento falhado, com imagens não verificadas que mostram a sua queda sobre o Cazaquistão, o que levou as autoridades de Astana a investigar o sucedido.
Ameaça ao Ocidente
O presidente russo avisou o Ocidente de que Moscovo poderia usar a sua força contra os aliados ucranianos da NATO se estes permitissem que Kiev usasse os seus mísseis de longo alcance para atacar dentro da Rússia.
O chefe das forças de mísseis da Rússia declarou que o Oreshnik, que pode transportar ogivas convencionais ou nucleares, tem um alcance que lhe permite atingir toda a Europa.
Os mísseis de alcance intermédio podem voar entre 500 e 5.500 quilómetros. Estas armas foram proibidas ao abrigo de um tratado da era soviética que Washington e Moscovo abandonaram em 2019.
No outono passado, Putin e Lukashenko assinaram um tratado que dá o que Moscovo disse serem "garantias de segurança" à Bielorrússia, incluindo a possível utilização de armas nucleares russas.
O pacto surge na sequência da revisão pelo Kremlin da sua doutrina nuclear, que pela primeira vez colocou a Bielorrússia sob o seu guarda-chuva nuclear, perante as tensões com o Ocidente devido à guerra que a Rússia está a travar na Ucrânia.
Lukashenko, que governa a Bielorrússia há mais de 30 anos e tem contado com subsídios e apoio do Kremlin, permitiu que a Rússia utilizasse o território do seu país para enviar tropas para a Ucrânia no lançamento da invasão em grande escala no início de 2022 e para acolher algumas das suas armas nucleares táticas.
A Rússia não revelou quantas dessas armas foram instaladas, mas Lukashenko disse em dezembro que o seu país tem atualmente várias dezenas.
O envio de armas nucleares táticas para a Bielorrússia, que tem uma fronteira de 1.084 quilómetros com a Ucrânia, permitirá que os aviões e mísseis russos atinjam alvos potenciais mais fácil e rapidamente se Moscovo decidir utilizá-los.
Também aumenta a capacidade da Rússia de atingir vários aliados da NATO na Europa Central e Oriental.
A doutrina nuclear renovada que Putin assinou no ano passado reduziu formalmente o limiar para a utilização de armas nucleares pela Rússia.
O documento diz que Moscovo pode utilizar armas nucleares "em resposta à utilização de armas nucleares e de outros tipos de armas de destruição maciça" contra a Rússia ou os seus aliados, bem como "em caso de agressão" contra a Rússia e a Bielorrússia com armas convencionais que ameacem "a sua soberania e/ou integridade territorial".
Today