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Verificação de factos: a Ucrânia já perdeu 1,7 milhões de soldados na guerra?

• Aug 27, 2025, 4:29 PM
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As alegações infundadas, feitas pela primeira vez por grupos "hacktivistas" russos, de que 1,7 milhões de soldados ucranianos morreram, ou desapareceram, desde o início da invasão russa tornaram-se virais na Internet.

Mas as alegações não são apoiadas por qualquer prova credível e independente, e os especialistas alertam para o facto de a campanha ter sinais de desinformação coordenada por grupos pró-Kremlin.

Os rumores infundados surgiram pela primeira vez no canal de telegrama pró-russo Mash, e foram depois amplificados por utilizadores das redes sociais alinhados com o Kremlin, bem como por meios de comunicação social russos patrocinados pelo Estado, incluindo o Russia Today, o Pravda e RIA Novosti.

As publicações nas redes sociais incluem desinformação sobre o número de baixas ucranianas desde o início da invasão russa.
As publicações nas redes sociais incluem desinformação sobre o número de baixas ucranianas desde o início da invasão russa. Euronews 2025

A mensagem original do Telegram afirma que piratas informáticos russos de grupos como o Killnet obtiveram acesso à base de dados do Estado-Maior General das Forças Armadas da Ucrânia.

A Killnet é mais conhecida pelos ataques de negação de serviço distribuído (DDoS) dirigidos a instituições ocidentais.

A publicação no Telegram inclui capturas de ecrã do que parecem ser registos militares e identificações de soldados, que alegadamente provam que cerca de 1,7 milhões de soldados ucranianos foram mortos ou desapareceram desde que a Rússia lançou a sua invasão em fevereiro de 2022.

Os analistas confirmam que provavelmente o grupo teve acesso a documentos confidenciais, mas que o número de 1,7 milhões não é verdadeiro.

Petro Andryushchenko, chefe do Centro para o Estudo da Ocupação, com sede em Mariupol, explicou no Telegram que, embora a alegação seja "flagrantemente falsa", o grupo de hackers está a utilizar os documentos para "legitimar a mentira."

Andryushchenko também acredita que a campanha está ligada à desinformação anteriormente analisada pela Euronews, alegando que o governo ucraniano se recusava a aceitar mil soldados ucranianos capturados como parte de um acordo de libertação de prisioneiros. "Tudo isto se enquadra num ataque direcionado à moral", afirmou.

O Centro de Combate à Desinformação da Ucrânia descreveu as alegações como "uma falsificação absolutamente absurda", acrescentando que a Ucrânia nunca teve um exército regular de 1,7 milhões de pessoas. "Em janeiro de 2025, segundo as palavras do presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, o tamanho do exército ucraniano era de 880 mil pessoas", esclarece.

O que sabemos sobre o número estimado de baixas ucranianas e russas?

Não existem provas credíveis e independentes que sugiram que as forças armadas ucranianas tenham sofrido tantas baixas como 1,7 milhões desde o início da invasão, que já vai no seu quarto ano. Todas as estimativas credíveis são, de facto, muito inferiores.

Nem a Ucrânia nem a Rússia registam o número de perdas no campo de batalha, embora a Ucrânia tenha recentemente divulgado os seus números estimados.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy estimou, em fevereiro deste ano, que 46 mil soldados ucranianos tinham sido mortos e mais de 390 mil feridos desde o início da guerra.

Zelenskyy já tinha contestado os relatos dos meios de comunicação social segundo os quais o número de soldados ucranianos mortos poderia ascender a 80 mil.

Também indicou que é difícil saber quantos perderam a vida no campo de batalha e quantos foram capturados como prisioneiros de guerra.

Em junho, o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais apresentou estimativas ainda mais elevadas, entre 60 mil e 100 mil soldados ucranianos mortos e um total de 400 mil baixas.

O mesmo Centro estima que tenham sido mortos 250 mil soldados russos.

Dados de fonte aberta analisados pela Mediazona e pelo serviço russo da BBC colocam o número de soldados russos mortos significativamente mais baixo, entre 121 mil e 165 mil.

Estas estimativas refutam claramente a alegação de 1,7 milhões de soldados, divulgada pelos propagandistas.