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1.000 dias de invasão da Ucrânia: esta guerra não é só de Putin?

• Nov 20, 2024, 12:58 AM
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Mil dias após o início da guerra na Ucrânia, a raiva dos ucranianos contra os russos está a aumentar e muitos acreditam que estes não estão a fazer o suficiente para travar a guerra.

Yulia Navalnaya, Ilya Yashin e Vladimir Kara-Murza, ativistas da oposição russa, organizaram uma marcha contra a guerra em Berlim para assinalar a ocasião, mas os participantes tinham sentimentos contraditórios.

"Os russos e os companheiros de Putin não são a mesma coisa", diz Sergei, um russo que veio à marcha anti-guerra para mostrar o seu protesto contra a guerra na Ucrânia. Segundo ele, esta é a guerra de Putin e não a dos russos.

"A propaganda do Kremlin está a tentar fazer tudo para associar toda a nação a esta organização terrorista que tomou o poder no país", diz Sergei.

Está convencido: "Não se trata de nacionalidades, de todo. Vladimir Putin e os seus bandidos estão a tentar fazer disto um conflito nacional de todas as formas possíveis. Mas, na realidade, trata-se apenas de uma organização terrorista, ele é apenas um bandido e nada mais".

"É absolutamente injustificável. Uma guerra que já vai no seu terceiro ano e ainda há pessoas a morrer. É uma carnificina. É óbvio", diz Sergei.

No entanto, muitos ucranianos dizem que é errado culpar apenas o presidente russo Vladimir Putin e consideram que existe uma responsabilidade coletiva da população russa pela guerra.

Lidia, que é originária da Ucrânia, inicialmente não queria vir à marcha contra a guerra organizada por ativistas da oposição russa, mas o marido convenceu-a.

"Se as pessoas são contra a guerra, eu apoio", diz. No entanto, na sua opinião, os russos devem assumir a responsabilidade pela guerra, que Lidia diz não terem conseguido evitar.

"Dizem que não se trata de uma culpa coletiva. Como é que não é coletiva? São tantos. Podiam ter derrubado o regime, mas não saíram para a rua. Não fizeram nada", disse Lidia.

Manifestantes carregam bandeiras russas

Durante a marcha, as pessoas apareceram com diferentes bandeiras. Alguns cobriram-se com bandeiras ucranianas, outros trouxeram bandeiras brancas e azuis, simbolizando a oposição à invasão russa da Ucrânia.

No entanto, algumas pessoas vieram para os protestos com a bandeira nacional da Federação Russa. Enquanto alguns russos dizem que se recusam a entregar a sua bandeira nacional a Putin, a bandeira é, para muitos ucranianos, um sinal de puro terror.

"Não gosto mesmo nada da bandeira tricolor", diz Lidia. "Posso dizer, inequivocamente, que o tricolor se destruiu a si próprio. Vir a esta marcha com o tricolor era como usar a bandeira de Hitler, era completamente errado. Não se pode sair com uma bandeira fascista", explica Lidia.

"Se lhes era tão cara, os russos deviam tê-la defendido desde 2022".

'A nossa guerra não é a nossa'

Durante a marcha, um grupo de ucranianos reuniu-se em frente à embaixada russa. Criticam a falta de responsabilidade da comunidade russa.

Halina, uma refugiada ucraniana a viver na Alemanha, não acredita que a guerra seja apenas culpa de Putin. Está zangada porque não vê qualquer sinal de apoio por parte da comunidade russa.

"Organizámos a nossa manifestação contra os liberalistas russos, que não estão aqui a fazer nada. Não estão a apoiar os ucranianos de forma alguma. Hoje sinto-me muito, muito zangada com os russos e com o seu desejo de se desligarem de Putin, apesar de também serem responsáveis pela guerra na Ucrânia", considera Halina.

"Vivendo na Alemanha há dois anos, esta é a primeira vez que vejo russos a marchar contra a 'guerra de Putin', apesar de ser a guerra deles", afirma.

"Não é a nossa guerra" é um argumento comum que os líderes da oposição repetem. No entanto, o ativista russo Vladimir Kara-Murza, que passou dois anos e meio numa prisão russa por se opor à guerra na Ucrânia, diz estar orgulhoso do movimento de resistência na Rússia.

"Estou orgulhoso do facto de tantos dos nossos concidadãos russos se terem manifestado publicamente contra a guerra de agressão na Ucrânia desde fevereiro de 2022", afirma Kara-Murza.

"Muitos à custa da sua liberdade pessoal. Atualmente, temos um número recorde de presos políticos. Há mais presos políticos na Rússia do que em toda a União Soviética em meados da década de 1980. E a categoria de presos políticos russos que está a crescer mais rapidamente é a dos cidadãos russos que se manifestaram publicamente contra a guerra de agressão de Putin na Ucrânia. E este facto deixa-me orgulhoso", afirmou o ativista da oposição.

"Não nos esqueçamos que tudo começou na primavera de 2014. E há quase três anos, começaram uma invasão em grande escala, o maior conflito militar na Europa desde o fim da Segunda Guerra Mundial", diz Kara-Murza.

"E durante todo este tempo, a propaganda do Kremlin está a tentar fingir que todos os russos apoiam esta guerra de agressão, que todos os russos apoiam este regime, que todos os russos apoiam a operação imperialista de Putin. Como prova disso, manipularam os resultados das eleições", afirma.

Para Kara-Murza, a marcha anti-guerra é uma prova genuína de que os russos se opõem à guerra. "Podem falsificar as eleições e os números das sondagens de opinião que quiserem. Mas não se pode fingir o que estamos a ver aqui hoje. É apenas um mar de rostos humanos, de russos, de cidadãos russos que vêm aqui dizer 'esta guerra não é nossa'.

A marcha pela paz contra a guerra na Ucrânia pode ter sido o primeiro passo coletivo dado pela comunidade russa no sentido de um protesto ativo contra a guerra na Ucrânia. No entanto, muitos ucranianos concordam que não se pode ficar por aqui. É preciso fazer mais.