CGTP fala em mais de três milhões em greve, Governo diz que "esmagadora maioria" do país trabalhou
A greve geral desta quinta-feira, dia 11 de dezembro, convocada pelos sindicatos contra o novo pacote laboral do Governo, parou o país, com os efeitos a serem sentidos em setores como o dos transportes, educação e saúde. A CGTP estima que mais de três milhões de pessoas aderiram à paralisação.
Milhares de alunos ficaram esta manhã sem aulas, sobretudo pela ausência de auxiliares. A greve encerrou escolas por todo o país e esta sexta-feira o cenário pode repetir-se com mais uma greve na função pública.
Não há para já números fechados, mas a Federação Nacional dos Professores estima que haja "cerca de 85% de escolas encerradas e as restantes a funcionar parcialmente", cita o Jornal Económico.
A greve geral está também a ter impacto no setor da aviação, já que há várias centenas de voos cancelados nos aeroportos nacionais. Destaca-se o Aeroporto de Lisboa, onde há mais de uma centena de voos cancelados (entre chegadas e partidas).
No Porto, o impacto também é visível, com dezenas de partidas canceladas no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, de acordo com a informação disponibilizada no site da ANA - Aeroportos de Portugal.
Em Faro, muitos passageiros também foram desviados para o aeroporto de Sevilha, em Espanha, devido ao cancelamento de alguns voos.
Dezenas de serviços de recolha do lixo estão encerrados, nomeadamente os das câmaras municipais de Viana do Castelo, Lisboa, Moita, Palmela, Setúbal, Amadora e Évora.
Na capital, são muitos os bairros com contentores de lixo cheios à porta dos prédios que não foram recolhidos durante a madrugada.
Nos transportes, há várias perturbações. Dos 13 comboios de longo curso da CP, que estão incluídos nos serviços mínimos desta quarta-feira, apenas dois fazem a ligação Porto Campanhã - Lisboa Santa Apolónia e vice-versa.
Já nos comboios urbanos de Lisboa, dos 638 que estavam programados, apenas 193 estão a circular.
Também no Porto há vários constrangimentos na circulação dos comboios urbanos. Dos 284 que estavam programados, apenas 86 estão em circulação.
A adesão também é de 100% nos Transportes Coletivos do Barreiro, nas oficinas da Carris e no Metropolitano de Lisboa, que se encontra totalmente encerrado.
No que toca à Saúde, os principais hospitais públicos do país estão quase todos com uma adesão à grevel geral desta quinta-feira acima dos 90%. Os dados são da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais.
Em Lisboa, a Maternidade Alfredo da Costa está com 100% de adesão, o Hospital Santa Maria conta com 90%, Hospital S. José está com 98%, o mesmo valor do Hospital Dona Estefânia.
No Porto, o Hospital S. João tem uma adesão à greve de 95%, já o Hospital de Gaia conta com 90%. O Hospital de Braga, por sua vez, tem uma adesão de 90% à greve.
O Hospital de Chaves tem 90% de adesão, enquanto a Unidade Local de Saúde Dão-Lafões tem 95% de adesão à greve, o mesmo valor do Hospital São Teotónio, em Viseu. Já o Hospital São Sebastião, em Santa Maria da Feira, tem uma adesão de 90%.
A maior exceção é a Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, que conta só com 59% de adesão.
A tarde também ficou marcada pela manifestação conjunta da CGTP e UGT que arrancou desde o Largo de São Domingos, no Rossio, com destino à Assembleia da República.
Desacatos frente à Assembleia da República terminam com seis detidos
Ao final da tarde, e já depois do fim da manifestação pacífica das centrais sindicais, um grupo de cerca de 200 a 300 pessoas mantiveram-se frente ao edifício da Assembleia da República, concentrando-se junto à escadaria, onde a PSP instalou grades para impedir a passagem dos manifestantes.
Os protestos subiram de tom quando alguns elementos do grupo começaram a incendiar caixotes do lixo e a atirar garrafas de vidro para as escadas, levando a que a polícia de choque atirasse bombas de fumo para dispersar os manifestantes. Um homem chegou mesmo a subir a escadaria da Assembleia da República, tendo sido intercetado pelas autoridades.
Perante a insistência dos manifestantes em incendiarem caixotes do lixo e continuarem a atirar objetos para a escadaria, a força da PSP acabou por intervir para fazer dispersar os poucos elementos que ali permaneciam já perto das 21:00. Segundo os meios de comunicação social no local, pelo menos uma ambulância foi mobilizada e seis pessoas foram detidas, de acordo com um balanço das autoridades.
Governo desvaloriza adesão à greve
Apesar dos números divulgados pela CGTP, o ministro da Presidência, António Leitão Amaro, considerou que o nível de adesão é "inexpressivo", ao contrário do que dizem os sindicatos.
"Esta parece mais uma greve parcial da Função Pública. A esmagadora maioria do país está a trabalhar. A adesão à greve é inexpressiva", disse o ministro da Presidência, numa conferência de imprensa de balanço da greve, em Lisboa.
"Respeitamos quem faz greve, mas notamos que o país escolheu trabalhar", acrescentou ainda Leitão Amaro, sublinhando que "se algumas pessoas não conseguiram trabalhar foi pelas perturbações nos transportes".
No final da reunião do Conselho de Ministros, o primeiro ministro fez eco das palavras de Leitão Amaro, repetindo que "uma parte largamente maioritária [da população] está a trabalhar". "Nós também estamos a trabalhar", acrescentou, dizendo ainda que o país manteve a "normalidade".