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Precisamos de melhorar a democracia, diz Lech Wałęsa

• Mar 20, 2025, 5:01 PM
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Lech Wałęsa, antigo Presidente da Polónia e figura-chave na luta pela democracia no país, reconheceu, numa entrevista exclusiva à Euronews, que foram cometidos erros geracionais, mas que começam a surgir soluções. Apesar de ter estado fora do poder durante quase três décadas, Wałęsa continua profundamente ligado às realidades políticas da Polónia e do mundo. Nos últimos anos, a defesa da democracia tornou-se uma das principais preocupações do antigo líder.

"Vejam o que está a acontecer hoje no mundo — Trump, França, Alemanha. Que conclusão deve a nossa geração tirar? Temos de melhorar a democracia porque as pessoas já não acreditam nela nem a defendem", sublinhou Wałęsa.

O antigo presidente considera que os funcionários eleitos devem estar sujeitos a revogação e que o financiamento dos partidos políticos e dos políticos deve ser totalmente transparente. "Esta geração deve priorizar estes três pontos em todos os programas políticos. Só assim poderemos restaurar a confiança na democracia e assegurar a sua defesa. Caso contrário, os demagogos populistas incendiarão o nosso mundo", alertou Wałęsa.

Wałęsa manifestou preocupação com o atual estado da democracia, afirmando que muitos países ainda funcionam com sistemas políticos ultrapassados. Apelou ao desenvolvimento de novos sistemas que reflitam a evolução da paisagem mundial. "A construção do Estado que conhecemos terminou no final do século XX. A democracia, tal como a entendemos, terminou no final do século XIX. O que significa hoje a esquerda ou a direita? São conceitos ultrapassados que já não se adequam aos nossos tempos".

De acordo com Wałęsa, a tarefa da nova geração é redefinir o mundo e restabelecer a confiança na democracia. Sublinhou a necessidade de o discurso público e as novas ideias surgirem destas conversas.

Preocupações com o futuro da Ucrânia

Ao discutir o conflito em curso na Ucrânia, Wałęsa manifestou a sua preocupação com a possibilidade de um mau compromisso ser imposto a Kiev depois de ter concordado com os termos do cessar-fogo americano. "A Ucrânia está a defender-se da agressão russa, mas o que está a fazer é também uma escolha civilizacional. O que a Rússia e até Trump representam é a regressão — um passo atrás no desenvolvimento", disse Wałęsa.

O Presidente do Parlamento Europeu também manifestou a sua opinião de que as negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia não são suficientes para provocar uma mudança duradoura. "Mesmo que ajudemos a Ucrânia a vencer hoje, a Rússia voltará a erguer-se daqui a dez ou quinze anos se não a ajudarmos a mudar o seu sistema político", avisou. Para Wałęsa, a chave para a estabilidade a longo prazo reside na construção de uma sociedade civil na Rússia.

Wałęsa também salientou que o Ocidente, por vezes, desempenhou um papel no impulsionamento da posição agressiva do Presidente russo Vladimir Putin. "Houve um momento em que Putin estava no bom caminho. Mas a forma como o mundo o tratou como um 'bandido' empurrou-o na direção errada", observou, acrescentando que as avaliações dos líderes mundiais devem ser moderadas. "Temos de ser cuidadosos com os nossos julgamentos e considerar primeiro o que nós próprios estamos a fazer."

O antigo presidente delineou três princípios que, na sua opinião, poderiam ajudar a estabilizar a vida política e a governação. Wałęsa defendeu que os políticos deveriam ser limitados a dois mandatos para evitar a concentração de poder. Traçando um paralelo com a Rússia, disse: "Não é Putin ou Estaline — é o sistema político que gera o autoritarismo. A Rússia é um país bonito, só tem um mau sistema político".

O perigo do desenvolvimento de armas e armamento

Em consonância com a sua crença em soluções pacíficas, Wałęsa criticou a corrida ao armamento, incluindo o desenvolvimento de armas nucleares, como um caminho que conduz a resultados destrutivos. Embora reconhecendo a necessidade de mecanismos de defesa eficazes, advertiu contra a tentação de atacar. "Se continuarmos por este caminho, todos perderemos. A única razão para nos defendermos é criar espaço para reflexão e mudanças sistémicas. Sem isso, não haverá vencedores. Todos nós seremos derrotados", concluiu Wałęsa.