Bruxelas desiste da marca "Rearmar Europa" após reações de Itália e Espanha

A Comissão Europeia confirmou que vai eliminar gradualmente a expressão "Rearmar a Europa" para descrever a sua iniciativa multimilionária para comprar armamento para a Europa, após a reação dos líderes de Itália e Espanha, que argumentam que o nome é excessivamente carregado e corre o risco de alienar os cidadãos.
De agora em diante, o plano para aumentar as capacidades de defesa e a produção em todo o bloco será conhecido como "Prontidão 2030", uma referência à data em que a Rússia poderia ter as capacidades necessárias para lançar um ataque contra um Estado membro da UE ou da NATO.
Entretanto, o programa específico para angariar e distribuir 150 mil milhões de euros em empréstimos a juros baixos para facilitar a aquisição de armas e munições avançadas será designado por "SAFE". Paralelamente, a Comissão propôs também a flexibilização das regras fiscais para mobilizar até 650 mil milhões de euros, num total de 800 mil milhões de euros.
"Somos sensíveis ao facto de o nome em si poder suscitar alguma sensibilidade em alguns Estados-Membros, por isso, é algo que, naturalmente, ouvimos", disse Paula Pinho, porta-voz principal da Comissão, na tarde de sexta-feira.
"Se isso dificultar a transmissão da mensagem a todos os cidadãos da UE sobre a necessidade de tomar estas medidas, estamos dispostos não só a ouvir, mas também a refletir essa sensibilidade na forma como comunicamos sobre o assunto".
O novo nome, "Readiness 2030", deve "ser visto no contexto de um âmbito mais alargado", explicou Pinho.
A mudança de marca teve lugar num período de tempo extremamente curto.
Quando Ursula von der Leyen apresentou o projeto de 800 mil milhões de euros, a 4 de março, utilizou apenas o termo "Rearm Europe" para o descrever. "Estamos numa era de rearmamento. E a Europa está pronta para aumentar maciçamente as suas despesas com a defesa", disse a presidente da Comissão.
Mas, no início desta semana, quando a Comissão apresentou os textos legais que sustentam o plano, a expressão mudou para "Plano Rearm Europe/Readiness 2030".
Antes da apresentação, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni tinha manifestado abertamente o seu desconforto com a palavra.
"Penso que 'Rearmar a Europa' é um nome enganador para os cidadãos, porque somos chamados a reforçar as nossas capacidades de defesa, mas hoje em dia isso não significa comprar armamento de forma trivial", disse Meloni ao Senado, na terça-feira.
Para Meloni, o foco deve ser mais amplo e abranger "a operacionalidade, os serviços essenciais, as infra-estruturas energéticas, as cadeias de abastecimento: tudo o que não se faz simplesmente com armas".
"Não existe defesa sem esta abordagem", afirmou Meloni.
O seu homólogo espanhol, Pedro Sánchez, não deixou dúvidas quanto à sua aversão ao termo durante uma cimeira de líderes da UE em Bruxelas, onde a defesa foi o tema principal. Tal como Meloni, o espanhol defendeu uma definição mais ampla, que inclua áreas como a cibersegurança, a luta contra o terrorismo, a computação quântica, a inteligência artificial e as ligações por satélite.
"Não gosto do termo 'rearmamento'. Penso que é uma abordagem incompleta. A defesa pode ser explicada sob um conceito muito mais amplo, que é a segurança", disse Sánchez na quinta-feira, acrescentando que as ameaças enfrentadas pelo Sul da Europa são "um pouco diferentes" das do Leste.
"Penso que temos de educar as pessoas para o facto de que, quando falamos de segurança e defesa, estamos fundamentalmente a falar de tecnologia, muitas vezes de bens de dupla utilização, porque os drones que podem ser utilizados em caso de conflito, como está a acontecer no leste da Ucrânia, também podem ser utilizados para combater incêndios florestais".
No final da cimeira, von der Leyen mostrou-se recetiva às críticas e deu a entender que está iminente uma reformulação da marca, que poderá deixar de lado a designação "Rearmar a Europa".
"A abordagem que estamos a adotar tem um âmbito muito mais vasto", disse, referindo-se à guerra eletrónica, à cibersegurança e às telecomunicações.
"Por isso, o nome 'Readiness 2030 (Prontidão 2030)'".
As queixas expressas pela Itália e pela Espanha suscitaram algumas dúvidas, uma vez que os dois países estão entre os mais atrasados da NATO, não conseguindo cumprir o objetivo de 2% de despesas com a defesa.
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