Doença de Parkinson: injeção semanal poderia acabar com a carga diária de comprimidos, dizem cientistas

Para muitas pessoas que vivem com a doença de Parkinson, o ritual diário de tomar vários comprimidos pode ser assustador. No entanto, uma nova descoberta de investigadores da Universidade do Sul da Austrália pode aliviar este fardo e, potencialmente, mudar para sempre a forma como a doença é tratada.
Após mais de dois anos de investigação, os cientistas desenvolveram uma injeção de ação prolongada, oferecendo esperança aos doentes que atualmente enfrentam a exaustiva tarefa de tomar vários comprimidos várias vezes ao dia.
Segundo a Parkinson's Foundation, a doença afeta mais de 10 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo os homens 1,5 vezes mais propensos a serem diagnosticados do que as mulheres. Trata-se da segunda doença neurodegenerativa mais comum, a seguir à doença de Alzheimer.
Para as pessoas que vivem com Parkinson, o tratamento padrão envolve a toma diária de medicamentos que devem ser tomados exatamente à hora prevista.
"Especialmente no que diz respeito aos doentes idosos, estes têm de se lembrar de tomar cada medicação atempadamente", afirma Deepa Nakmode, investigadora da Universidade do Sul da Austrália.
"Mesmo que falhem uma única dose, não conseguem realizar as atividades do dia a dia normalmente".
E falhar doses é alarmantemente comum.
"Quase 50% dos doentes não tomam os medicamentos recomendados pelos médicos, especialmente no caso de doenças crónicas", afirmou Sanjay Garg, professor de ciências farmacêuticas na Universidade do Sul da Austrália.
Fator de mudança
A nova injeção combina dois medicamentos essenciais (Levodopa e Carbidopa) numa dose injetável que liberta lentamente a medicação ao longo de sete dias.
"Uma injeção será suficiente para uma semana, em comparação com um doente que toma três ou quatro comprimidos todos os dias", afirmou Garg.
Estes medicamentos são principalmente utilizados para gerir os sintomas da doença de Parkinson, que normalmente incluem tremores, rigidez muscular e lentidão dos movimentos. Os doentes podem também ter problemas de equilíbrio, o que aumenta o risco de quedas.
Embora a nova injeção ainda não tenha sido submetida a ensaios clínicos em seres humanos, os investigadores planeiam iniciar testes em animais nos próximos meses.
Para pessoas como Peter Willis, a quem foi diagnosticada a doença de Parkinson há 10 anos e que atualmente toma medicação quatro vezes por dia, esta descoberta pode mudar a vida.
"Se não se tomar o comprimido a horas, percebe-se que não se consegue andar", disse. "Perde-se a energia, como se ficasse sem combustível. Voltamos a tomar o comprimido e a energia recupera."
A Parkinson's Australia saudou este desenvolvimento como um grande avanço, sobretudo tendo em conta o ritmo lento de progresso no que se refere à inovação do tratamento nos últimos anos.
"Reduzirá o risco de quedas e permitirá que as pessoas participem ativamente na vida quotidiana, por exemplo, no trabalho, no desporto e no voluntariado", afirmou Olivia Nassaris, diretora-geral da Parkinson's Australia.
"Vai ser um divisor de águas", acrescentou.
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