Aumento das IST entre os idosos: peritos alertam para a saúde sexual na terceira idade

As infeções sexualmente transmissíveis (IST) não são um problema exclusivo dos jovens.
Os jovens adultos na faixa etária dos 20 e 30 anos estão normalmente no topo da lista das IST bacterianas comuns, como a gonorreia, a clamídia e a sífilis, mas as taxas entre as pessoas de meia-idade e mais velhas estão a aumentar em algumas regiões da Europa.
De acordo com um relatório de 2024 da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido, registou-se um "aumento constante" nos diagnósticos de IST entre pessoas com 65 anos ou mais nos últimos anos.
Em 2023, foram diagnosticados 1 649 casos de gonorreia, clamídia e sífilis entre os britânicos mais velhos, contra 576 em 2014 - um aumento de quase três vezes.
Em França, entretanto, a incidência de gonorreia e sífilis aumentou mais acentuadamente em pessoas com mais de 50 anos do que em adultos mais jovens entre 2021 e 2023. A clamídia também aumentou entre os homens com mais de 50 anos, de acordo com a agência de saúde pública francesa.
Na Dinamarca, os homens com 50 anos ou mais registaram alguns dos maiores aumentos de casos de gonorreia entre 2022 e 2023.
E em toda a União Europeia, as pessoas com 45 anos ou mais representaram 32% de todos os casos de sífilis em 2023.
Infeções como a gonorreia, a clamídia e a sífilis são IST bacterianas que podem ser curadas com antibióticos, ao contrário do herpes e do VIH, que são infeções virais para toda a vida, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Porque é que os casos de IST estão a aumentar entre os adultos mais velhos?
O aumento não parece estar a abrandar. De acordo com um estudo da Universidade de Manchester, no Reino Unido, prevê-se que o número de diagnósticos de IST continue a aumentar entre os idosos em Inglaterra até, pelo menos, 2040.
Os autores do estudo afirmam que não é claro o que está a impulsionar esta tendência, mas que o envelhecimento da população e o número crescente de diagnósticos podem traduzir-se num aumento dos custos de tratamento das IST nos próximos anos.
Outros peritos afirmam que, como as mulheres vivem mais tempo do que os homens, podem procurar novos parceiros mais tarde na vida.
Entretanto, os medicamentos para o desempenho sexual, como o Viagra, deram a alguns homens mais velhos a oportunidade de voltarem a ter relações sexuais mais tarde.
Os adultos mais velhos podem também ter poucos conhecimentos sobre a forma como os diferentes tipos de IST são transmitidos ou sobre a forma de evitar a sua propagação, especialmente porque estão a salvo do risco de gravidezes indesejadas, concluiu um pequeno estudo.
O estigma das IST nos idosos
Os especialistas afirmam que tanto os profissionais de saúde como o público em geral devem ter em conta as necessidades de saúde sexual das pessoas idosas.
"Existe um equívoco comum de que os adultos mais velhos não têm relações sexuais, não querem ter relações sexuais ou não podem ter relações sexuais", afirmou Matthew Smith, professor de saúde dos adultos mais velhos na Universidade Texas A&M, nos Estados Unidos.
"E, infelizmente, essas ideias erradas podem levar à falta de comunicação, à falta de falar com os prestadores de cuidados de saúde, à falta de falar com os parceiros sobre práticas sexuais mais seguras, como a utilização de preservativos ou a partilha de parceiros", acrescentou.
Quer sejam viúvos, divorciados ou estejam simplesmente à procura de companhia, Smith disse que os adultos mais velhos devem perguntar aos potenciais novos parceiros sobre a sua história sexual, a utilização de contracetivos e os testes de IST - tópicos que, segundo ele, "não são necessariamente uma rotina entre os adultos mais velhos".
Smith afirma que os médicos também devem discutir a saúde sexual com os seus pacientes, uma vez que "somos seres sexuais ao longo da vida".
"É algo que, muitas vezes, é evitado numa conversa", afirmou. "Há um pouco de estigma com base na idade, em que nem toda a gente gosta de imaginar esse grupo etário a ter estes comportamentos".
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