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NATO explora nova tecnologia de defesa contra drones na guerra entre a Ucrânia e a Rússia

• Sep 23, 2024, 12:12 AM
12 min de lecture
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Dois drones rodeiam um camião militar, obrigando dois soldados a fugir. Entretanto, chega um terceiro drone que faz com que os outros dois se despenhem numa montanha de fumo.

Trata-se de um exercício militar da NATO contra drones, realizado nos Países Baixos. Na vida real, os soldados teriam sido mortos antes de o terceiro drone aparecer. O exercício serve para testar mais recente tecnologia anti-drone.

O exercício de quinta-feira ocorreu no mesmo dia em que o presidente russo, Vladimir Putin, terá dito que iria aumentar a produção de drones para quase 1,4 milhões este ano, na tentativa de conquistar a Ucrânia.

É um "jogo do gato e do rato, aquele soco e contra-soco medido em dias, por isso, a tecnologia tem de se atualizar", disse Matt Roper, responsável pela área da inteligência, vigilância e reconhecimento do Departamento de Tecnologia e Cibernética da NATO.

"A Rússia demonstrou ser um adversário capaz no domínio da guerra eletrónica", acrescentou à Euronews Next.

Um drone num exercício militar da NATO, a 19 de setembro de 2024.
Um drone num exercício militar da NATO, a 19 de setembro de 2024. NATO

"Aprendemos e experimentámos muito ao observar o que está a acontecer na Ucrânia e estamos a adaptar-nos em conformidade", continuou.

Mais de 50 tecnologias de combate a drones foram apresentadas no exercício anual da NATO, que contou com a presença de mais de 19 países membros da NATO, bem como, pela primeira vez, da Ucrânia.

"O maior problema para a luta da Ucrânia atualmente são os drones", disse Yaroslav, do Centro de Inovação do Ministério da Defesa da Ucrânia, que não quis dar o apelido.

Caixa de Pandora

"Estão constantemente no céu, monitorizam o nosso território ao longo da linha da frente, a cerca de 20 km de profundidade", disse à Euronews Next.

"Dão-nos muitos problemas. A nossa artilharia não pode funcionar porque, se for imediatamente detetada, um míssil é dirigido para lá, o que é um grande problema".

Yaroslav disse ainda que a maior ameaça são os drones ISR (Intelligence, Surveillance and Reconnaissance), que são utilizados para vigilância.

Se alguém decidir atacar alvos na Europa com esses drones FPV, seria extremamente difícil defendê-los
Yaroslav
Centro de Inovação do Ministério da Defesa da Ucrânia

Quando esteve perto da linha da frente, para testar a tecnologia ucraniana, Yaroslav verificou que os drones ISR não podem ser vistos ou ouvidos.

"Operam a altitudes bastante elevadas, entre 1 a 5 km, e podem estar a uma grande distância do dispositivo de interferência. Não é assim tão fácil interferir", disse, referindo-se à capacidade de interferir contra drones.

Para ultrapassar este problema, a Ucrânia está a estudar outras opções, sobretudo drones que consigam atingir e destruir os drones ISR.

O outro tipo de aparelho que está a causar preocupação à NATO e a outros países é o drone de visão na primeira pessoa (FPV). Os FPV são mais baratos, são controlados por pilotos em terra e estão cheios de explosivos.

Na quarta-feira, a Ucrânia utilizou muitos destes drones para provocar uma grande explosão num arsenal na região russa de Tver.

Os FPV são fabricados com "equipamento comum, peças sobresselentes comuns, o que os torna muito difíceis de controlar. Além disso, há uma variedade tão grande destes drones que é muito difícil bloqueá-los a todos", afirmou Yaroslav.

Um tanque num exercício militar da NATO, a 19 de setembro de 2024.
Um tanque num exercício militar da NATO, a 19 de setembro de 2024. NATO

"A caixa de Pandora já está aberta. Não é possível voltar a fechá-la", avisou.

"Se alguém decidir realmente atacar alguns alvos na Europa com esses drones FPV, seria extremamente difícil defendê-los. Não quero usar a palavra impossível, mas quase impossível."

"Seria possível abater vários destes drones, mas não todos. Portanto, é uma ameaça enorme. Temos de estar conscientes disso. Precisamos de estar preparados", concluiu Yaroslav.

"Utilização irresponsável"

Um potencial ataque à Europa é uma preocupação crescente, na sequência de relatos de que a Rússia violou o espaço aéreo da NATO.

No início deste mês, pelo menos um drone russo Shahed caiu na Roménia, perto da fronteira com a Ucrânia. O presidente da Letónia também disse que um drone militar caiu na parte oriental do país.

"Sabemos que a Rússia está a avançar para a utilização contínua de drones na Ucrânia e arredores. Sabemos que representam uma verdadeira fonte de risco e uma ameaça à soberania", afirmou Matt Roper.

"E sabemos que tem havido uma série de acontecimentos que têm preocupado os países nas zonas fronteiriças, com fragmentos de armas e drones a cair dentro das suas fronteiras soberanas."

"A NATO tem uma opinião muito negativa sobre isto e considera que a utilização destes sistemas pela Rússia é irresponsável, tendo passado essa mensagem de forma muito clara", acrescentou o especialista da NATO.

Ponto de transição

Roper disse ainda que "estamos num ponto de transição", com a passagem da investigação e desenvolvimento para as capacidades operacionais.

Algumas dessas capacidades foram demonstradas no exercício da NATO.

Uma das tecnologias em exposição pode escutar um drone, decidir pirateá-lo durante o voo, desligar o drone do piloto, reprogramá-lo e assumir o controlo para o pilotar noutro local.

Atualmente, esta tecnologia é utilizada em 27 países em todo o mundo, em grandes exércitos e em forças especiais.

"Nada é fácil controlar uma aeronave contra a vontade do piloto em tempo real, fora de uma fábrica ou sem ser em condições laboratoriais", disse Simon Foreman, diretor de operações da empresa D-Fend Solutions.

"Esta é realmente uma tecnologia de ponta e há drones codificados de forma mais desafiante com que temos de lidar. Mas a cibernética é isto mesmo", disse ele.

O momento que vai mudar tudo

Outra tecnologia em exposição é a utilização de inteligência artificial para ajudar a identificar e diferenciar diferentes tipos de drones.

A empresa escocesa Quell AI ainda não lançou oficialmente a tecnologia, mas o diretor de operações, Bobby Hamilton, afirmou que é necessária para a defesa contra drones e para a proteção de fronteiras contra possíveis invasões.

Exercício militar da NATO, a 19 de setembro de 2024.
Exercício militar da NATO, a 19 de setembro de 2024. NATO

"Os nossos modelos são treinados para a identificação, mas também para ajudar a manter o rasto dos alvos", disse Hamilton à Euronews Next.

A inteligência artificial nos drones é o "próximo horizonte tecnológico" para a NATO, disse Matt Roper, em relação à forma como é incorporada nos drones e como se vai opor a outros que também usem esta tecnologia.

Por um lado, a inteligência artificial pode ser utilizada para fins de defesa, de forma a identificar mais facilmente os drones. Por outro lado, a inteligência artificial, a aprendizagem automática e a visão por computador também podem ser utilizadas nos drones para apontar bombas e explosivos para um determinado local.

"A forma como lidamos com as ameaças muda quando sabemos que existe um nível muito sofisticado de inteligência artificial no drone do adversário", conclui Roper.