Trabalhadores italianos do setor automóvel fazem protesto histórico
Dezenas de milhares de trabalhadores do setor automóvel desfilaram pelas ruas de Roma, agitando bandeiras sindicais e carregando cartazes, num protesto contra as condições de trabalho na indústria automóvel.
Os três principais sindicatos do setor em Itália pediram ao governo que protegesse o emprego e ajudasse a garantir o futuro da indústria automóvel em Itália.
"Estamos a trabalhar um ou dois dias por semana, quando tudo corre bem. Por isso, o que estamos a dizer hoje é que a transição (ecológica) não pode ser paga exclusivamente pelos trabalhadores", disse Riccardo Falcetta, funcionário do sindicato dos metalúrgicos UIL de Bari.
A incerteza em torno dos possíveis planos futuros do fabricante mundial de automóveis, Stellantis, está no centro da atual ação de greve.
O quarto maior fabricante de automóveis do mundo está sob pressão para esclarecer os seus futuros planos de produção, uma vez que enfrenta uma concorrência crescente e dificuldades financeiras.
O governo de extrema-direita italiano acusou a empresa de deslocalizar fábricas de montagem para países de baixo custo.
De acordo com os dados de produção dos primeiros nove meses do sindicato, a Federação Italiana de Metalomecânica, a produção da Stellantis caiu 40% em 2024 em comparação com o ano passado.
"Para atingir o objetivo estabelecido pelo governo de 1 milhão de veículos em 2030, o Grupo Stellantis teria de duplicar a produção", refere o relatório.
Turbulência em torno da Stellantis
O grupo multinacional, criado em 2021 a partir da fusão da Fiat-Chrysler e da PSA Peugeot, registou uma forte queda na produção na maioria das suas fábricas italianas no primeiro semestre de 2024. Nos últimos 17 anos, o fabricante de automóveis reduziu a sua produção italiana em quase 70%.
O Presidente do Conselho de Administração, Carlos Tavares, culpou recentemente as regras da UE em matéria de emissões de carbono pelo aumento dos custos de produção, sugerindo que o grupo poderá ser forçado a encerrar algumas fábricas de montagem para fazer face à concorrência da China. Disse ainda que "não podia excluir" a redução de postos de trabalho, reiterando a necessidade de mais incentivos estatais para estimular a procura de automóveis elétricos.
A Stellantis, que fabrica veículos Jeep e Chrysler, tem estado no centro das atenções após um aviso de lucros em que disse que esperava terminar o ano com uma perda de até 10 mil milhões de euros (11.2 mil milhões de dólares).
A empresa anunciou esta semana que iria suspender a produção do Fiat Panda em novembro. A decisão seguiu-se a uma semelhante tomada há um mês relativamente ao Fiat 500 elétrico.
Entretanto, as fábricas francesas do grupo automóvel também enfrentam incertezas. No entanto, todas elas terão um plano de produção trienal em meados de novembro, segundo a AFP.
O presidente do Conselho de Administração, Carlos Tavares, também tem sido alvo de críticas por parte dos concessionários norte-americanos e do sindicato United Auto Workers, devido a um desempenho financeiro desanimador este ano, depois de ter sido apanhado desprevenido por demasiados veículos de preço elevado nas salas de exposição dos concessionários.
Tem tentado reduzir os custos, adiando a abertura de fábricas, despedindo trabalhadores sindicalizados e oferecendo a compra de direitos aos trabalhadores assalariados.
O grupo anunciou em setembro que estava à procura de um sucessor para Tavares, de 66 anos, como parte de uma mudança de liderança planeada.
O contrato de cinco anos de Tavares estava a pouco mais de um ano da data de expiração, em 2026, mas a empresa deu a entender, na altura, que era possível que ele permanecesse no cargo por mais tempo.