Start-up francesa poderá transformar o seu carro a gasolina num híbrido elétrico
Uma empresa francesa está a trabalhar num novo kit de reequipamento que pode converter o seu veículo antigo num veículo híbrido elétrico em apenas um dia.
Os trabalhadores da Solution F, uma empresa automóvel subsidiária da Green Corp Konnection (GCK), um grupo de empresas que afirma estar a liderar a transição francesa para a energia verde, apresentaram o seu projeto no Salão Automóvel de Paris na semana passada.
O kit Twin-E permite que os automóveis circulem até 50 km/h em "modo totalmente elétrico", passando depois a uma potência híbrida se ultrapassarem essa velocidade.
Para tal, a empresa instala um motor elétrico de 48V juntamente com um conjunto de engrenagens planetárias, que substitui a antiga caixa de velocidades manual do automóvel. Em seguida, é adicionada uma bateria recarregável na zona da bagageira do automóvel.
É também instalado um pequeno motor elétrico junto ao motor de combustão interna (ICE) original, que utiliza a energia da bateria para fazer funcionar o automóvel em modo totalmente elétrico.
"Uma oferta de cortesia" para os novos veículos elétricos
O governo francês define o reequipamento de um automóvel como a conversão do seu motor térmico, a gasolina ou a gasóleo, num motor elétrico para lhe dar uma segunda vida.
"Constitui uma oferta complementar aos novos veículos elétricos, cujo preço de compra continua a ser elevado para uma grande parte da população", escreveu o governo francês na sua página web.
O kit Twin-E ainda não está disponível, mas o diretor do programa GCK, Eric Planchais, disse que deverá estar pronto em meados de 2025 e deverá custar cerca de 8 500 euros, ou 4 000 euros se for coberto por um subsídio do governo francês.
De acordo com o Observatório Europeu dos Combustíveis Alternativos, o preço médio de um veículo elétrico na Europa é de cerca de 46 000 euros.
A França legalizou estas readaptações elétricas em abril de 2020, dando início a uma concorrência entre a GCK e outras empresas europeias para satisfazer o mercado.
O Grupo Renault, um dos maiores fabricantes de automóveis franceses, anunciou uma parceria com a Tolv, um especialista em reequipamento em França, para converter mais de mil carrinhas Renault Master entre 2024 e 2025.
A Rev Mobilities, outra start-up de Paris, reequipou carros antigos como um Fiat 500 de 1957 com peças elétricas.
"É preciso fazer contas"
O esplendor da readaptação também está a acontecer na sequência da legislação da UE aprovada em 2023, que tem como meta que os veículos elétricos representem cerca de 80% de todas as novas vendas de sedans e SUVs até 2030 e 100% até 2035 para cumprir os objetivos climáticos.
Nem todos os especialistas do setor automóvel estão convencidos de que a adaptação é a solução para atingir os objetivos da UE.
Para Patrick Poincelet, presidente da empresa de reciclagem Mobilans, o reequipamento é uma solução de "nicho" para alguns veículos, mas não para todos.
Isto porque o custo da adaptação ultrapassa por vezes o valor do veículo mais antigo, à medida que este se aproxima do fim da sua vida útil média de 20 anos, afirmou Poincelet.
"Para obter um equilíbrio económico, é preciso fazer contas", acrescentou.
Cléa Martinent, diretora de desenvolvimento sustentável da Renault, afirmou que o grupo está a apoiar as empresas em fase de arranque que trabalham na questão da readaptação, mas que o modelo económico ainda não está pronto.
"Podemos dizer, um pouco ingenuamente, que mudar um motor significa que tudo ficará bem, mas, na realidade, se quisermos realmente reequipar um veículo, teremos de dedicar muito tempo a isso", disse Martinent.
Isso porque, continuou, seria necessário alterar toda a configuração do automóvel, porque "não se pode colocar uma bateria onde antes existia um motor".
Expansão noutros mercados
De volta ao Salão Automóvel de Paris, Planchais disse que o kit Twin-E foi construído tendo em conta um motor Renault 1.5, que considera ser o mais comum em carros franceses. Também pode ser usado com carros Stellantis, ou seja, qualquer carro produzido pela Peugeot ou Citroen.
O kit pode ser utilizado na maioria dos veículos franceses mais antigos produzidos até cerca de 2006.
Planchais afirmou que, durante os testes regulamentares, estão a tentar verificar se o kit funciona noutros modelos fora de França.