Este festival sobreviveu ao comunismo, continua a ser contracultura e atrai multidões

As origens do Festival Jarocin remontam a 1970, quando começou como Wielkopolskie Rytmy Młodych (Wielkopolska Rhythms of the Young) - um concurso de música regional para promover bandas de rock amadoras.

Realizado na pequena cidade de Jarocin, o festival rapidamente ganhou popularidade, atraindo jovens de toda a Polónia.

Em 1980, o festival ado«tou o nome de Festival in Jarocin e evoluiu para uma plataforma de música alternativa e underground.

O festival ganhou um estatuto único no Bloco de Leste. Ao contrário da maioria dos países comunistas, onde a música rock era reprimida, o Jarocin tornou-se um espaço oficialmente tolerado (embora vigiado de perto). Era um dos poucos sítios onde as bandas podiam exprimir-se livremente a nível artístico e dar vazão às suas frustrações em relação ao autoritarismo, à censura e às normas sociais do regime comunista repressivo.

Nos anos 80, o Jarocin foi um fenómeno musical e sociopolítico, oferecendo uma voz subversiva à juventude polaca durante e após a lei marcial.

Tornou-se um terreno fértil para ícones do punk e do rock polacos, como Dezerter, Kult e Armia.

Com a queda do comunismo em 1989, o Jarocin entrou num período de transformação. O papel original do festival - como santuário da liberdade de expressão num regime repressivo - deixou de ser tão necessário.

A década de 1990 trouxe uma maior comercialização da cultura polaca e o Jarocin esforçou-se por se redefinir numa sociedade mais aberta e orientada para o mercado.

O festival conheceu um renascimento na década de 2000, alimentado por uma nostalgia crescente dos anos 80 e por um interesse renovado pela música alternativa.

Atualmente, o festival é organizado pela agência Good Taste Production, de Poznan, que tem sob a sua alçada festivais como o NEXT FEST, o SALT WAVE BY PORSCHE e o BITTERSWEET Festival.

Edgar Hein, o porta-voz do festival, fala-nos da lenda que rodeia Jarocin.

"Esta é uma lenda absoluta. Um festival que remonta a 1970, um festival em que começaram as carreiras das maiores bandas polacas, e não apenas as de rock. Foi aqui que teve lugar uma espécie de revolução social, pode dizer-se, porque as subculturas dos anos 80 e 90 vieram aqui para encontrar um lugar para se expressarem. Tentamos sempre dar um toque à história do festival, por isso o 40.º aniversário de Darek Malejonek, da banda Hunter ou dos Kobranocka".

Falamos com um dos artistas que atuaram nas primeiras edições do festival Jarocin, que celebra 40 anos em palco com Darek Malejonek "Maleo".

"Em 84, viemos a Jarocin para o concurso com a banda "Israel" e "Culture". Conseguimos qualificar-nos para o grande palco e esse foi o início da minha atividade artística que continua até hoje."

"Hoje é um festival comercial, mas o meu coração bate sempre mais forte neste sítio, porque foi aqui que tudo começou".

O artista conta-nos como este festival contracultural ficou sob a lupa dos agentes secretos dos Serviços de Segurança.

"Havia muitos agentes dos Serviços de Segurança e havia pessoas diferentes, estranhas, em trajes civis, que por vezes até provocavam motins. A televisão estava a filmar um desses motins e, nesse momento, estavam a desonrar aos olhos da nação esses punks sujos, os metaleiros".

"Esses tempos comunistas são agora apenas uma memória, mas foram suficientemente difíceis para nos darem a força necessária para enfrentar todos os tempos."

Concurso para jovens bandas continua a ser muito importante

Falámos com os membros dos Wirefall que se qualificaram para atuar no pequeno palco.

"Tocamos muito alternativo, penso eu, esse tipo de metal alternativo, new metal".

Os jovens artistas notaram que muitas bandas aqui tocam música pesada e alternativa e, no entanto, o festival tem um ambiente familiar.

"Há muitas crianças, por exemplo, Mateusz e Konrad leem poemas Tuwim para as crianças como parte do festival", disse ele.

"No próximo festival de Jarocin, quando tocarmos, levarei de certeza a minha família."

Não é só música

O Jarocin de hoje combina nostalgia e modernidade. Presta homenagem à sua herança e apresenta artistas contemporâneos do punk, do rock, do indie e do hip-hop.

Apesar da modernização, o Jarocin mantém uma ligação às suas raízes, apoiando músicos independentes e vozes alternativas, permanecendo um símbolo da rebelião juvenil e da liberdade artística na Polónia.

Não é apenas uma celebração da música, mas também um arquivo vivo das mudanças sociopolíticas polacas, refletindo a mudança de identidades, valores e expressões artísticas ao longo das gerações.

É considerado parte do património cultural da Polónia, com documentários, exposições e estudos académicos dedicados à sua história.

De um encontro subversivo de jovens nos tempos do comunismo a um festival de música dinâmico na Polónia democrática, a evolução do Jarocin espelha a trajetória histórica do país.