Papa Francisco apela à investigação de um possível genocídio em Gaza num novo livro
Num livro publicado hoje, o Papa Francisco aborda pela primeira vez as acusações de genocídio relacionadas com as operações militares de Israel em Gaza, embora não as subscreva explicitamente.
O livro, "A esperança nunca desilude: Peregrinos para um mundo melhor", é da autoria do jornalista Hernán Reyes Alcaide e baseia-se em entrevistas com o Papa. Os primeiros excertos do livro foram publicados no diário italiano La Stampa e foi hoje publicado em Itália, Espanha e América Latina. Em Portugal ainda não há data prevista para a publicação.
A obra é publicada antes da celebração do Jubileu, que começa a 24 de dezembro e decorre durante 2025, quando se estima que cerca de 30 milhões de fiéis católicos vão em peregrinação a Roma.
O livro menciona a crise humanitária em Gaza e apela para uma invetigação cuidadosa.
O Papa afirma que o que está a acontecer em Gaza tem as caraterísticas de um genocídio. Diz ainda que esta questão deve ser estudada cuidadosamente para determinar se "se enquadra na definição técnica formulada por juristas e organismos internacionais".
O pontífice de 87 anos faz referência ao extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, ao "genocídio" dos arménios durante o Império Otomano, dos tutsis no Ruanda e dos cristãos no Médio Oriente.
É a primeira vez que utiliza publicamente o termo "genocídio" relativamente às operações militares israelitas no território palestiniano, embora não o adopte na íntegra.
Francisco apela regularmente à libertação de todos os reféns israelitas nos seus discursos públicos.
No dia 14 de novembro, o Papa encontrou-se com um grupo de 16 antigos reféns libertados após meses de cativeiro em Gaza.
Nesse mesmo dia, um comité especial das Nações Unidas publicou um relatório que afirma que os métodos de guerra utilizados por Israel "têm as caraterísticas de um genocídio".
No novo livro, o Papa Francisco fala também das migrações, do problema da integração dos migrantes nos países de acolhimento e de como as pessoas se estão a tornar desumanas face aos problemas actuais.
"Perante este desafio, nenhum país pode ser deixado sozinho e ninguém pode pensar em abordar a questão isoladamente através de leis mais restritivas e repressivas, por vezes aprovadas sob a pressão do medo ou em busca de vantagens eleitorais", disse.
"Pelo contrário, assim como vemos que há uma globalização da indiferença, devemos responder com a globalização da caridade e da cooperação, para que as condições dos emigrantes sejam humanizadas", acrescentou.
O Papa referiu ainda que a "ferida ainda aberta da guerra levou milhares de pessoas a abandonar as suas casas, sobretudo nos primeiros meses do conflito".
"A esperança nunca desilude: Peregrinos para um mundo melhor", editado por Hernán Reyes Alcaide (Edições Piemme), sai hoje em Itália, Espanha e América Latina, e seguir-se-á noutros países.