Mundo rendido ao Pastel de Belém, mas portugueses ainda discutem: onde se faz a melhor "nata"?

O famoso Pastel de Belém voltou a ser considerado, na mais recente listagem do guia Taste Altas, o melhor doce do mundo. Não é a primeira vez que isso acontece, já que, por exemplo, também no ano passado, aquela que é tida como uma das principais maravilhas gastronómicas nacionais foi merecedora da mesma distinção.

Em causa estão, como recorda o guia, apenas “os pastéis de nata produzidos na Fábrica Pastéis de Belém”, em Lisboa, já que apenas estes “podem ser chamados de pastel de Belém” na verdadeira essência da expressão.

Na análise agora publicada, o doce conventual português conquistou uma pontuação de 4,59 estrelas, igual à do segundo classificado: a trigona panoramatos, um doce tradicional grego.

E, a fechar o pódio, Portugal volta a estar representado pelos já anteriormente referidos pastéis de nata, ou seja, todos aqueles que sejam “produzidos por outras pastelarias em Lisboa” que não a Fábrica Pastéis de Belém. A iguaria angariou 4,51 estrelas nos prémios 2025/2026 do Taste Altas.

Mas, afinal, que doce é este**? Que ingredientes são necessários para a confeção deste doce tão único?** E, havendo tanta oferta deste produto, um pouco por todo o país, onde podem ser provados os melhores pastéis de nata nacionais? Questões a que a Euronews pretende ajudar a responder neste artigo.

A receita “mágica”

Na última edição do guia, são desvendados alguns dossegredos por trás do fabrico do pastel de nata. Os ingredientes necessários? Farinha, açúcar, leite, manteiga, canela, ovos e sal. Tão simples quanto isso – ou pelo menos parece.

Como conta a “lenda”, aqui recuperada pelo Taste Atlas, originalmente, esta iguaria começou por ser “confecionada antes do século XVIII por monges e freiras católicos em Santa Maria de Belém, em Lisboa”. Mais concretamente, no Mosteiro dos Jerónimos.

A tarte, nessa altura, “era feita com sobras de gemas de ovo que eram usadas na clarificação de vinhos e na engomagem de roupas”. O sabor inconfundível motivou, depois, os clérigos a fazerem “um acordo com uma padaria próxima para começar a vender o pastel de nata comercialmente”, numa iniciativa que seria “um grande sucesso” de vendas.

No entanto, como faz também questão de lembrar o guia, a receita do original pastel de Belém “é mantida em segredo”. Embora a Fábrica Pastéis de Belém revele, no seu site, que “tudo começa na escolha criteriosa dos ingredientes que são confecionados através de processos artesanais”, seguindo “uma antiga receita do Mosteiro dos Jerónimos que diariamente renasce” no seu espaço “pelos mesmos processos artesanais”. A receita, eternamente secreta, “mantém-se igual até aos dias de hoje”.

E onde se pode comer o melhor pastel de nata?

Essa questão, porém, não tem uma resposta fácil. Aliás, o tema tem sido alvo de intenso debate, e até controvérsia, ao longo dos últimos anos. Mas apesar de não haver uma única forma de solucionar esta “equação gastronómica”, existem alguns indicadores que podem ajudar-nos, pelo menos, a elencar algumas pastelarias que se têm destacado pela qualidade do seu pastel de nata.

É evidente que a Fábrica Pastéis de Belém, que desde 1837 tem vindo a materializar, diariamente, a “antiga receita do Mosteiro dos Jerónimos” que ainda hoje faz as delícias de cidadãos portugueses e estrangeiros, não pode ser esquecida. Mas, uma vez mais, e como recorda o guia Taste Altas, um pastel de Belém e um pastel de nata não são bem a mesma coisa…

Nesta última categoria, importa destacar que, no passado mês de outubro, a vencedora da última edição do concurso “O Melhor Pastel de Nata” foi vencida pela Pastelaria Aloma, que conta com vários espaços na capital do país e que conseguiu, dessa forma, repetir a proeza do ano anterior. Em segundo e terceiro lugar, respetivamente, ficaram os estabelecimentos Pãozinho das Marias e Confeitaria Glória. Em causa uma prova que apenas aceita candidatos com fabrico próprio e local de venda na Área Metropolitana de Lisboa.

Porém, com locais de venda em Lisboa, Porto e arredores, marcas como a Manteigaria e a Fábrica da Nata têm também vindo a atribuir um espaço de destaque aos seus pastéis de nata, bastante apreciados por muitos e frequentemente citados em guias que elencam as melhores casas para provar este doce tradicional.

Na Invicta, os leitores da New in Porto foram convidados, em finais de 2022, a eleger o melhor pastel de nata da cidade. O pódio, na altura, ficou definido da seguinte forma: Nata Lisboa (28,50% dos votos), Manteigaria (20,86%) e, finalmente, o Natas D’Ouro (19,27%).

E o que diz a Inteligência Artificial sobre o tema?

Questionado sobre “onde é confecionado o melhor pastel de nata” em território nacional, o ChatGPT respondeu imediatamente: “Pastéis de Belém”. Isto pelo facto de, como explicámos há pouco, a fábrica ser “amplamente” tida como “o ‘berço’ ou o local de origem do que hoje chamamos de pastel de nata”. Ainda assim, a ferramenta nota que, apesar da “autenticidade histórica” desta criação, “não é unânime que seja o melhor” do país.

Pois isso, claro está, “depende muito do gosto pessoal”. Mas numa “lista de cinco pastelarias de topo em Portugal”, na ótica do ChatGPT, para provar a iguaria, juntam-se outros quatro. Três deles já anteriormente citados: a Pastelaria Aloma, pela sua recente distinção; a Manteigaria, devido à “massa folhada estaladiça e recheio cremoso” dos pastéis; e a Fábrica da Nata, ao representar um “bom equilíbrio entre tradição e conveniência”. Mas juntando-se um novo nome: a Castro - Atelier de Pastéis de Nata, que nasceu no Porto e é “frequentemente apontada como a melhor pastelaria da cidade” para provar um “pastel de nata”, embora já tenha chegado também a Lisboa, refere o chatbot.

Fazendo a mesma pergunta ao Gemini, e para além de todos os espaços já mencionados, faz-se ainda referência a outros dois: a Pastelaria Santo António, em Lisboa, na qualidade de vencedora de edições anteriores do concurso "O Melhor Pastel de Nata"; mas também a Confeitaria do Bolhão, no Porto, apresentada como uma “opção mais tradicional e histórica na cidade”.

No entanto, o melhor é mesmo ir provando, para tirar as suas próprias conclusões.