Rússia vai relançar rival do Festival Eurovisão da Canção da era soviética em Moscovo, sob as ordens de Putin
Depois de a Rússia ter sido proibida de participar na Eurovisão em 2022, na sequência da invasão da Ucrânia, o presidente Vladimir Putin ordenou o regresso do "Intervisão", um concurso de canto da era soviética que se realizou pela última vez há mais de 40 anos.
Na segunda-feira, 3 de fevereiro, o dirigente russo assinou um decreto que dá instruções aos responsáveis para realizarem o Festival da Canção Intervisão em Moscovo este ano, com o objetivo de "desenvolver a cooperação cultural e humanitária internacional".
Embora a Eurovisão se tenha tornado um espetáculo global e vistoso, celebrando a diversidade e a representação LGBTQ+ - o vencedor do ano passado, Nemo, da Suíça, foi o primeiro concorrente não binário a levar o troféu para casa - o novo Intervisão da Rússia terá um tom muito diferente e sóbrio.
Não esperem drag queens com barba, perucas escandalosas, fatos com lantejoulas ou bandeiras do orgulho. Os planos para o novo concurso sublinham o compromisso com "os valores tradicionais universais, espirituais e familiares", deixando claro que se trata de um contra-programa ideológico da Rússia para a extravagância pop que é a Eurovisão.
A senadora russa, Liliya Gumerova, disse aos meios de comunicação estatais que a Intervisão iria "promover a música verdadeira" e rejeitar "valores falsos que são estranhos a qualquer pessoa normal".
Breve história do Festival Intervisão da Canção
Lançado pelo antigo líder soviético Leonid Brejnev, o Festival Intervisão da Canção realizou-se na Checoslováquia (1965 a 1968) e mais tarde em Sopot, na Polónia (1977 a 1980), substituindo o Festival Internacional da Canção de Sopot durante esse período.
O formato era semelhante ao da Eurovisão: os países do Bloco de Leste ligados através da rede de televisão Intervisão podiam enviar um intérprete, e um júri escolhia o vencedor depois de assistir às atuações.
Apesar das suas claras implicações políticas, o concurso não estava completamente isolado do Ocidente. Países europeus como Países Baixos e Espanha enviavam ocasionalmente participações e, numa reviravolta surpreendente, a Finlândia - um país que manteve a neutralidade durante a Guerra Fria - ganhou o concurso final em 1980.
"Foi ao vivo e num maravilhoso teatro ao ar livre. E era muito grande, acho que 15.000 pessoas ou talvez até mais", recorda Marion Rung, a cantora finlandesa que ganhou venceu.
"Parecia-se muito com a Eurovisão. Era uma orquestra fantástica e um maestro fantástico", disse à Euronews a partir da sua casa em Helsínquia.
No entanto, o concurso foi cancelado em 1981 devido à turbulência política, particularmente com a ascensão do movimento Solidariedade(Solidarność), um sindicato independente que se opunha ao governo comunista no poder na Polónia, bem como à crescente agitação nos países do Pacto de Varsóvia.
Mas agora, mais de 40 anos depois, a Rússia está determinada a trazê-lo de volta.
Quem participará no Festival da Canção da Intervisão?
O Kremlin afirma que "quase 20 países" estão preparados para participar, incluindo todos os membros dos BRICS e da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). Entre eles estão a China, a Índia e o Brasil - nações que não participaram nas sanções ocidentais.
A Coreia do Norte, cujos soldados vieram em auxílio de Putin na guerra da Ucrânia, já participa no Festival da Canção da Ásia, pelo que não é claro se participará.
Putin já tentou ressuscitar a Intervisão antes. Em 2014, quando as autoridades russas lamentaram o que consideravam ser a "decadência moral" da Eurovisão após a vitória da drag queen austríaca Conchita Wurst, Moscovo anunciou planos para relançar o concurso em Sochi. Mas o projeto nunca se concretizou.
O concurso ressuscitado deverá agora realizar-se no outono, em Moscovo.
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