Capotamento de camião com ajuda humanitária mata 20 pessoas em Gaza

Vinte palestinianos morreram e dezenas ficaram feridos na madrugada desta quarta-feira, 6 de agosto, num trágico acidente ocorrido após um camião que transportava ajuda humanitária capotar sobre uma multidão de cidadãos que aguardavam para receber alimentos no centro da Faixa de Gaza.
O gabinete de imprensa de Gaza informou que o camião foi obrigado a seguir por uma estrada pouco segura, o que levou ao seu capotamento sobre a multidão que esperava pela ajuda humanitária. O comunicado indicou que, em alguns casos, essas estradas são impostas como resultado de "orientações de segurança israelitas", o que aumenta o risco de acidentes fatais em áreas densamente povoadas por civis.
O acidente acrescentou uma nova tragédia a uma série de acontecimentos sangrentos vividos pelos habitantes de Gaza, num contexto de crise humanitária sem precedentes, resultado do bloqueio contínuo e da escalada militar incessante.
Milhares de pessoas reúnem-se nos pontos de distribuição de ajuda
Gaza está a passar por uma grave onda de fome que leva milhares de pessoas a reunirem-se diariamente nos pontos de distribuição de ajuda humanitária, na esperança de obterem o mínimo necessário para sobreviver. Mas essas multidões, muitas vezes, tornam-se alvos diretos ou indiretos de atos de violência, ou são vítimas da confusão e da má organização da distribuição.
A Defesa Civil de Gaza informou, na terça-feira (5 de agosto), que 68 pessoas foram mortas por fogo e ataques israelitas, incluindo 56 que se tinham reunido perto de locais de distribuição de ajuda, principalmente em Khan Younis, no sul de Gaza, e em Zikim, no norte, por onde passam alguns dos carregamentos de ajuda humanitária autorizados pelo lado israelita.
Número de vítimas da desnutrição continua a aumentar
Também ontem, o Ministério da Saúde de Gaza anunciou que oito pessoas, incluindo uma criança, morreram em apenas 24 horas na sequência de complicações causadas pela subnutrição, elevando o número total de mortes relacionadas com a fome para 188, incluindo 94 crianças.
De acordo com relatórios médicos, a fome já não é uma ameaça futura, mas sim uma realidade mortal que ameaça a vida quotidiana dos civis, especialmente os grupos mais vulneráveis, como crianças, doentes e idosos.
Ajuda não é suficiente, avisa a ONU
Num relatório alarmante, o Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP) alertou para o facto de as mães e os recém-nascidos em Gaza estarem a ser "abandonados a um destino fatal", sublinhando que 43% das mulheres grávidas e lactantes sofrem de subnutrição grave e que um em cada sete recém-nascidos necessita de cuidados intensivos para sobreviver.
O relatório também destacou casos crescentes de desespero entre mães lactantes, que começaram a pedir leite artificial para os seus filhos por medo de que eles morressem antes de poderem continuar a amamentar.
O fundo estima que existam cerca de 55 mil mulheres grávidas em Gaza, muitas das quais não recebem qualquer tipo de assistência médica.
Expansão das operações pode agravar catástrofe, diz ONU
Numa reunião do Conselho de Segurança da ONU na terça-feira (5 de agosto), Miroslav Jenča, assistente do secretário-geral da ONU, alertou que a expansão das operações militares em Gaza pode levar a "consequências catastróficas" para milhões de palestinianos e colocar em risco a vida dos reféns que ainda permanecem no território.
Jenča sublinhou que o direito internacional considera que Gaza é parte integrante do futuro Estado palestiniano, salientando que "não existe uma solução militar para o conflito" e apelando à libertação imediata e incondicional de todos os reféns.
Lamentou também a persistência de fortes restrições à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, sublinhando que aquilo que é permitido não satisfaz as necessidades mínimas.
O responsável da ONU concluiu as suas advertências afirmando que a fome é "claramente visível nos rostos das crianças e nos olhos dos pais que arriscam a vida todos os dias por um pedaço de pão ou um pacote de leite", apelando a uma ação internacional imediata para evitar mais catástrofes.
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