Líderes mundiais criticam decisão de Israel de tomar a cidade de Gaza

Os líderes mundiais criticaram a decisão de Israel de tomar o controlo da cidade de Gaza, alertando para o risco de exacerbar a já catastrófica crise humanitária na Faixa de Gaza.
O gabinete de segurança israelita aprovou o controverso plano na sexta-feira, marcando uma nova escalada na guerra de quase dois anos contra o Hamas.
O anúncio do gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, foi feito após horas de debate entre os altos responsáveis pela segurança.
A decisão de se deslocar para a cidade de Gaza foi tomada à luz das anteriores sugestões de Netanyahu de que os militares iriam "assumir o controlo de toda a Faixa de Gaza", mas também da sua afirmação de que Israel não tinha intenção de ocupar a Faixa permanentemente.
O Governo português garantiu estar "profundamente preocupado" com a decisão israelita de ocupar Gaza, pedindo a suspensão desse plano e a aplicação de um cessar-fogo. A mensagem foi publicada na conta do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) na rede social X.
Para o executivo, a decisão do Governo de Benjamin Netanyahu "põe em causa os esforços para o cessar-fogo e agrava a tragédia humanitária" na Faixa de Gaza, onde vivem mais de dois milhões de palestinianos.
O plano, refere ainda o comunicado do ministério liderado por Paulo Rangel, "deve ser suspenso, dar lugar a um cessar-fogo, à libertação dos reféns e à entrada urgente de ajuda".
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, já reagiu condenando veementemente a ação. "A decisão de Israel de intensificar a sua ofensiva em Gaza é errada e instamo-lo a reconsiderar imediatamente."
"Esta ação não contribuirá em nada para pôr fim a este conflito ou para garantir a libertação dos reféns. Só trará mais derramamento de sangue", disse Starmer no comunicado.
"O que precisamos é de um cessar-fogo, um aumento da ajuda humanitária, a libertação de todos os reféns pelo Hamas e uma solução negociada", afirmou
Starmer acrescentou que o Hamas "não pode desempenhar qualquer papel no futuro de Gaza e deve sair e desarmar-se".
O Reino Unido é um dos países que está a trabalhar com os seus aliados numa estratégia de longo prazo para estabelecer a paz na região "como parte de uma solução de dois Estados..
A ministra finlandesa dos Negócios Estrangeiros, Elina Valtonen, fez eco destas preocupações, afirmando estar "extremamente preocupada" com o agravamento das condições humanitárias em Gaza.
"Esperamos um cessar-fogo imediato em Gaza e a libertação imediata dos reféns israelitas", afirmou.
Na Austrália, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Penny Wong, apelou a Israel para recuar, alertando que "a deslocação forçada permanente é uma violação do direito internacional".
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, criticou a medida, afirmando que "o plano do governo israelita para a tomada militar total da Faixa de Gaza ocupada deve ser imediatamente interrompido."
"É contrário à decisão do Tribunal Internacional de Justiça de que Israel deve pôr termo à sua ocupação o mais rapidamente possível, à concretização da solução acordada de dois Estados e ao direito dos palestinianos à autodeterminação", acrescentou.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comentou no início desta semana que a decisão era "realmente de Israel" e culpou o Hamas por atrasar as negociações. "Eles não queriam fazer um acordo", disse.
Declaração de um crime de guerra
As reações em Israel dividiram-se. O líder da oposição, Yair Lapid, denunciou na sua conta do X, que a decisão israelita " é um desastre que levará a muitos outros desastres e que ia contra o conselho da liderança militar.
"O plano é completamente contrário à posição das forças armadas e da instituição de defesa, sem ter em conta o esgotamento e a exaustão das tropas de combate", afirmou.
O chefe do Estado-Maior General, tenente-general Eyal Zamir, advertiu na quinta-feira que o plano colocaria em risco a vida dos reféns e sobrecarregaria ainda mais os militares.
Nos últimos dias, Zamir entrou repetidamente em conflito com o Gabinete de Segurança, nomeadamente por causa da proposta relativa a Gaza.
Netanyahu diz que "não quer governar" Gaza
Antes da sessão do gabinete de segurança de quinta-feira, Netanyahu negou que Israel tivesse intenções de controlar permanentemente Gaza na sua totalidade.
"Não queremos mantê-la. Queremos ter um perímetro de segurança", disse o líder israelita à Fox News. "Não queremos governá-la. Não queremos estar lá como um corpo governante".
Israel tenciona entregar a Faixa de Gaza a uma coligação de "forças árabes amigas" que a governará.
O anúncio surge no momento em que as organizações humanitárias continuam a alertar para as graves condições existentes em Gaza, onde a fome e as deslocações se multiplicam diariamente.
A atual guerra entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza deslocou quase toda a população da Faixa de Gaza, destruiu mais de 60% dos edifícios e das infraestruturas do enclave e colocou a maior parte dos seus 2 milhões de habitantes à beira da fome.
A guerra começou quando militantes liderados pelo Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1200 pessoas e fazendo 251 reféns.
Cinquenta reféns ainda estão detidos, embora se acredite que menos de metade deles estejam vivos.
A ofensiva subsequente de Israel resultou na morte de mais de 60 mil palestinianos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, gerido pelo Hamas, cujos números não distinguem entre combatentes e civis.
O exército israelita afirma que cerca de 900 dos seus soldados morreram desde o início da guerra.