Emirados Árabes Unidos avisam que anexação israelita da Cisjordânia ameaça integração regional

Os Emirados Árabes Unidos (EAU) alertaram, na quinta-feira, que qualquer movimentação de Israel para anexar a Cisjordânia ocupada seria uma "linha vermelha" para Abu Dhabi, sem entrar em detalhes adicionais ou especificar qualquer impacto potencial nos históricos Acordos de Abraão, assinados entre os dois países em 2020 para normalizar as relações.
O diplomata emiradense Anwar Gargash escreveu, numa publicação no X, que violar as perspetivas de uma solução de dois estados e avançar sobre a Cisjordânia ocupada "acabaria com a integração regional".
O seu comentário relaciona-se com a posição de outro oficial dos Emirados Árabes Unidos, Lana Nusseibah, que falou com meios de comunicação israelitas e emitiu um aviso semelhante, sugerindo que o destino dos "históricos" acordos estaria em questão.
"[A anexação] prejudicaria severamente a visão e o espírito dos Acordos de Abraão, acabaria com a busca pela integração regional e alteraria o consenso amplamente partilhado sobre qual deve ser a trajetória deste conflito: dois estados a viver lado a lado em paz, prosperidade e segurança", afirmou Nusseibeh.
Ainda não é claro que medidas Abu Dhabi tomaria, se é que adotaria alguma, no caso de uma anexação israelita, uma possibilidade apoiada por vários ministros extremistas do gabinete de Telavive.
Os EAU foram a força motriz por trás dos Acordos de Abraão, intermediados pelo presidente dos EUA, Donald Trump, no seu primeiro mandato, que também resultaram no estabelecimento de laços diplomáticos de Israel com o Bahrein e Marrocos.
Trump esperava que os Acordos se expandissem de modo a incluir a potência regional, a Arábia Saudita.
O ministro das Finanças israelita, de extrema-direita, Bezalel Smotrich, revelou um mapa numa conferência de imprensa na quarta-feira, que exibia a anexação de quatro quintos da Cisjordânia, com seis cidades palestinianas a ficarem com autonomia limitada.
Não é claro se o seu plano tem o apoio do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Os palestinianos e grande parte da comunidade internacional afirmam que a anexação praticamente acabaria com qualquer possibilidade remanescente de uma solução de dois estados, amplamente vista como a única forma de resolver o conflito que dura há décadas.
Israel continua a atacar Gaza
O aviso surgiu numa altura em que Israel avança com a sua mais recente ofensiva extensiva na cidade de Gaza, afetada pela fome, no norte do enclave. Os ataques israelitas continuaram na quarta-feira à noite, matando pelo menos 113 pessoas em 24 horas, de acordo com autoridades de saúde locais.
O Ministério da Saúde de Gaza disse, na sua última atualização na quarta-feira, que o número de mortos no território é atualmente de 63.746, desde que Israel lançou a sua ofensiva em Gaza há 23 meses.
Os números não fazem distinção entre civis e combatentes, embora as Nações Unidas afirmem que mais de dois terços das mortes que conseguiram verificar de forma independente eram de mulheres e crianças.
O Ministério também indicou que mais seis pessoas morreram na quarta-feira devido a causas relacionadas com a desnutrição, incluindo uma criança, enquanto Israel continua a restringir o fluxo de alimentos e bens essenciais para o enclave, exacerbando uma crise humanitária já grave.
Acrescentaram que as mortes relacionadas com a fome já subiram para 367, incluindo 131 crianças.
Israel tem estado sob crescente pressão global devido à sua conduta na guerra, após a incursão liderada pelo Hamas a 7 de outubro de 2023.
Grande parte da comunidade internacional acusa Netanyahu de provocar uma catástrofe humanitária na Faixa de Gaza e de usar alimentos e medicamentos como armas de guerra, o que constitui uma violação do direito internacional.
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