Conhecidos nomes e caras de onze vítimas do Elevador da Glória

Depois de confirmadas as nacionalidades das 16 vítimas mortais do acidente do Elevador da Glória em Lisboa na quarta-feira, os números vão começando a ter nomes e caras. O primeiro nome a ser divulgado, no próprio dia do acidente, foi o do guarda-freio do elevador, André Marques, de 40 anos, natural da localidade de Oleiros (Castelo Branco), onde foi sepultado este sábado, depois de uma cerimónia na Basílica da Estrela, em Lisboa. Marques trabalhava há 15 anos para a Carris e era descrito por todos como um trabalhador dedicado e amigo. Em 2023, a estação televisiva SIC fez-lhe uma entrevista.
Ao todo, cinco portugueses perderam a vida no desastre. Os restantes quatro eram todos funcionários ou colaboradores da Santa Casa da Misericórdia, cuja sede fica no Largo Trindade Coelho, no ponto de chegada (topo) do elevador. O Elevador da Glória é o meio de transporte privilegiado pelos muitos empregados da SCM para se deslocarem entre o local de trabalho e a estação de metro dos Restauradores, e estas quatro pessoas não foram exceção, acabando por encontrar a morte quando saíam do trabalho.
Pedro Trindade, 61 anos, além de trabalhar na Santa Casa era igualmente professor na Escola Superior de Hotelaria e Turismo e foi árbitro de voleibol, tendo sido também dirigente da Federação Portuguesa deste desporto.
Alda Matias (jurista), Ana Paula Lopes e Sandra Coelho (funcionárias), de idade desconhecida, trabalhavam igualmente para a instituição e morreram no acidente. Na sexta-feira, realizou-se em Lisboa uma missa pelas quatro vítimas mortais da SCM, com a presença do presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa.
Blandine Daux foi a única vítima francesa do desastre. Originária do departamento de Vosges, há mais de 20 anos que vivia no Québec, no Canadá. Daux e o marido, o canadiano André Bergeron (idades não reveladas), perderam ambos a vida na quarta-feira. Segundo a revista Paris-Match, a viagem a Lisboa foi o presente oferecido a Bergeron pelos colegas, por ocasião da sua reforma.
No acidente perdeu também a vida um casal britânico: Kayleigh Smith e Will Nelson estavam ambos ligados ao teatro. Ela (36 anos) era uma encenadora e atriz premiada e trabalhava para o teatro MADS, de Macclesfield, onde chegou a ter um cargo de direção. O companheiro, de 44 anos, era professor na Escola de Teatro Arden de Manchester.
Inicialmente, o corpo de Nelson foi identificado (de forma preliminar) como sendo de um cidadão alemão, pai de uma criança de três anos sobrevivente do desastre e cuja mulher está igualmente internada em estado grave. A história da família alemã foi amplamente noticiada pela imprensa portuguesa, tendo mais tarde o Instituto de Medicina Legal corrigido o erro e revelado que o homem estava, afinal, internado em estado grave. Os pais do homem em questão fizeram a viagem de Hamburgo até Lisboa para reconhecer o corpo, tendo revelado que se tratava de outra pessoa.
O casal tinha publicado, nas redes sociais, fotografias da viagem a Lisboa horas antes do desastre fatal.
Heather Hall, 52 anos, mãe de dois filhos, era professora na Universidade de Charleston, na Carolina do Sul (EUA), especializada na área do ensino especial. Estava em Lisboa para participar numa conferência.
Doutorada pela mesma universidade onde ensinava, Hall era uma entusiasta das viagens e mostra um perfil no Facebook repleto de fotos tiradas nos quatro cantos do mundo.
Segundo um comunicado da família citado pelo jornal New York Post, esta “filha, irmã, mãe, educadora e defensora de causas muito amada por todos morreu a fazer aquilo que fazia melhor: viver a vida em pleno, com ousadia e com o coração aberto ao mundo”.
Hall foi a única vítima dos EUA.
Por fim, sabe-se que morreu um homem de 42 anos chamado Aziz, com nacionalidade canadiana e marroquina, cuja mulher, com cerca de de 30 anos, foi ferida no acidente e está internada. Segundo uma fonte da embaixada de Marrocos em Portugal, citada pelo jornal Público, o homem vivia em Toronto e trabalhava na área financeira. Não há, por enquanto, fotografia disponível.
Além destes nomes, sabe-se que morreu outro cidadão do Reino Unido (um homem de 82 anos), duas pessoas da Coreia do Sul, uma mulher suíça e um cidadão da Ucrânia.
Lisboetas e turistas prestam homenagem
Desde quarta-feira que os tributos não param na Praça dos Restauradores. Junto ao início do percurso do Elevador da Glória, centenas de pessoas vão deixando ramos de flores e velas, rezando pelas vítimas.
O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, o primeiro-ministro Luís Montenegro e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa Carlos Moedas deixaram também a sua homenagem no local, depois de terem assistido à missa de quinta-feira na Igreja de São Domingos, a poucas dezenas de metros do local do acidente.
Ex-líder da oposição pede demissão de Moedas
Aumenta o coro que pede a demissão do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas. O edil (PSD), que vai a eleições no dia 12 de outubro e tem o cargo em jogo, tem até agora recusado demitir-se. O mais recente a pedir a cabeça de Moedas foi o antigo secretário-geral do Partido Socialista e até há pouco tempo líder da oposição, Pedro Nuno Santos.
A Câmara Municipal de Lisboa tem a tutela da Carris, empresa dos transportes públicos da capital portuguesa, e tem estado debaixo de fogo por ter, alegadamente, retirado quatro milhões de euros ao orçamento desta empresa, que terão sido encaminhados para a Web Summit. Apesar de se confirmar esta redução na alocação de fundos, Moedas assegura que o financiamento da Carris não só não diminuiu como aumentou, através de outros fundos.
A Carris está também a ser fortemente criticada por ter entregado a manutenção dos equipamentos a terceiros e ter reduzido a manutenção dos elevadores de 24 horas por dia para uma inspeção diária de cerca de 30 minutos, inspeção essa que foi realizada na própria manhã do acidente.
Resultados preliminares
Os primeiros resultados preliminares do inquérito às causas do acidente foram divulgados na noite de sábado. A perícia efetuada pelo Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) revela que "o cabo que unia as duas cabinas cedeu no seu ponto de fixação dentro do trambolho superior da cabina n.º 1", ou seja, a que estava na parte de cima do percurso", segundo o documento.
O documento diz ainda que "a zona onde o cabo se separou não é passível de visualização sem desmontagem". Por outras palavras, na inspeção realizada na manhã do acidente seria impossível detetar qualquer anomalia, uma vez que esta é uma inspeção meramente visual e a parte afetada do cabo estava dentro de uma das cabinas.
O relatório versa também sobre os travões de emergência e por que razão estes não funcionaram, dizendo que estes só podem funcionar quando as duas cabinas estão equilibradas entre si e ligadas através do cabo. O documento confirma que tanto o freio pneumático como o freio de emergência foram acionados pelo guarda-freio, sem que isso tenha impedido o desastre.
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