Cimeira Trump-Putin prevista em Budapeste causa reações contraditórias na Hungria

O primeiro-ministro Viktor Orbán anunciou ontem nas redes sociais que o país está preparado para receber a cimeira, referindo-se à Hungria como um oásis de paz. Numa entrevista à Hír TV, o governante afirmou que o encontro histórico não é obra do acaso, mas sim resultado de uma política consistente de três anos. “Na política, é necessário muito conhecimento, mas o mais importante em grandes questões é sempre a persistência e a humildade”, declarou, lamentando que o Papa Francisco não tenha vivido para ver este momento.
Segundo o primeiro-ministro, “desde o regresso de Donald Trump, está a formar-se à sua volta uma rede mundial de líderes estatais que procuram soluções pacíficas em todos os conflitos armados. Estas pessoas reúnem-se em torno do presidente americano porque ali está a força e a capacidade. A Hungria faz parte dessa rede”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szíjjártó, anunciou no Facebook que “desde o início da guerra na Ucrânia, a Hungria tem defendido consistentemente a causa da paz. É claro que esta guerra não tem solução no campo de batalha, a paz só pode ser alcançada através de negociações. Por isso, é uma boa notícia que Donald Trump e Vladimir Putin estejam em contacto permanente e melhor ainda que se encontrem pessoalmente em breve. A Hungria, como um oásis de paz, está preparada para organizar a cimeira e fornecer todas as condições para que os presidentes realizem negociações frutíferas e a paz volte à Europa. Ontem à noite, falei ao telefone com o vice-secretário de Estado americano, Christopher Landau, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, e iniciámos os preparativos para a cimeira”.
O principal opositor político na Hungria, Péter Magyar, recordou que, semanas antes, já havia sugerido que Budapeste poderia ser o local para uma negociação mundial, ao que o líder parlamentar do partido no poder, Máté Kocsis, reagiu dizendo: “Olha, Péter Magyar! Estás completamente louco. Achas mesmo que é por tua causa que o presidente americano e o presidente russo vêm a Budapeste? És mesmo um palhaço infeliz!”.
István Szent-Iványi, ex-secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e eurodeputado, disse à Euronews que “é revelador que, numa semana, primeiro o presidente Putin e depois Trump elogiaram calorosamente Viktor Orbán e ambos consideram importante que ele vença as eleições do próximo ano. Portanto, não é surpreendente que se encontrem aqui, em Budapeste”. Segundo o político, a grande questão da cimeira é se “a Ucrânia será sacrificada”, ou se Budapeste será o palco de um acordo justo, em vez de um novo Munique ou Yalta.
O jurista internacional Tamás Lattmann lembrou que a Hungria, em princípio, ainda está sujeita ao estatuto do Tribunal Penal Internacional por mais duas semanas, devendo, portanto, cumprir o mandado de captura emitido contra Vladimir Putin.
Esta questão já tinha sido levantada antes da visita de Benjamin Netanyahu a Budapeste em abril, mas o governo húngaro, alegando já ter anunciado a intenção de sair do Estatuto de Roma, recebeu o primeiro-ministro israelita.
Stefano Bottoni, historiador ítalo-húngaro residente em Budapeste, considerou:
“1. A tão esperada cimeira bilateral no Alasca não trouxe resultados, 2. Não há provas de preparativos sérios e em curso para a cimeira de Budapeste, 3. Putin deixou claro várias vezes que o sucesso eleitoral de Viktor Orbán nas eleições de abril de 2026 é do interesse estratégico da Rússia, 4. Trump também deixou claro que está pessoalmente comprometido com o sucesso eleitoral de Viktor Orbán. Os interesses americano-transatlânticos e da UE não estão em jogo aqui.
A cimeira iminente, portanto, provavelmente terminará com outro fracasso diplomático (ou, pior ainda, com a divisão negociada da Ucrânia sem a participação ucraniana). Naturalmente, isso proporcionaria uma excelente oportunidade fotográfica para Orbán, que poderia reforçar sua imagem interna como pacificador e líder reconhecido globalmente”, avaliou o analista político.
O jornal húngaro Világgazdaság (VG) destacou que os preços do petróleo caíram ainda mais após o anúncio do presidente americano Donald Trump de que se encontrará em breve com o presidente russo, Vladimir Putin, na Hungria, para discutir possibilidades de terminar a guerra na Ucrânia.
Esta é uma história em desenvolvimento, que será atualizada com novas informações e opiniões.
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