BCE diz que mudança nas políticas comerciais dos EUA pode afetar a UE
A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, alertou para o facto de as políticas comerciais dos EUA poderem afetar a economia da União Europeia, caso o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, cumpra as promessas de campanha.
Numa conferência realizada por ocasião do 10º aniversário da adesão da Lituânia à zona euro, Lagarde alertou para as perspetivas de um crescimento ainda mais lento se a nova administração americana impuser tarifas e se as “tensões geopolíticas” resultarem num aumento dos preços da energia e dos custos de transporte.
Lagarde afirmou ainda que o Banco Central Europeu irá reduzir ainda mais as taxas de juro se a inflação continuar a abrandar em direção ao seu objetivo de 2%, que os responsáveis políticos estão “perto de atingir”.
Em declarações em Vilnius, esta segunda-feira, após o quarto corte de 2024 na semana passada, Lagarde repetiu a sua afirmação anterior de que, se os dados confirmassem a base de referência do banco, “a direção a seguir é clara”. Mas, num encontro com a imprensa antes do seu discurso formal, Lagarde disse aos jornalistas que vê riscos de subida e de descida.
“Um dos riscos de subida seria, por exemplo, se os salários continuassem a aumentar significativamente, em medidas que não seriam compatíveis com o nosso objetivo, ou se os lucros aumentassem substancialmente e não compensassem os aumentos salariais. Trata-se de um risco ascendente. Um risco negativo pode ser alguns dos desenvolvimentos geopolíticos, incluindo, por exemplo, a mudança das políticas americanas em relação ao comércio”.
Lagarde disse mais tarde, numa conferência do Banco da Lituânia, que a manutenção de taxas “suficientemente restritivas” já não era necessária, no que foi interpretado como uma sugestão de que se está a pensar num nível neutro das taxas de juro.
A inflação caiu abruptamente para 2,3%, em comparação com o pico de 10,6% registado no final de 2022, desviando a atenção do controlo do aumento dos preços no consumidor para as preocupações com o fraco crescimento em curso. A zona euro deverá registar um crescimento de 0,8% este ano e de 1,3% no próximo ano, de acordo com as previsões da Comissão Europeia.
Preocupações a nível interno e externo
Os receios de que Trump possa impor novas tarifas, ou taxas de importação, sobre os bens importados para os EUA após a sua tomada de posse, a 20 de janeiro, provocaram um arrepio no mundo dos negócios na Europa, onde as exportações contribuem de forma extraordinária para o crescimento e emprego.
Também na Europa existem riscos a nível interno. O primeiro-ministro francês, Michel Barnier, demitiu-se este mês depois de perder uma moção de censura, deixando França sem um governo em funções e sem uma maioria clara no parlamento, capaz ou disposta a enfrentar o défice orçamental excessivo do país. As eleições não poderão realizar-se antes de junho. Embora o fim do governo de Barnier não tenha despoletado uma crise financeira, aumenta a incerteza quanto ao tempo que a França levará a sanear as suas finanças.
Além disso, a coligação governamental alemã desfez-se em novembro e estão previstas novas eleições nacionais em fevereiro. Espera-se que se sigam semanas de negociações de coligação até à formação de um novo governo.
Assim, as duas maiores economias da zona euro estarão politicamente à deriva durante meses.