Encontro entre Trump e Putin na próxima semana é "improvável", diz conselheiro do presidente russo
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Um encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin na próxima semana é “improvável”, refere o principal conselheiro de política externa do presidente russo, Yuri Ushakov.
“Concordámos que uma equipa separada de negociadores estabelecerá contacto na devida altura”, declarou.
Ushakov adianta que as conversações entre as delegações de Washington e Moscovo, esta terça-feira em Riade, na Arábia Saudita, "correram bem", descrevendo-as como "uma conversa séria sobre todas as questões”, segundo as agências noticiosas russas.
O alto funcionário do Kremlin acrescenta que as duas partes concordaram em que os negociadores falassem sobre a Ucrânia e discutiram brevemente as condições necessárias para uma cimeira entre Putin e Trump.
“Estamos prontos para isso, mas ainda é difícil falar sobre uma data específica para a reunião dos dois líderes”, disse Ushakov, citado pela Associated Press.
A decisão de iniciar contactos diretos com os Estados Unidos (EUA) sobre a Ucrânia caberá, em última análise, a Vladimir Putin, notou.
"Lógica de Biden foi rejeitada"
O chefe do fundo soberano da Rússia, Kirill Dmitriev, elogiou a reunião de quatro horas entre Washington e Moscovo em Riade.
“Começou um diálogo muito positivo e construtivo", afirmou Dmitriev, em declarações à televisão estatal russa.
“Ao contrário da administração Biden, que nunca tentou ouvir a posição da Rússia, este foi um esforço muito claro para iniciar o diálogo, compreender a posição da Rússia e discutir as coisas com as quais concordamos”, acrescentou Dmitriev, adiantando mesmo que "a lógica que existia no tempo do presidente Biden foi rejeitada".
“Há uma nova lógica em que temos de falar e perceber em que é que estamos de acordo e, se houver diferenças, temos de perceber quais são”.
Dmitriev precisou que há vários pontos em que Rússia e EUA estão de acordo.
"Ficámos a conhecer-nos muito melhor... compreendemo-nos muito melhor agora”, frisou.
Ucrânia e Europa consultadas "quase diariamente"
Michael Waltz, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, rejeita que Washington esteja a deixar de lado Kiev e Bruxelas nas conversações com a Rússia.
"Continuaremos a contrariar esta ideia de que os nossos aliados não foram consultados: foram e são consultados literalmente quase todos os dias, e continuaremos a fazê-lo”, realçou Waltz.
"Continuaremos a recordar a toda a gente que, literalmente, poucos minutos depois de o presidente Trump ter falado com o presidente Putin, ele telefonou [e] falou com o presidente Zelenskyy”.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, insiste que, mais à frente no processo negocial, a União Europeia terá um papel a desempenhar nas negociações.
“Há outras partes que têm sanções, a União Europeia vai ter de estar à mesa em algum momento, porque também tem sanções que foram impostas”, disse Rubio, para quem a reunião desta terça-feira na Arábia Saudita foi “o primeiro passo de uma longa e difícil jornada”.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos lembra que “todas as partes têm de fazer concessões”, mas que seria errado determiná-las à partida.
Waltz deixa claro que as negociações com a Ucrânia vão incidir sobre o território e as garantias de segurança para Kiev.
"Sabemos que a realidade prática é que vai haver alguma discussão sobre o território e vai haver discussão sobre as garantias de segurança", afirmou Waltz.
"Mas penso que a parte mais importante é que o presidente [Trump] declarou o seu desejo, a sua determinação de pôr fim a esta guerra, de pôr fim à matança que está a acontecer. Não é do interesse de nenhum dos países. Não é do interesse do mundo, e certamente não é do interesse dos Estados Unidos e da Europa", salientou.
Ucrânia ausente das negociações em Riade
A Rússia foi representada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, e pelo conselheiro de Putin para os Negócios Estrangeiros, Yuri Ushakov.
O secretário de Estado Marco Rubio, por sua vez, chefiou a delegação dos Estados Unidos, apoiado por Mike Waltz, o conselheiro de segurança nacional, e pelo enviado especial de Trump para o Médio Oriente, Steve Witkoff.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, não foi convidado para este encontro, tendo afirmado que as conversações entre os EUA e a Rússia “não produzirão resultados” devido à ausência do seu país nas negociações. O presidente ucraniano informou ainda que a Ucrânia não irá reconhecer qualquer tipo de acordo que saia das conversações entre Esados Unidos e a Rússia.
Volodymyr Zelenskyy está hoje na Turquia para um encontro com o presidente Recep Tayyip Erdoğan.
A reunião no Palácio Diriyah, em Riade, marca mais um passo fundamental da administração Trump para reverter a política dos EUA no isolamento da Rússia e destina-se ainda a preparar o caminho para uma reunião entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin.
UE disposta a "fazer ainda mais"
As conversações na Arábia Saudita também não incluem qualquer líder ou representante europeu. Foram vários os representantes de países e instituições europeias que se mostraram alarmados por terem sido afastados das conversações potencialmente cruciais para o conflito.
Ontem, vários líderes europeus reuniram-se de emergência em Paris para discutir a situação, nomeadamente o possível envio de tropas de manutenção de paz para a Ucrânia caso se alcance um acordo que coloque fim ao conflito.
O general Keith Kellogg, enviado especial de Trump para a Ucrânia, encontrou-se hoje com Ursula von der Leyen.
A presidente da Comissão Europeia terá salientado o papel da UE para garantir a estabilidade financeira e defesa da Ucrânia, reforçando "o compromisso total de de 135 milhões de euros, mais do que qualquer outro aliado", é explicado em comunicado.
No encontro, Von der Leyen "delineou os planos da Europa para aumentar a produção e as despesas com a defesa, reforçando as capacidades militares europeias e ucranianas", sublinhando que o bloco europeu está a "contribuir plenamente para a assistência militar à Ucrânia e está disposta a fazer ainda mais".
A presidente da Comissão Europeia reforçou ainda que qualquer solução de paz deve "respeitar a independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia, apoiada por fortes garantias de segurança".
Apesar das intenções europeias em querer participar nas negociações, nem Estados Unidos, nem a Rússia parecem interessados em que tal aconteça.
O general Keith Kellogg disse na segunda-feira que não achava que era “razoável e viável ter todos sentados à mesa”.
“Sabemos como isso pode acabar e esse tem sido o nosso ponto, é mantê-lo limpo e rápido o mais rápido possível ”, afirmou aos repórteres em Bruxelas.
As suas observações foram repetidas pelo ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, quanto a um papel para a Europa. “Não sei o que é que eles têm de fazer à mesa das negociações”, afirmou à chegada à Arábia Saudita para as conversações com responsáveis norte-americanos.
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