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Meloni contesta negociações "antidemocráticas" para cargos de topo da UE e pondera abstenção

• Jun 26, 2024, 5:55 PM
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Um acordo sobre os cargos de topo da UE, negociado na sequência da cimeira informal da semana passada, sem a participação da Itália, provocou a ira da primeira-ministra Georgia Meloni, que se considerava ter ganhado o papel de "kingmaker" [ou "fazedora de reis"] no processo, após o desempenho positivo do seu partido Fratelli d'Italia nas eleições europeias.

O anúncio de um acordo preliminar, mediado ontem por representantes do Partido Popular Europeu (PPE), dos socialistas e dos liberais, foi uma surpresa para o governo italiano, que não recebeu bem a notícia.

Meloni contestou abertamente o método de seleção "em que algumas pessoas pretendem decidir por todos", falando esta quarta-feira perante o Parlamento do país, antes da cimeira dos líderes da UE que se reúnem em Bruxelas para decidir sobre a questão.

"Nenhum verdadeiro democrata que acredite na soberania popular pode, no seu íntimo, considerar aceitável que na Europa se tenha tentado negociar as posições de topo antes mesmo de os cidadãos terem ido às urnas", afirmou.

Segundo a primeira-ministra italiana, o último acordo anula a lógica de consenso em que sempre se baseou a maioria das decisões a nível da UE, ao não incluir "os que estão do lado político oposto e os de nações consideradas demasiado pequenas para serem dignas de se sentarem às mesas que contam".

Meloni considera "surrealista" que, durante a reunião informal da semana passada, tenham sido propostos nomes para cargos de topo como resultado de conversações bilaterais entre partidos, "sem sequer a pretensão de uma discussão aberta, baseada na forma como os cidadãos se pronunciaram nas urnas".

"Parece-me que, até agora, tem havido uma falta de vontade de ter em conta a mensagem transmitida pelos cidadãos nas urnas", acrescentou, comentando a substância do acordo.

Para Meloni, os cidadãos da UE pediram uma mudança de rumo ao rejeitarem as políticas seguidas pelas forças governamentais "em muitas das grandes nações europeias, que são também, muitas vezes, as forças que ditaram as políticas da União nos últimos anos", disse, numa referência pouco velada à Alemanha e à França, que mediaram o acordo sobre os cargos de topo da UE.

Isolada no seio do Conselho Europeu, Meloni está agora a ponderar uma resposta dramática, incluindo a abstenção na decisão final sobre os cargos de topo da UE a tomar no próximo Conselho Europeu, que terá início amanhã, noticiaram os meios de comunicação italianos.

De acordo com os Tratados da UE, uma decisão deste tipo pode ser tomada por maioria qualificada - mas, por convenção, os dirigentes procuram obter um consenso aquando da nomeação para os cargos de topo.

A abstenção de Meloni poderá causar uma fragmentação política, em resultado da exclusão de Itália das conversações. "As decisões poderiam ter sido adiadas para a cimeira que começa amanhã, para mostrar mais respeito por um Estado-membro fundador da UE", disseram fontes do governo italiano ao diário italiano Corriere della Sera.

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, que participou nas conversações, foi encarregado de informar Meloni sobre o resultado mas, segundo o La Stampa, ela nunca atendeu o telefone. Segundo outros meios de comunicação social, a chefe da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, irá negociar pessoalmente com Meloni para obter o apoio dos 24 eurodeputados dos Fratelli d'Italia para a sua recondução numa sessão plenária em Estrasburgo, prevista para meados do próximo mês.

A Itália deverá obter uma vice-presidência da Comissão e uma pasta relevante em troca do seu apoio ao pacote de cargos de topo. Mas Meloni avisou que vai "simplesmente pedir [isto] em troca de um papel a que a Itália tem direito".