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Rússia deporta crianças ucranianas para criar uma nova geração do exército russo, defende comissário de Kiev

• Nov 13, 2024, 10:53 AM
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Dezenas de milhares de crianças ucranianas foram deportadas à força pela Rússia desde o início da invasão em grande escala e, até agora, Kiev só conseguiu trazer de volta cerca de mil, disse à Euronews o Comissário para os Direitos Humanos da Ucrânia, Dmytro Lubinets.

Moscovo iniciou a sua campanha de deportação quando invadiu a Ucrânia em 2014 e o primeiro caso registado de uma criança ucraniana levada à força para a Rússia foi registado na Crimeia anexada. Dez anos depois, as deportações continuam em todas as partes dos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia.

O principal problema de Kiev é verificar as informações que as autoridades recebem, disse Lubinets.

"A Federação Russa nunca nos deu qualquer informação sobre as crianças ucranianas. Tentei recorrer a organizações internacionais. Enviei uma série de pedidos e cartas a todas as organizações das Nações Unidas e ao Comité Internacional da Cruz Vermelha para tentar encontrar informações sobre as crianças ucranianas, sem qualquer sucesso", explicou.

Até à data, a Ucrânia conseguiu encontrar informações sólidas sobre estas 19.546 crianças, confirmando que foram efetivamente deportadas à força para a Rússia.

"A lista é constituída por órfãos, crianças sem pais, crianças com familiares e pais do lado ucraniano", ilustrou Lubinets.

O que acontece às crianças ucranianas depois de serem levadas para a Rússia?

Quando as crianças ucranianas são deportadas para a Rússia, as autoridades locais tentam apagar qualquer ligação à sua terra natal. As crianças estão a sofrer uma "lavagem cerebral" e os seus documentos oficiais estão a ser alterados para que os seus familiares não consigam encontrá-las e trazê-las de volta para casa.

"Passaportes, certidões de nascimento, toda a informação é também alterada para 'Rússia'", explicou Lubinets.

E é nessa altura que começa a militarização. "Todas as crianças ucranianas têm de ser membros de organizações militares juvenis da Federação Russa, mesmo as raparigas", acrescentou.

"Vemos (nisso) todos os pormenores da política colonial da Federação Russa contra a Ucrânia. E acredito mesmo que o principal objetivo dos russos com a deportação das crianças ucranianas é criar uma nova geração do exército russo".

Putin com mandado do TPI

A deportação tem de ser interpretada, antes de mais, no contexto de um crime de guerra, explicou Lubinets.

"Significa que a Federação Russa ocupou território ucraniano, levou crianças ucranianas para território ucraniano e libertou-as em território russo".

A este respeito, a campanha de deportação de Moscovo é considerada um genocídio. "O genocídio tem cinco elementos como crime de guerra. Um dos elementos é a transferência forçada de crianças de um grupo étnico para outro. Este é o verdadeiro genocídio".

Em março de 2023, o Tribunal Penal Internacional (TPI) de Haia emitiu um mandado de captura contra o presidente russo, Vladimir Putin, e a comissária russa para a Infância, Maria Lvova-Belova, por deportação ilegal de crianças e transferência ilegal de crianças das zonas ocupadas da Ucrânia para a Rússia. Os EUA, a UE e o Reino Unido sancionaram Lvova-Belova pelo seu alegado papel neste esquema.

O presidente russo, Vladimir Putin, reúne-se com a comissária presidencial para os direitos da criança, Maria Lvova-Belova, no Kremlin, em Moscovo, a 31 de maio de 2024
O presidente russo, Vladimir Putin, reúne-se com a comissária presidencial para os direitos da criança, Maria Lvova-Belova, no Kremlin, em Moscovo, a 31 de maio de 2024 Alexander Kazakov/Sputnik via AP

Moscovo nega todas as acusações de que as crianças foram transferidas à força.

A própria Lvova-Belova disse que "adoptou" um adolescente de Mariupol, uma cidade ucraniana destruída e capturada pela Rússia na primavera de 2022.

Lubinets diz que Kiev tem informações de que este não é o único caso, e que outros "chefes de autoridades estatais da Federação Russa participaram neste caso".

Embora as autoridades de Kiev afirmem ter informações sobre apenas milhares de crianças ucranianas deportadas para a Rússia, Lvova-Belova revelou em julho do ano passado que cerca de 700 mil menores ucranianos foram "transferidos" para a Rússia desde o início da invasão em grande escala.

"Agora que mais de 20% do território ucraniano está sob ocupação russa, 1,5 milhões de crianças ucranianas vivem nesse território. E a Federação Russa pode deportar todas estas crianças para o lado russo", diz o comissário da Ucrânia.

Quando questionado sobre o que é que Kiev pode fazer para evitar que isso aconteça, disse que só há uma maneira: "Precisamos de libertar todo o território da Ucrânia", disse Lubinets.

"Só então a Ucrânia poderá estabelecer um novo mecanismo de receção de informações sobre as crianças deportadas, e é nessa altura que o número real será revelado, e será significativamente mais elevado".