Ministros dos Negócios Estrangeiros francês e britânico alertam para os riscos da "Putinização"
O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, encontrou-se com o seu homólogo britânico, David Lammy, para conversações em Londres, num contexto que Lammy classificou de "tempos geopolíticos difíceis".
"Temos discussões muito importantes", disse Lammy.
"Já falámos muito sobre a Ucrânia, a situação no Médio Oriente e não só, e aguardo com expetativa a continuação dessas discussões hoje".
Lammy recebeu Barrot em Carlton Gardens, que foi a sede do governo da França Livre no exílio entre 1940-1944.
"Mais do que nunca, num período em que o mundo é atingido pelo regresso da brutalidade, o Reino Unido e a França estão lado a lado para defender a justiça, para defender o direito internacional e para serem actores da paz, actores da defesa, do multilateralismo e actores da segurança", afirmou Barrot.
Um artigo escrito pelos dois ministros dos Negócios Estrangeiros e publicado no jornal britânico i e no francês Le Figaro, na quinta-feira, dava algumas indicações sobre os temas que os dois deveriam abordar nas conversações de sexta-feira.
Os governantes alertaram para as consequências daquilo a que chamaram a tentativa de "Putinização" do mundo, à medida que a guerra na Ucrânia se espalha para além da Europa.
"O objetivo de Putin é criar um novo precedente que ponha em causa o sistema internacional baseado em regras, segundo o qual os países sentem que podem invadir os seus vizinhos com total impunidade", escreveram.
Ambos criticaram a invasão “ilegal e intolerável” da Ucrânia e acusaram o líder russo de tentar “reescrever a ordem internacional”.
Tanto a França como o Reino Unido têm apoiado firmemente a Ucrânia desde a invasão russa de 2022, fornecendo milhares de milhões de euros em assistência militar e humanitária a Kiev.
As tensões em torno da guerra na Ucrânia aumentaram significativamente nas últimas semanas, em especial depois do Presidente Joe Biden ter dado luz verde a Kiev para utilizar armas fornecidas pelos EUA para atingir alvos militares no interior da Rússia.
A decisão de Joe Biden suscitou uma reação furiosa do Kremlin. Mas as autoridades norte-americanas afirmam que a mudança de política de Biden só surgiu em resposta ao facto de a Coreia do Norte ter enviado milhares de tropas para ajudar a Rússia a expulsar as forças ucranianas de Kursk.
Num discurso televisivo, na quinta-feira, Putin culpou aquilo a que chamou “as ações agressivas dos países da NATO” pelo facto de Moscovo ter testado um novo míssil de alcance intermédio num ataque à Ucrânia.
Putin disse que a Rússia estava a realizar “testes de combate” do novo sistema de mísseis “Oreshnik” em resposta aos ataques ucranianos do início da semana com mísseis americanos e britânicos.
A guerra em Gaza
Lammy e Barrot também reiteraram a sua condenação da incursão do Hamas em Israel, a 7 de outubro do ano passado, que desencadeou a atual guerra em Gaza. Apelaram a um cessar-fogo imediato, à libertação de todos os reféns e ao aumento da quantidade de ajuda humanitária autorizada na Faixa de Gaza.
“Sabemos que a questão palestiniana não desaparecerá enquanto não for implementada uma solução de dois Estados, com reconhecimento mútuo e garantias de segurança”, escreveram.
Ambos condenaram os ataques israelitas contra as forças de manutenção da paz da ONU no Líbano. Quatro soldados italianos que trabalhavam para a UNIFIL ficaram feridos quando dois foguetes de 122 mm explodiram na base da missão em Shama, informou o Ministério da Defesa italiano.
Vários postos da UNIFIL foram atingidos desde que Israel iniciou a sua invasão terrestre do Líbano, em 1 de outubro, deixando alguns soldados da paz feridos.
O Reino Unido e a França estão unidos ao lado do direito humanitário”, afirmaram Lammy e Barrot, citando o atual conflito entre os militares e as Forças de Apoio Rápido no Sudão como uma área de preocupação.
Espera-se também que discutam as prioridades da Aliança Global para a Energia Limpa, um grupo liderado pelo Reino Unido e lançado no início desta semana no G20 no Brasil.
A Aliança foi criada para garantir que os países cumpram os compromissos assumidos na Cimeira do Clima COP28, em 2023, de triplicar a capacidade de produção de energia renovável e duplicar a taxa global de melhoria da eficiência energética.
Os países membros trabalharão em conjunto e partilharão conhecimentos especializados para ajudar outros países a criar plataformas de investimento e a prestar assistência para desbloquear o financiamento limpo.
Os membros fundadores da aliança são o Brasil, a Austrália, Barbados, o Canadá, o Chile, a Colômbia, a França, a Alemanha, Marrocos, a Noruega, a Tanzânia e a União Africana.
Os Estados Unidos e a União Europeia associaram-se ao Reino Unido nesta iniciativa.
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