Ministra dos Negócios Estrangeiros da Geórgia diz que protestos pró-UE não são "necessariamente pacíficos"
Os protestos em massa na Geórgia estão prestes a entrar na sua terceira semana, com milhares de georgianos a saírem à rua para se manifestarem contra a recente decisão de Tbilisi de suspender as negociações de adesão à UE.
A população prometeu continuar a manifestar-se durante o tempo que for necessário até que as suas exigências sejam satisfeitas, apesar da intensificação da natureza violenta dos confrontos.
A polícia tem recorrido a táticas mais pesadas numa tentativa de reprimir a agitação, com canhões de água e gás lacrimogéneo. Até ao momento, foram detidos mais de 300 manifestantes, incluindo líderes da oposição e ativistas, e mais de 100 pessoas foram tratadas devido a ferimentos.
Na terça-feira, o provedor de Justiça da Geórgia descreveu a violência como tortura e brutalidade, acusando a polícia de usar força excessiva contra os manifestantes.
"A localização, o carácter e o grau dos ferimentos criam uma impressão credível de que a polícia utiliza métodos violentos contra os cidadãos para os castigar. A violência intencional e severa com o objetivo de punir constitui um ato de tortura", afirmou.
Volker Türk, o principal responsável da ONU pelos direitos humanos, considerou o uso da força contra os manifestantes "extremamente preocupante".
Em entrevista exclusiva à Euronews, em Budapeste, a nova ministra dos Negócios Estrangeiros da Geórgia, Maka Botchorishvili, justificou a repressão policial contra os manifestantes pró-europeus, apontando as ações de grupos violentos entre os manifestantes que visam especificamente a polícia.
Botchorishvili sublinhou que toda a gente tem o direito de protestar, mas que esses protestos devem ser pacíficos.
"Infelizmente, devo dizer que não podemos considerar este protesto necessariamente pacífico porque os grupos violentos que atuaram com fogo de artifício tinham como alvo as forças policiais", afirmou a ministra.
A ministra acrescentou que, até à data, 200 polícias ficaram feridos, alguns em estado crítico.
"Mas, por outro lado, se houver alguma coisa em que vemos que a polícia está a exercer os seus limites de reação, é claro que deve haver uma reação dos organismos relevantes. E há uma declaração muito clara do primeiro-ministro de que este tipo de acções deve ser investigado".
Conversações de adesão à UE
No final de novembro, o partido no poder, Sonho Georgiano, suspendeu o processo de integração da Geórgia na União Europeia e as suas negociações até 2028, desencadeando protestos em massa, uma vez que a opinião pública georgiana é largamente favorável à adesão à UE. A decisão de suspender as negociações de adesão foi tomada depois de o Parlamento Europeu ter adotado uma resolução que critica o resultado das eleições de outubro, em que o partido no poder obteve a maioria parlamentar, bem como o declínio democrático do país.
Tbilisi apresentou formalmente o seu pedido de adesão à UE em março de 2022, na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia. O estatuto de candidato à UE foi concedido em dezembro do ano seguinte, para gáudio de muitos georgianos que festejaram nas ruas de Tibilísi.
O processo foi interrompido este verão pelo Conselho Europeu, depois de os dirigentes da UE terem manifestado a sua preocupação com os recentes desenvolvimentos na Geórgia, em especial com a controversa lei sobre a influência estrangeira, apelidada de "lei da transparência" pelo Governo georgiano.
A lei foi criticada pelos críticos da UE e foi comparada a uma lei semelhante na Rússia. A ministra dos Negócios Estrangeiros, Botchorishvili, rejeitou a ideia de que o seu governo se estivesse a afastar da UE e a aproximar-se mais de Moscovo.
Se alguém quiser causar uma impressão negativa sobre alguém, é mais fácil afirmar que essa pessoa é pró-russa ou pró-Putin", afirmou a ministra.
"O partido Sonho Georgiano está no poder há 12 anos. Durante este período, ninguém consegue encontrar nada que este governo tenha feito a favor da Rússia", afirmou Botchorishvili.
Reiterou que a Geórgia tem uma política clara de apoio à Ucrânia e sublinhou que o governo assinou o Acordo de Associação com a União Europeia em 2014, que visa aprofundar os seus laços económicos e políticos com a UE. Botchorishvili afirmou que, nos últimos dez anos, a Geórgia tem demonstrado o seu "compromisso" e "valores partilhados" com os seus parceiros europeus.
A entrevista completa com Maka Botchorishvili, que fala sobre os protestos na Geórgia, as conversações de adesão à UE e os desafios que o governo enfrentará no futuro, está disponível a partir de sexta-feira no nosso programa The Europe Conversation.
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