Verificação de factos: os europeus estão a ser obrigados a comer insetos perigosos?
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Os utilizadores das redes sociais têm vindo a alegar que a União Europeia autorizou a comercialização de alimentos perigosos à base de insetos, depois de, no início do mês, ter sido dada "luz verde" a um produto que continha uma larva de farinha amarela tratada com raios ultravioleta (UV).
"Por loucura ecológica, correm o risco de envenenar um continente inteiro para competir com a criação de gado", afirmou Florian Philippot, presidente do partido conspiracionista francês e eurocético Les Patriotes, num vídeo publicado no X, que já teve mais de 200.000 visualizações.
As afirmações enganosas divulgadas "online" provêm de contas eurocéticas, de políticos europeus de extrema-direita, bem como de contas conspirativas de direita dos EUA.
O teórico da conspiração e apresentador de programas de rádio Alex Jones, que foi considerado culpado em numerosos casos de difamação e calúnia, declarou que uma "proteína de inseto cancerígena" está a ser introduzida "no abastecimento alimentar em todo o mundo", numa publicação no X.
Haverá alguma evidência que sustente estas afirmações?
Na segunda-feira passada, a Comissão Europeia aprovou a utilização de até 4% de pó de larva de farinha amarela tratada com UV em produtos como pão, queijo e massas.
Este é o quinto tipo de alimento à base de insetos que Bruxelas já autorizou desde 2021, como parte de uma estratégia mais ampla da UE para reduzir o impacto ambiental da cadeia de abastecimento alimentar.
Os insetos são amplamente considerados uma fonte de proteínas alternativa à carne de criação, uma vez que a população mundial continua a aumentar. Durante os próximos cinco anos, apenas a empresa francesa Nutri'Earth tem autorização para comercializar o novo pó de larvas de farinha com tratamento UV.
A Comissão Europeia define os alimentos à base de insetos como "novos alimentos" - também conhecidos como "alimentos inovadores" ou que são tradicionalmente consumidos fora da Europa.
Em muitos países africanos e sul-americanos, o consumo de insetos é uma prática tradicional, enquanto na Europa, os insetos são sujeitos a controlos rigorosos antes de poderem ser aprovados para a venda no mercado.
Esse controlo inclui uma avaliação por parte da Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos (EFSA), um organismo científico independente que trabalha em conjunto com a Comissão Europeia.
"Não há qualquer preocupação em termos de segurança, este produto pode ser consumido em segurança porque fizemos uma avaliação exaustiva da sua composição e os nossos peritos não encontraram qualquer problema", referiu Ermolaos Ververis, responsável científico da EFSA, à Euronews.
"Quando avaliamos a segurança de novos alimentos, incluindo produtos derivados de insetos, consideramos os diferentes perigos microbiológicos e químicos que podem estar relacionados com o novo alimento", acrescentou Ververis.
Porque é que os insetos são tão políticos?
Muitos dos relatos que questionam a segurança dos alimentos à base de insetos têm motivações políticas.
Em linha com a agenda do seu partido, Florian Philippot apelou, por esta via, ao "Frexit" - ou seja, à saída de França da União Europeia - para que o país pudesse ganhar "soberania alimentar".
"É a Europa de Ursula, a hiena, uma vez mais... querem fazer-nos morrer com os seus insetos na nossa comida", afirmou outro utilizador na rede social X.
Outros indivíduos acusaram a Europa de trair os agricultores e a indústria da carne. Os insetos são vistos como uma alternativa à carne de criação. Produzem muito menos emissões de gases com efeito de estufa do que a carne de criação e requerem menos água e terra do que os bovinos, suínos e aves de capoeira.
"Em vez de apoiar os agricultores locais, a União Europeia decidiu substituir os seus produtos por larvas e vermes. E dá-los a comer às pessoas", publicou outro utilizador no X.
No dia 8 de fevereiro, a eurodeputada de extrema-direita Petra Steger, do grupo político Patriotas pela Europa, perguntou, numa publicação no X: "Primeiro, disseram que a carne é má - agora existe uma refeição de insetos ao pequeno-almoço. O que vem a seguir?"
Apesar de os cientistas rotularem os produtos como seguros para o consumo, há um fator que pode continuar a impedir a sua popularidade entre os consumidores europeus.
"A neofobia alimentar prende-se com o medo de novos alimentos, as pessoas também podem sentir repulsa porque associamos os insetos a algo desagradável", referiu Ververis, em declarações à Euronews.
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