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Morreu Pinto da Costa, o dirigente desportivo mais premiado do mundo

• Feb 16, 2025, 11:56 AM
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A “família” portista está de luto com a morte de uma das figuras mais incontornáveis da história do futebol português. Jorge Nuno Pinto da Costa morreu, no sábado aos 87 anos, e deixou com ele um “legado para todo o sempre na história do clube”. Foi presidente do Futebol Clube do Porto durante 42 anos (1982-2024).

Ao longo do seu "reinado", Pinto da Costa obteve “2.591 conquistas”, só no futebol foram 68 títulos, nacionais e internacionais, tornando-se no dirigente desportivo mais titulado de sempre na história do desporto mundial.

Com Pinto da Costa ao leme, o Futebol Clube do Porto viveu uma era dourada, alcançando muitos títulos nacionais e internacionais, algo que era impensável até que assumiu o trono dos azuis e brancos, em 1982. Conseguiu transformar um clube regional, de 132 anos, numa potência do futebol nacional, “contra tudo e contra todos”, dizia o presidente, que lutava contra o centralismo dominado pelos clubes da capital portuguesa.

A era de ouro, além-fronteiras

Ainda na década de 1980, o clube conquistou o seu primeiro grande troféu internacional, a taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1987, com o famoso golo de calcanhar marcado pelo argelino Rabah Madjer, frente ao todo-poderoso Bayern de Munique, era a concretização de um sonho vaticinado por Pinto da Costa quando assumiu a presidência do clube.

Nesse mesmo ano, o Porto viajava para Tóquio para conquistar a Taça Intercontinental aos Uruguaios do Penarol com mais um golo decisivo do avançado argelino. Meses mais tarde, os Dragões conquistavam a Supertaça Europeia, frente ao Ajax de Amesterdão por 2-0, no agregado em duas mãos.

No início dos anos 2000, Pinto da Costa decidiu apostar em José Mourinho, o então pupilo de sir Bobby Robson, regressou ao Porto em 2002, desta vez, como treinador principal e foi o “treinador que deu mais alegrias” ao presidente, lembra Mourinho na sua conta do Instagram.

Um ano depois, o FC Porto conquistava a Taça UEFA em Sevilha frente ao Celtic de Glasgow (3-2) e, em 2024, Mourinho voltava a dar grande alegria ao presidente (e a toda a família portista) com a conquista da segunda Taça dos Campeões Europeus, então transformada em Liga dos Campeões, numa final em Geselkrichen frente ao Mónaco (3-0).

Os anos de 1990 foram igualmente marcantes na história do clube

Com Pinto da Costa no comando, o Porto conquistou o pentacampeonato (1995 e 1999), com o treinador e antigo selecionador nacional, Fernando Santos, que ficou conhecido como o “Engenheiro do Penta”. O Porto é o único clube na liga com este título, até ao momento.

Ao longo de 42 anos de "reinado", Pinto da Costa conquistou 23 campeonatos, 22 Supertaças, 15 Taças de Portugal, duas Taças Intercontinentais, uma Taça dos Clubes Campeões Europeus e outra Liga dos Campeões, uma Taça UEFA e uma Liga Europa, uma Supertaça Europeia e uma Taça da Liga.

O Caso do Apito Dourado

O nome Jorge Nuno Pinto da Costa esteve envolvido em algumas polémicas, nomeadamente acusações de corrupção. O mais célebre foi o processo Apito Dourado (até deu uma série de televisão).

Em 2004, foram denunciados casos de corrupção no futebol que envolviam os nomes de Pinto da Costa e de Valentim Loureiro, presidente do Boavista e, posteriormente, presidente da Liga de Futebol. Mais tarde, tornava-se presidente da Câmara Municipal de Gondomar, um concelho dos arredores do Porto.

Várias escutas relativas ao caso visavam o nome de Pinto da Costa em conversas com empresários incluindo árbitros. Um dos árbitros visados, Jacinto Paixão, confessaria a tentativa de suborno na plataforma YouTube. A antiga companheira do presidente Pinto da Costa viria também a juntar-se à denúncia de casos. No livro, “Eu, Carolina”, a ex-mulher de Pinto da Costa fala de vários episódios de tráfico de influências, agressões a dirigentes desportivos e coação e intimidação a equipas de arbitragem.

Pinto da Costa negou sempre as acusações e acabou absolvido pelo Conselho de Disciplina da Federação do crime da prática de “infração disciplinar muito grave de corrupção na forma tentada”.

O processo, que durou mais de dez anos, condenou o clube de futebol do Boavista, por suborno e coação à arbitragem, com a descida de divisão e Valentim Loureiro perdeu o seu mandato como autarca da Câmara de Gondomar, após ter sido condenado com uma pena suspensa.

A doença do presidente e a entrega ao clube

O último ano de vida do ex-presidente do Futebol Clube do Porto ficou marcado pelo agravamento de um cancro na próstata que lhe foi diagnosticado há quatro anos. Segundo o seu médico, a doença estava controlada, mas as suas defesas ficaram muito debilitadas, muito por causa do que aconteceu no último ano. “As eleições [no FC Porto] não lhe fizeram bem”, disse Fernando Póvoas em declarações à SIC Notícias.

Em 2024, Pinto da Costa perdia a presidência do clube do seu coração para André Villas-Boas numas eleições que pediam mudança dentro do clube. Villas-Boas obteve 80,28% dos votos. Era o fim de um reinado de 42 anos liderado por uma figura amada pelos adeptos, (chamavam-lhe de “Papa”) e odiada por outros. O homem que trouxe José Maria Pedroto para revolucionar o balneário, que transformou os “Andrades” (os portistas eram assim conhecidos) em “Dragões”, vai, seguramente, deixar um legado enorme para a cidade e para o clube.

“Um homem amigo do amigo, com memória gigante e com muitas paixões. Era fácil as pessoas gostarem dele”, disse o seu médico e amigo, Fernando Póvoas.