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De Ventura a Schiappa: Os políticos que escrevem sobre sexo

• Aug 19, 2025, 9:56 AM
15 min de lecture
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Dizem que a inspiração vem dos sítios mais inesperados. Mas quem diria que o ambiente de um gabinete político poderia inspirar fantasias eróticas escaldantes, por vezes obscuras e até proibidas?

Em Portugal, o caso mais conhecido é o de André Ventura, que tentou a veia de romancista antes de se lançar na política, com dois livros lançados em 2008 e 2009, "Montenegro" e "A última madrugada do Islão", hoje difíceis, se não impossíveis de encontrar.

Mas o líder do Chega não está sozinho: políticos de Espanha, França, Áustria ou Reino Unido usaram a sua própria experiência e puseram no papel a vida romântica ou sexual. Aqui estão as suas histórias.

Não se trata de uma lista de leitura, mas sim de uma espreitadela a um nicho literário bastante inesperado.

Thomas Oberreiter, Embaixador da Áustria na União Europeia (2023-2025)

No final de julho, uma história fez cair o queixo em Bruxelas: O representante da Áustria junto das instituições europeias foi acusado de ter um blogue com conteúdo altamente explícito.

Escrito de uma perspetiva feminina, o blogue inclui cenas de encontros sadomasoquistas - e, por vezes, descrições de sexo não consensual - alegadamente da autoria do diplomata de 59 anos.

Apesar de Oberreiter ter negado qualquer envolvimento no blogue, investigações dos meios de comunicação social permitiram identificar as suas publicações em endereços IP e dispositivos pertencentes ao Ministério dos Negócios Estrangeiros austríaco. O blogue terá sido atualizado durante as horas de trabalho e a partir das instalações oficiais.

Depois de mais de 30 anos como diplomata na Europa e no México, Oberreiter demitiu-se quando a polémica eclodiu em Bruxelas. Não respondeu aos pedidos de comentário.

Frase a recordar (ou que preferimos esquecer): "Éramos carne, nada mais. Mulheres. Recipientes para o sémen dos homens".

Marlène Schiappa, no governo francês de 2017 a 2023

Secretária de Estado para a Igualdade de Género (2017-2020), ministra delegada para a Cidadania (2020-2022) e secretária de Estado para a Economia Social e Solidária (2022-2023)

Muito antes de assumir funções ministeriais, Marlène Schiappa já se dedicava à escrita erótica sob o pseudónimo Marie Minelli. Entre os seus títulos contam-se Osez les sexfriends ("Experimente os amigos coloridos"), Comment transformer votre mec en Brad Pitt en 30 jours ("Como transformar o seu homem num Brad Pitt em 30 dias"), e Sexe, mensonge et banlieues chaudes ("Sexo, mentiras e subúrbios problemáticos").

Quando a existência destes livros foi revelada, por ocasião da sua nomeação como secretária de Estado para a Igualdade de Género, foi alvo de numerosos ataques, que qualificou como "sexistas". "Tenho um colega no Governo que é conhecido por ter escrito um romance. Nunca ninguém o goza com isso, nem sequer o menciona. É visto como normal: é um pouco atrevido, mas não faz mal, ele é um homem, é permitido", comentou numa entrevista.

No entanto, ela não escondeu o seu passado e defendeu estas obras como uma forma de desafiar a visão da sociedade sobre a relação das mulheres com a sexualidade.

Schiappa é uma autora prolífica. Durante o seu mandato, publicou 11 livros em nome próprio e um através do seu alter ego "romântico", Marie Minelli.

Marlène Schiappa em 2017
Marlène Schiappa em 2017 Laurent Cipriani/AP

Não só foi alvo de críticas pelo tempo que passou a escrever, como também por ter posado (vestida) para a capa da revista Playboy. Quando apareceu na capa da edição de abril de 2023, a primeira-ministra Élisabeth Borne ter-lhe-á telefonado a dizer que a entrevista era "inapropriada".

Três meses mais tarde, aquando da remodelação do governo, o seu nome (bem como o de Marie Minelli) foi discretamente retirado da lista.

Frase a recordar (ou que preferimos esquecer): "Abro a boca o mais que posso e Amaury ejacula descontroladamente na minha cara, gritando em voz alta: 'Vive la France! Vive la France! Vive la France!"" Minelli, M. (2014). Sexe, mensonges et Banlieues Chaudes. La Musardine.

Bruno Le Maire, ministro francês da Economia, das Finanças, da Indústria e da Soberania Digital (2017-2024)

Outro ministro do mesmo governo também publicou livros com cenas eróticas. Bruno Le Maire, que é ministro da Economia e das Finanças desde a eleição de Emmanuel Macron em 2017 e que já tinha ocupado o cargo sob a presidência de Nicolas Sarkozy, é geralmente conhecido pelo seu comportamento sério e polido.

Mas em 2023, no auge da crise da reforma das pensões, a publicação do seu romance Fugue américaine revelou uma faceta diferente da personalidade do ministro.

Neste romance de quase 500 páginas, Le Maire conta a história de dois irmãos que visitam Cuba em 1949 para assistir a um concerto do pianista Vladimir Horowitz. Mais do que as reflexões musicais ou o choque cultural entre o Oriente e o Ocidente, foi uma passagem particularmente explícita envolvendo um jovem chamado Oskar que chamou a atenção do público. A cena foi largamente partilhada nas redes sociais, provocando escárnio na Internet - sobretudo tendo em conta o clima político tenso - e constituiu um desafio para a estratégia de comunicação do Governo.

Capa da edição de bolso de "Fugue Américaine"
Capa da edição de bolso de "Fugue Américaine" Gallimard

No entanto, esta não foi a primeira vez que Bruno Le Maire o fez. Em 2004, publicou Le Ministre, uma narrativa baseada na sua experiência como conselheiro de Dominique de Villepin, então Ministro dos Negócios Estrangeiros. Nele, relata um momento íntimo com a sua mulher: "Deixei-me envolver pelo calor do banho, pela luz da lagoa que flutuava através da porta de vidro fosco, pelo aroma do sabonete de chá verde e pela mão de Pauline que acariciava suavemente o meu sexo", dizia uma passagem do livro.

Frase a recordar (ou que preferimos esquecer): "Ela virou-se de costas para mim; atirou-se para a cama; mostrou-me a protuberância castanha do seu ânus. "Estás a vir-te, Oskar? Estou mais dilatada do que nunca'". Le Maire, B. (2023). Fugue américaine: Roman. Gallimard.

Estebán González Pons, deputado espanhol ao Parlamento Europeu (desde 2014 )

Figura bem conhecida do centro-direita espanhol, Estebán González Pons foi senador e é atualmente deputado ao Parlamento Europeu. É vice-presidente do Parlamento e membro da Comissão dos Orçamentos, cargos que contrastam com a sua carreira paralela de escritor de ficção romântica e erótica.

Em 2020, publicou Ellas ("Elas"), um romance que reflete o profundo amor do autor pela sua terra natal e que se destina à geração que cresceu durante a Transição de Espanha, nas décadas de 1960 e 70. O protagonista decide reencontrar o seu primeiro amor e, num gesto dramático para chamar a atenção dela, envia-lhe uma carta de suicídio.

O que surpreende os leitores são as passagens bastante explícitas, que suscitaram comparações com Cinquenta Sombras de Grey e que levaram alguns meios de comunicação social a apelidá-lo de "González Porn".

Numa entrevista concedida em 2022, González Pons não se deixou abater por estas críticas: "Os jornalistas ficam muito chocados quando um romance de amor inclui sexo. Talvez seja porque falta educação sexual nas faculdades de jornalismo", disse.

Frase a recordar (ou que preferimos esquecer): "...aquela nudez indiferente transmitia a plenitude de uma deusa-mãe cujo mons veneris tinha acolhido a carga de um guerreiro a galope na noite passada. Ela repousava tão satisfeita como um louva-a-deus sexual, exausto depois de ter engolido o seu amante através da vagina, digerido-o no útero e, finalmente, expelido-o de novo, permitindo-lhe renascer." Pons, E. G. (2020). Ellas. Espasa.

Cleo Watson e Edwina Currie (Reino Unido)

Cleo Watson, ex-assessora política do Partido Conservador e conselheira especial do primeiro-ministro Boris Johnson, fez manchetes em 2023 com o seu romance de estreia, Whips ("Chicotes"). O livro mistura intrigas de Westminster com romances de gabinete e envolvimentos pessoais. O romance inclui uma ligação secreta entre candidatos rivais do Partido Trabalhista e do Partido Conservador que se conhecem numa aplicação de encontros, um primeiro-ministro que vê pornografia em segredo e até uma ministra que responde a perguntas de uma comissão com um discreto dispositivo vibratório na vagina.

Cleo Watson fez parte do "PartyGate" que levou à queda de Boris Johnson - e até foi multada por isso - e publicou uma continuação em 2024, Cleavage ("Decote").

Mas ela não foi a primeira a escrever um livro erótico usando a cena política do Reino Unido. Edwina Currie, deputada conservadora por South Derbyshire de 1983 a 1997 e subsecretária de Estado da Saúde durante o governo de Margaret Thatcher, também se dedicou à ficção depois de deixar a política.

O seu romance de 1994, A Parliamentary Affair (Um caso parlamentar), entrelaça as manobras de Westminster com as relações íntimas, explorando os dramas pessoais de quem trabalha no mundo de alta pressão da política. A escrita de Currie é parcialmente reconstruída a partir do seu caso na vida real com o antigo primeiro-ministro do Reino Unido, John Major.

André Ventura (Portugal)

Em Portugal, o caso mais famoso de um político autor de escritos eróticos é, sem dúvida, o de André Ventura. Antes de se dedicar à política, o fundador e líder do Chega foi autor de dois livros, Montenegro e A Última Madrugada do Islão, ambos publicados pela Chiado Editora, uma conhecida plataforma de vanity press (ou seja, em que é o próprio autor a financiar a edição) e ambos carregados descrições explícitas de atos sexuais, geralmente brutais e violentos.

O primeiro conta a história de um ciclista chamado Luís Montenegro — Ventura diz que o facto de se chamar como o atual primeiro-ministro, então deputado, é uma "mera coincidência" — que descobre ser seropositivo.

Mas foi o segundo romance a dar mais que falar. Contando a história paralela de um jovem de Paris que se deixa envolver no fundamentalismo islâmico e de uma conspiração para matar Yasser Arafat, o livro retrata o fundador da OLP como homossexual e inclui fantasias sexuais de Yasser Arafat com a mulher do profeta Maomé. O livro conheceu uma primeira edição em 2009, retirada do mercado devido a alegadas ameaças, como noticiado então pela revista Visão.

No vídeo abaixo, poderão ouvir uma longa (e divertida) análise de A Última Madrugada do Islão feita pelo podcast de Bruno Henriques e Sérgio Duarte:

O livro foi reeditado em 2015. Ambos os romances de André Ventura se encontram esgotados e são, hoje, quase impossíveis de comprar. No próprio site da editora, ao clicarmos em A Última Madrugada do Islão, somos confrontados com uma mensagem de erro. Montenegro não aparece sequer.

Um artigo de 2020 da revista Sábado detalha a longa lista de erros ortográficos e palavras mal usadas (sendo a confusão entre hiato e iate a mais hilariante) nos livros de Ventura.

Frase a recordar (ou que preferimos esquecer): "Agarrou-lhe depois a cabeça, como quem leva uma criança a comer o que está no prato, e trouxe-a junto ao seu pénis duro e tenso." Ventura, A. (2008). Montenegro. Chiado Editora.


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