Fogos de Figueira de Castelo Rodrigo e Arganil são os que mais preocupam

Os incêndios florestais que lavram em Portugal continental há mais de 20 dias e que já provocaram três vítimas mortais continuam a gerar apreensão, mantendo autoridades e populações do interior em alerta máximo.
Nesta sexta-feira, o fogo de Figueira de Castelo Rodrigo é um dos que mais meios mobilizam. Ao início da tarde, atuavam neste concelho do distrito da Guarda 231 bombeiros, apoiados por 71 viaturas e seis meios aéreos. O vento foi a principal dificuldade durante a noite, num incêndio que começou na quarta-feira e que alastrou a Almeida e Pinhel, consumindo mato em zonas de difícil acesso, ainda que a situação esteja agora sob controlo nestes dois últimos municípios.
"Durante a noite houve um reforço significativo de homens e viaturas, nomeadamente máquinas de rasto, que estiveram empenhados em trabalhos de contenção para debelar o incêndio e facilitar o trabalho dos meios aéreos hoje de manhã", declarou à agência Lusa o presidente da Câmara de Almeida, António José Machado, a meio da manhã de hoje.
Ainda no distrito da Guarda, mas mais a sul, o incêndio em Seia, que começou no passado dia 13 em Arganil, foi dado como circunscrito na noite de quinta-feira, "estando em curso trabalhos de consolidação e rescaldo, bem como vigilância ativa", confirmou o município na rede social Facebook. Ainda assim, também na Serra da Estrela, há focos de fogo no concelho vizinho da Covilhã, onde quatro localidades tiveram mesmo de ser confinadas: "uma nova frente, proveniente de Unhais da Serra, está a lavrar na cumeada que separa os dois concelhos, descendo para Alvoco da Serra, sem colocar a povoação em risco", adianta a autarquia de Seia na mesma publicação, dando conta de que não há condicionamentos na circulação rodoviária, "embora se recomende especial atenção ao atravessar zonas afetadas pelo incêndio".
O segundo fogo de grandes dimensões que está ativo esta sexta-feira progride em Arganil, em particular na freguesia de Piódão. Segundo a Proteção Civil, estão mobilizados para esta ocorrência, no início da tarde de hoje, 1640 operacionais, que contam com o auxílio de 537 viaturas e 21 aeronaves.
Já o incêndio do Fundão, no distrito de Castelo Branco, não apresentava esta manhã quaisquer frentes ativas, como relatou à Lusa o presidente da autarquia Paulo Fernandes. Decorrem, porém, trabalhos de vigilância "por causa de reacendimentos que podem acontecer durante este dia" e da "tentativa de consolidação de um perímetro absolutamente gigantesco".
No total, de acordo com a Proteção Civil, lutam contra as chamas, esta sexta-feira no território continental (13h30), mais de três mil bombeiros, auxiliados por mais de 960 meios terrestres e 35 meio aéreos.
Segundo dados oficiais provisórios, até 20 de agosto arderam mais de 222 mil hectares em Portugal, o que supera o registo de área ardida em todo o ano de 2024.
Isenções fiscais, apoios à tesouraria e comparticipação na reconstrução de casas
Debaixo de críticas da oposição, de autarcas e das populações afetadas, o governo aprovou na quinta-feira, num Conselho de Ministros extraordinário em Viseu, um pacote de 45 medidas de apoio a agregados familiares, agricultores, câmaras municipais e negócios.
Além de um plano a 25 anos para melhorar o ordenamento da floresta e de um novo instrumento legislativo que passará a orientar os governos em situação de emergência causada por incêndios, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou uma série de apoios financeiros para famílias com comprovada carência económica e para as empresas atingidas.
Estão previstas isenções totais ou parciais de contribuições para segurança social em atividades devastadas pelos fogos, bem como comparticipação a 100% para reconstrução de casas de primeira habitação até 250 mil euros e 85% no valor remanescente.
Uma das medidas que estão a causar polémica é a isenção de taxas moderadoras na saúde, nas zonas afetadas pelos incêndios. A antiga ministra socialista, Marta Temido, diz ter ficado chocada com o anúncio.
"Confesso que estremeci ao ouvir. As taxas moderadoras já não existem no Serviço Nacional de Saúde, salvo urgências não referenciadas, desde maio de 2022", escreveu na rede social X a antiga governante responsável pela pasta da Saúde, sublinhando que "em momentos tão difíceis para tantas famílias, era importante que a comunicação fosse rigorosa e clara".
Entretanto, no comunicado do Conselho de Ministros divulgado hoje, o executivo esclareceu que a isenção se aplica "nas urgências para doentes não referenciados".
Montenegro recusou ter menosprezado a ameaça dos incêndios e considerou as críticas injustas.
"Se porventura, em algum momento, foi criada alguma perceção de que esse acompanhamento não era tão próximo, intenso e profundo, eu só posso lamentar que isso tenha acontecido, porque sinto até injustiça dessa imputação", afirmou, apesar de ter admitido que pode ter "contribuído para isso que tenha acontecido”.
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