Irá a economia da UE sobreviver ao acordo comercial com os EUA?

Em 2024, os EUA importaram bens da UE no valor de 606 mil milhões de dólares e exportaram cerca de 370 mil milhões de dólares (318,7 mil milhões de euros). Para inverter o défice, os EUA vão passar a aplicar uma tarifa de 15 % a cerca de 70 % dos bens que recebem da UE, nos termos do acordo alcançado a 27 de julho, após uma reunião entre a Comissão Europeia (que negoceia em nome do bloco) e a administração norte-americana.
No entanto, a taxa negociada para a UE é mais elevada do que a obtida por outro importante parceiro comercial dos EUA e da UE: o Reino Unido.
"A Comissão Europeia afirma que 15 % é um bom negócio, porque a tarifa de 10 % do Reino Unido não é uma taxa com tudo incluído, o que significa que não incorpora as tarifas de importação existentes nos EUA aplicadas ao Reino Unido", disse Amandine Hess, que tem estado a cobrir a história para a Euronews.
As duas partes acordaram que as tarifas não irão ser aplicadas a determinados setores estratégicos para ambos os blocos, como os aviões e respetivos componentes, determinados produtos farmacêuticos, recursos naturais e matérias-primas críticas, entre outros.
A indústria automóvel da UE é um dos poucos setores que vê com bons olhos o acordo, uma vez que passará a pagar 15 % em vez dos 27,5 % impostos no início do mandato de Trump. Em contrapartida, o aço e o alumínio continuarão a ser tributados a 50 %.
A Comissão Europeia irá continuar as negociações com os Estados Unidos a fim de obter mais isenções tarifárias para determinados produtos e contingentes para outros.
No entanto, vários governos da UE consideraram o acordo uma desilusão e até uma "submissão", nas palavras do primeiro-ministro francês.
E o défice da UE no comércio de serviços?
O bloco poderia ainda impor contramedidas de reequilíbrio ou utilizar o poderoso Instrumento Anticoerção, que pode ser utilizado para proibir as empresas americanas de acederem aos contratos públicos da UE.
Embora a UE tenha um excedente em relação aos EUA no que diz respeito a bens, enfrenta um défice em serviços, especialmente no setor digital e no desenvolvimento crucial da Inteligência Artificial.
"Todos os serviços digitais que utilizamos na UE são serviços americanos. E surgiu a ideia de os atingir especificamente com o Instrumento Anticoerção", disse Niclas Poitiers, investigador do grupo de reflexão Bruegel, sediado em Bruxelas.
"A verdadeira questão é descobrir como construir um mercado único digital que permita às empresas europeias escalar na mesma medida em que a Google e a Apple fizeram e depois competir com estas empresas no panorama mundial, em vez de nos limitarmos a importar estes serviços de rápido crescimento dos Estados Unidos", acrescentou Poitiers.
O presidente dos EUA, Donald Trump, também exigiu compromissos por parte da UE que poderão ser difíceis de cumprir.
"A Comissão Europeia prometeu que as empresas europeias irão investir pelo menos 600 mil milhões de dólares (516,9 mil milhões de euros) nos EUA até 2029 e comprometeu-se a comprar 750 mil milhões de dólares (646,1 mil milhões de euros) de gás natural liquefeito, petróleo e produtos energéticos nucleares aos EUA. Donald Trump afirma também que a UE irá comprar armas americanas, mas estas decisões terão de ser tomadas pelos governos da UE e pelas empresas privadas, não por Bruxelas", observou Amandine Hess.
O acordo comercial entre a UE e os EUA requer ainda a aprovação dos 27 Estados-Membros da UE, o que poderá também revelar-se complicado.
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Jornalista: Isabel Marques da Silva
Produção de conteúdos: Pilar Montero López
Produção de vídeo: Zacharia Vigneron
Grafismo: Loredana Dumitru
Coordenação editorial: Ana Lázaro Bosch e Jeremy Fleming-Jones
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