Estará a UE a falhar na prevenção dos incêndios florestais?

De acordo com os dados fornecidos pelo satélite Copernicus, utilizado para a observação da Terra, mais de um milhão de hectares de floresta da UE arderam até ao final de agosto deste ano, um valor quase cinco vezes superior à área afetada pelos incêndios florestais no ano anterior.
Os Estados-Membros mais afetados foram Portugal, com 3 % do território ardido, Chipre, com 2,3 %, e Espanha, com 0,8 %.
Nos últimos anos, a Comissão Europeia disponibilizou equipas de plantão, geridas pelo Centro de Coordenação de Resposta de Emergência, para ajudar os Estados-Membros. Em 2025, foi disponibilizada uma reserva de 22 aviões e 650 bombeiros por 14 Estados-Membros.
"O objetivo é garantir um tempo de resposta mais rápido, mas também permitir que haja uma partilha de conhecimentos, muito valiosa e muito importante no âmbito das alterações climáticas. Os incêndios florestais estão a alastrar cada vez mais a zonas da Europa onde não ocorriam com tanta frequência, como o Norte e o Leste da Europa", disse Alice Tidey, que tem estado a cobrir o assunto para a Euronews.
Ativistas e cientistas afirmam que os governos continuam a não dar prioridade à prevenção. A eurodeputada Catarina Martins, deputada do Bloco de Esquerda ao Parlamento Europeu, concorda com esta avaliação e está preocupada sobretudo com o facto de a agricultura e o desenvolvimento rural serem desvalorizados no orçamento de longo prazo da UE para o período de 2028 a 2034.
"Não há qualquer esforço de adaptação da agricultura, nem de adaptação da política florestal, nem de coesão territorial. Aquilo que está a ser decidido sobre os próximos quadros financeiros da União Europeia tende a agravar esta situação. Estamos a gastar e a prometer gastar milhares de milhões em indústrias de defesa que não vão proteger a população europeia", disse Martins, que faz parte da Comissão do Ambiente, do Clima e da Segurança Alimentar.
A Comissão Europeia financia vários projetos para a resiliência a longo prazo aos incêndios florestais e estabeleceu um plano de ação em 2022, mas o Tribunal de Contas Europeu (TCE) tem criticado a forma como alguns governos os têm utilizado.
"O TCE alertou que muitas das decisões são tomadas com base em dados muito desatualizados. Na Grécia, por exemplo, que é, por norma, muito afetada pelos incêndios florestais, a lista de áreas propensas a incêndios florestais já tem 45 anos", segundo Alice Tidey, da Euronews.
"Não esqueçamos que a Europa é o continente que está a aquecer mais rapidamente. Não se trata de algo longínquo, os riscos já existem: voltaremos a ter inundações, voltaremos a ter incêndios, voltaremos a ter este tipo de sustos. Por conseguinte, a política climática não pode ser abandonada", acrescentou a eurodeputada.
Entretanto, a UE prometeu reforçar as capacidades de combate aos incêndios para ajudar os países mais afetados. Entre 2026 e 2029, uma nova frota de 12 aviões e 5 helicópteros, financiada pela Comissão Europeia, será mobilizada de forma permanente para França, Grécia, Portugal, Espanha, Itália e Croácia.
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Jornalista: Isabel Marques da Silva
Produção de conteúdos: Pilar Montero López
Produção de vídeo: Zacharia Vigneron
Grafismo: Loredana Dumitru
Coordenação editorial: Ana Lázaro Bosch e Jeremy Fleming-Jones
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