No escuro: quais os países europeus com maior risco de apagão?

Qual o pior sítio possível para abrir uma empresa de produtos alimentares congelados na Europa? Será, provavelmente, a Albânia.
O país foi classificado como o mais afetado por apagões na Europa e na Eurásia.
Em média, regista cerca de 40 falhas de energia por ano, o que se traduz em cerca de 65 horas sem energia por pessoa. Muito mais do que em qualquer outro país do continente.
No verão de 2024, o país foi atingido por um grande corte de energia, juntamente com outros países dos Balcãs, como a Croácia, o Montenegro e a Bósnia-Herzegovina.
A capital da Albânia, Tirana, foi novamente atingida por uma grande falha de energia no início de janeiro.
O vizinho da Albânia, a Macedónia do Norte, vem em segundo lugar, com cerca de 13 apagões por ano e mais de 6 horas de inatividade.
A Geórgia e a Arménia também são afectadas por cortes frequentes e prolongados, que totalizam entre seis e sete horas por ano, com várias interrupções por cliente.
Itália, a terceira maior economia da UE, ocupa o 13.º lugar entre 38 países, com quase dois cortes de energia por ano, de acordo com o estudo do fabricante mundial de cabos Wiringo.
Talvez ainda mais surpreendente seja o facto de a Noruega ocupar o 15º lugar.
Apesar de ter uma das redes elétricas mais fiáveis do mundo (com uma continuidade de fornecimento de quase 100% (99,99%), o país pode ser atingido por fenómenos meteorológicos extremos, desde fortes tempestades de neve a quedas de árvores.
No outro extremo do espetro, a Suíça é o país mais fiável em termos de fornecimento de eletricidade, com praticamente zero cortes de energia por ano (apenas 0,19 em média).
Alemanha, França, Reino Unido e Luxemburgo também estão entre os melhores, com menos de 20 minutos de inatividade anual por pessoa.
Rede elétrica da Europa está a ser testada como nunca antes
Hommer Zhao, diretor da Wiringo e especialista mundial em fabrico de produtos eletrónicos, explica:
"Os sistemas de eletricidade da Europa estão a ser testados como nunca antes. A resiliência da rede não é garantida pela geografia ou pela pertença à UE e depende do nível de investimento e modernização das infraestruturas locais".
"À medida que a procura aumenta, os cortes de energia nos países de alto risco podem agravar-se se não forem feitas atualizações urgentes."
Em abril, Portugal, Espanha e, mais marginalmente, França sofreram um apagão maciço de quase 24 horas, que causou perturbações generalizadas nos transportes públicos e obrigou os hospitais a suspender as operações.
No seu comentário sobre o incidente, o Fórum Económico Mundial afirmou que, embora "a procura de eletricidade esteja a crescer devido a fatores como o desenvolvimento económico e o lançamento de novas tecnologias, como a inteligência artificial", "a produção de energia está a tornar-se mais descentralizada e variável".
"O corte de energia pôs em evidência como todas as áreas da sociedade moderna podem ser afectadas se a energia cair".
Avaliações posteriores sugeriram que o apagão ocorreu na sequência de uma série de incidentes na rede elétrica durante apenas cinco segundos.
Segundo os especialistas, o facto de Espanha e Portugal estarem ligados ao resto da Europa por uma única grande interconexão - que falhou durante o apagão - tornou o sistema mais vulnerável aos apagões.
Poderão os veículos elétricos ser a solução fácil para as perturbações da rede elétrica na Europa?
De acordo com a Agência Internacional da Energia, os investimentos na rede global devem duplicar até 2030, passando de cerca de 255 mil milhões de euros para mais de 500 mil milhões de euros, para garantir a estabilidade do fornecimento de eletricidade.
O Instituto do Ambiente de Estocolmo adverte que o aumento da capacidade não será suficiente.
"Trata-se de construir sistemas mais inteligentes, mais rápidos e mais flexíveis que possam acomodar o rápido crescimento das energias renováveis variáveis, dos veículos elétricos e das bombas de calor".
"Um recurso largamente inexplorado é a crescente frota de veículos eléctricos (VE)", afirma a organização.
"Os sistemas Vehicle-to-grid (V2G) permitem que os VEs forneçam eletricidade de volta à rede durante momentos de instabilidade. As frotas de autocarros públicos, por exemplo, são candidatos ideais: têm grandes baterias, horários previsíveis e um depósito centralizado".
O instituto diz ainda que o grande apagão ibérico foi um sinal de que a Europa não está a fazer "o suficiente para apoiar a transição".
"Se queremos sociedades seguras, com baixo teor de carbono e electrificadas, precisamos de mais do que apenas produção limpa. Precisamos de investimento na rede, mais flexibilidade através de baterias e V2G, coordenação transfronteiriça e uma compreensão mais realista do que é realmente necessário para a resiliência."
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