Candidatura da Sérvia à UE: a ambição conjunta, motivada pela necessidade, enfrenta obstáculos de política externa
A caminhada da Sérvia em direção à União Europeia começou em janeiro de 2001, quando os partidos pró-europeus ganharam as eleições parlamentares após a queda de Slobodan Milošević em outubro de 2000.
Na altura, alguns observadores chegaram a especular que a República Federal da Jugoslávia - que deixaria de existir em 2006, após a retirada do Montenegro - poderia aderir à UE já em 2007.
A realidade depressa se revelou mais complicada. O Kosovo, sob administração da ONU após a guerra de 1999, faz legalmente parte da Sérvia ao abrigo da Resolução 1244 da ONU. Declarou a sua independência em 2008, um ato que a Sérvia não reconhece.
Muito antes de assinar o Acordo de Estabilização e de Associação (AEA) e de obter o estatuto de candidato à adesão à UE em 2009, a Sérvia enfrentou vários desafios. O país teve dificuldades em cooperar com o Tribunal Penal Internacional para a ex-Jugoslávia (TPIJ) em Haia, sofreu um colapso económico e enfrentou uma insurreição separatista de etnia albanesa nas regiões meridionais de Bujanovac e Preševo.
Apesar destes obstáculos, enveradaram por um caminho de longo prazo em direção à integração europeia, um objetivo que continua a ser central na estratégia política da Sérvia.
Do otimismo inicial ao declínio do apoio
No início da década de 2000, mais de 70% dos sérvios apoiavam a integração na UE. Atualmente, esse número desceu para cerca de 40%. O entusiasmo do público diminuiu, mas a liderança política continua a defender a via europeia.
O primeiro-ministro Đuro Macut sublinhou que a orientação europeia da Sérvia não é apenas uma prioridade estratégica, mas também uma promessa de uma vida melhor para os cidadãos.
"O futuro europeu da Sérvia não é apenas um objetivo político, mas também uma garantia de desenvolvimento, progresso e uma vida melhor para os nossos cidadãos", disse Macut à Euronews Sérvia.
O governo tem continuado a implementar medidas de reforma e a modernizar as suas instituições, sinalizando a Bruxelas que a Sérvia está a levar a sério os seus compromissos.
Macut sublinhou que a Sérvia alcançou 61% de alinhamento com a Política Externa e de Segurança Comum da UE, o que demonstra um progresso tangível, mas deixa espaço para novas reformas.
Para além da harmonização política e jurídica, a segurança energética continua a ser uma questão fundamental. A Sérvia está a trabalhar para garantir um abastecimento estável de gás, petróleo e eletricidade, cooperando estreitamente com os parceiros regionais, incluindo a Hungria.
"A Sérvia deve manter a independência e a estabilidade energéticas, mesmo em condições internacionais complexas", afirmou Macut.
Este duplo enfoque no alinhamento europeu e na resiliência energética reflete a estratégia mais ampla de garantir tanto a credibilidade internacional como a estabilidade interna.
Debates sobre o alargamento da UE
Ao mesmo tempo, Bruxelas tem vindo a debater um novo modelo de alargamento: a adesão parcial, em que os novos países poderiam aderir sem pleno direito de voto. A ideia gerou controvérsia nos Balcãs Ocidentais.
O primeiro-ministro montenegrino, Milojko Spajić, rejeitou liminarmente a proposta, sublinhando que a soberania não pode ser comprometida.
O primeiro-ministro croata, Andrej Plenković, também manifestou reservas, preocupado com o facto de a eventual adesão da Sérvia poder alterar a influência institucional na UE.
"A Croácia não estaria muito interessada em ver a Sérvia na UE, porque isso reforçaria a posição da Sérvia nas instituições da UE", disse Slobodan Zečević, do Instituto de Estudos Europeus (IES), sediado em Belgrado.
Entretanto, a Bósnia-Herzegovina continua a ficar para trás, tendo sido descrita por Amil Dučić, editor do Fokus, de Sarajevo, como o "pior aluno" da região no que respeita à integração na UE.
Estes debates põem em evidência o delicado equilíbrio entre a ambição política, a dinâmica regional e a própria capacidade da UE para absorver novos membros.
O caminho a percorrer pela Sérvia
Nemanja Starović, ministro da integração europeia da Sérvia, reconheceu a crescente impaciência do público com o ritmo lento da adesão.
"Apesar da insatisfação, desistir da integração na UE seria um erro. A adesão à UE é do interesse nacional da Sérvia", disse à Euronews.
Os analistas sugerem que a Sérvia poderá estar pronta para aderir à UE em 2030, apesar de subsistirem vários obstáculos. Os obstáculos políticos, as rivalidades regionais e a dependência energética da Rússia continuam a complicar o caminho.
"É muito difícil para nós viver sem o gás russo. Existem alternativas, mas, por enquanto, dependemos muito da Rússia", disse Zečević.
Embora a adesão parcial tenha sido proposta como uma solução temporária, muitos especialistas consideram-na um paliativo que corre o risco de minar o princípio da UE de igualdade de condições para todos os membros.
Os alargamentos anteriores demonstram como alguna países podem bloquear os seus vizinhos: a Eslovénia bloqueou a Croácia, a Croácia bloqueia agora a Sérvia e a Bulgária bloqueia a Macedónia do Norte. O Montenegro e a Albânia parecem estar mais preparados para a adesão até 2030, o que lhes valeu uma maior simpatia por parte da UE.
"A UE tem atualmente a maior simpatia pelo Montenegro e pela Albânia", disse Zečević. "A adesão parcial iria apenas atrasar a reforma institucional."
As rivalidades regionais, os desafios políticos internos e as questões não resolvidas, como o Kosovo, continuam a moldar a trajetória dos Balcãs Ocidentais na UE, tornando a adesão um objetivo a longo prazo e um esforço estratégico delicado.
Este artigo foi escrito em exclusivo para a Euronews pela Euronews Sérvia, antes da Cimeira sobre o Alargamento da UE, a 4 de novembro, que será transmitida em direto e no YouTube.
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