EUA confirmam caso raro de parasita devorador de carne: o que precisa de saber sobre a "Lombriga do Novo Mundo"

Um residente nos Estados Unidos que viajou para El Salvador foi diagnosticado com a lombriga do Novo Mundo - o primeiro caso relatado no país relacionado com uma viagem a um país com um surto atual.

Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA confirmaram o diagnóstico no dia 4 de agosto. As autoridades sanitárias federais reconheceram a infeção numa declaração enviada por correio eletrónico na segunda-feira.

A pessoa recuperou e os investigadores não detetaram qualquer transmissão a outras pessoas ou animais, segundo as autoridades sanitárias de Maryland, onde vive a pessoa infetada.

A mosca-bicheira-do-novo-mundo é uma mosca que põe os seus ovos em feridas abertas e orifícios do corpo. O parasita encontra-se normalmente na América do Sul e nas Caraíbas.

É raro nos seres humanos, mas tem sido uma preocupação para os criadores de gado, uma vez que as infestações em gado têm vindo a deslocar-se para norte através da América Central e do México. O CDC está a trabalhar com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos para evitar uma maior propagação, disseram as autoridades.

A praga foi um problema recorrente para a indústria pecuária americana durante décadas, sendo a Florida e o Texas conhecidos como pontos críticos, até que os EUA a erradicaram em grande parte nas décadas de 1960 e 1970.

Dado esse historial, o caso de Maryland não é provavelmente a primeira vez que um americano é diagnosticado com a doença, explicou Max Scott, um investigador da Universidade Estadual da Carolina do Norte que estudou o assunto.

Mas este parece ser o primeiro caso num residente dos EUA desde há algum tempo, informou ainda.

Aqui está o que precisa de saber sobre o parasita.

O que é a mosca-bicheira-do-novo-mundo?

O nome faz referência a uma mosca azul-esverdeada que se tornou algo infame depois de terem sido registadas infestações, no século XIX, na colónia penal da Ilha do Diabo, na costa da América do Sul.

O nome da espécie em latim traduz-se aproximadamente como "devoradora de homens", referiu Scott.

As moscas fêmeas põem os ovos numa ferida aberta ou no nariz, olhos ou boca de um animal ou pessoa, que rapidamente se transformam em larvas que comem a carne.

O próprio nome remete para essas larvas, que podem ter até 17 milímetros de comprimento e parecem estar a enroscar-se na carne.

"É um parasita desagradável", disse Scott.

Quais são os riscos e sintomas para as pessoas?

As larvas não se transmitem de pessoa para pessoa e representam um risco geral muito baixo para a população, segundo as autoridades de saúde dos EUA.

De acordo com o CDC, as pessoas correm maior risco se viajarem para áreas com infestações de animais e passarem tempo entre gado, dormirem ao ar livre e tiverem feridas abertas.

Os sintomas também podem incluir feridas dolorosas e inexplicáveis ou úlceras que não cicatrizam. Um sinal revelador é ver larvas ao redor de feridas abertas. Outro é um odor desagradável proveniente da parte afetada do corpo.

Como é que se trata?

Os médicos têm de remover as larvas, por vezes através de cirurgia.

Não tente remover ou eliminar as larvas por conta própria, recomenda o CDC.

São esperados mais casos em humanos ou animais nos EUA?

É possível.

Durante décadas, os cientistas conseguiram controlar o inseto através da libertação de milhares de milhões de moscas machos esterilizadas, mas falhas nesse trabalho e a migração de pessoas e animais ajudaram-nas a espalhar-se para norte, para a América Central e o México, mais recentemente.

Novas técnicas genéticas estão a ser desenvolvidas para detê-los, e o governo dos EUA está a intensificar o seu trabalho para controlar os parasitas. Mas eles continuam a ser uma preocupação.

"Não sei se ele vai voltar aos Estados Unidos", disse Scott.

Se isso acontecer, a área da fronteira entre o Texas e o México provavelmente será o primeiro lugar a dar pelo seu aparecimento, informou ainda.

E na Europa?

Nem a lombriga do Novo Mundo nem a sua parente próxima, o parasita do Velho Mundo, se estabeleceram de forma permanente na Europa. Esta segunda pode ser encontrada em partes da Ásia, no Médio Oriente e na África tropical e subsariana.

Mas casos esporádicos podem tornar-se possíveis devido às viagens internacionais.