Depois de drones russos invadirem o espaço aéreo polaco, que tecnologia de defesa tem a Polónia?

A prontidão da Polónia para responder a ameaças à segurança nacional está a ser testada depois de o exército e aliados da NATO terem abatido vários drones russos sobre o espaço aéreo polaco esta semana.
A Polónia ativou o artigo 4.º do Tratado da NATO em resposta à incursão, que o primeiro-ministro classificou como um "ato de agressão" e que é negada por Moscovo. A medida permitiu a realização de consultas com os membros da NATO em solo polaco e levou à suspensão de voos em vários aeroportos.
O exército polaco colocou as forças de defesa no "mais alto estado de prontidão", de acordo com uma publicação na plataforma social X.
A Polónia tem vindo a preparar-se para uma ameaça deste tipo há anos. Em 2022, adotou a Lei da Defesa Nacional, que atribui mais dinheiro às forças militares e abre novos caminhos para o serviço militar.
Atualmente, o país gasta mais do que qualquer outro país da NATO em arsenal militar em relação à sua dimensão económica. Este ano, gastou com a defesa 4,48% do produto interno bruto (PIB) anual, no valor de 186,6 mil milhões de zlótis (43,8 mil milhões de euros).
Então, de que armas dispõe a Polónia para combater uma possível agressão russa?
Defesa integrada contra ar e mísseis
A Polónia está a estruturar a defesa aérea de modo a cobrir todas as ameaças, desde mísseis balísticos a drones que voam a baixa altitude.
Por exemplo, a empresa polaca Advanced Protection Systems (APS) afirmou ter desenvolvido o sistema anti-drone SKYctrl que utiliza algoritmos de aprendizagem automática para "distinguir automaticamente entre [drones] e aves, reduzindo os falsos alarmes".
A Universidade Militar de Tecnologia de Varsóvia afirmou que um projeto conjunto com uma fábrica de equipamentos mecânicos produziu um sistema anti-drone que pode pôr uma metralhadora de 12,7 milímetros a disparar automaticamente até 3.600 tiros por minuto contra drones a cerca de 3,5 quilómetros de distância.
O governo polaco disse que tem um sistema antiaéreo e antimíssil conhecido como PATRIOT (WISŁA) incorporado numa unidade militar chave para a defesa aérea. O executivo diz que este sistema vai combater "mísseis balísticos táticos de curto alcance", como mísseis de cruzeiro, drones e ataques aéreos pilotados.
O sistema vai utilizar um radar avançado, conhecido como LTAMDS (Lower Tier Air and Missile Defence Sensor), da Raytheon, que, segundo a própria empresa, pode derrotar armas hipersónicas. A Polónia também tem um acordo para adquirir os mísseis PAC-3 MSE da Lockheed Martin, que descreve como o "míssil de defesa aérea mais avançado do mundo".
O país conta igualmente com dois sistemas de defesa aérea de curto alcance (SHORAD), incluindo os MANPADS Piorun para alvos até 6,5 quilómetros de distância, e o sistema de defesa aérea de curto alcance NAREW, que pode atingir alvos a mais de 40 quilómetros de distância.
Está também a construir outro sistema anti-drone, através WB Electronics, que foi apelidado de "Monstro". Os media locais referem que os pormenores técnicos são confidenciais, mas que o sistema pode combater pequenos drones de reconhecimento e sistemas de armas maiores.
Revolução dos drones
A Polónia também está a adquirir drones aos aliados.
Em 2024, comprou três aeronaves pilotadas remotamente MQ-9B SkyGuardian do fabricante americano General Atomics. A empresa diz que as aeronaves vão servir "como plataforma fundamental de inteligência, vigilância e reconhecimento" na Polónia.
Estes drones, quem têm 11,7 metros de comprimento e uma capacidade de carga útil de 2.155 quilos, podem voar via satélite durante mais de 40 horas em todos os tipos de condições meteorológicas e através do espaço aéreo civil, o que, segundo a General Atomics, dá às autoridades "conhecimento situacional em tempo real em qualquer parte do mundo, de dia ou de noite".
Em julho, o país reservou um montante adicional de 200 milhões de zlótis (46,9 milhões de euros) para a aquisição de drones e sistemas de treino. Também afirmou estar a desenvolver um centro de drones no Instituto de Tecnologia da Força Aérea, responsável por "equipar as forças armadas com mini-drones capazes de disparar fogo".
"Estamos a embarcar numa revolução dos drones", afirmou Cezary Tomczyk, secretário de Estado do Ministério da Defesa Nacional da Polónia, durante o anúncio feito em julho. "As Forças Armadas polacas estão a entrar numa nova era em que a utilização em massa de sistemas não tripulados vai tornar-se um dos principais pilares da nossa defesa".
Capacidade de ataque de longo alcance
A Polónia está a investir em armas de longo alcance que podem atingir alvos até 300 quilómetros de distância com mísseis guiados com precisão.
O país está a investir no lançador M142 High Mobility Artillery Rocket System (HIMARS), de fabrico americano, e no obuseiro autopropulsado AHS Krab, de produção nacional, um tipo de artilharia que dispara projéteis em arco alto.
O lançador HIMARS tem um alcance de até 300 quilómetros e, com futuras munições, o alcance deverá ir além dos 499 quilómetros, segundo o fabricante Lockheed Martin.
Cada sistema HIMARS transporta seis foguetes, dois mísseis de ataque de precisão ou um sistema supersónico MGM-140 Army Tactical Missile System (ATACMS).
O papel do AHS Krab é "desativar e destruir alvos localizados muito atrás das linhas inimigas", segundo o fabricante Huta Stalowa Wola (HSW).
A Polónia também está a recorrer à Coreia do Sul para adquirir obuseiros K9, com 824 obuses adquiridos em dois acordos separados com a Hanwha Defence em 2022 e 2023. Os acordos incluem obuses K9 autopropulsados e K9PLs, segundo a Reuters.
A Hanwha Defence afirma que o obuseiro autopropulsado K9, apelidado de "Thunder", é "a arma mais avançada do mundo" do seu tipo, porque proporciona "efeitos consistentes, precisos e rápidos a distâncias superiores a 40 quilómetros".
Uma extensa frota de tanques
A Polónia também está a investir em vários tipos de tanques com o objetivo de chegar a 1.100 tanques até 2030, tendo recentemente investido mais de 6 mil milhões de euros em 180 tanques sul-coreanos K2.
As forças armadas vão acabar por ter 360 K2s através de uma encomenda anterior de outras 180 unidades, a que se juntam 366 tanques Abrams americanos, 235 Leopardos alemães e 150 tanques PT-91 Twardy, fabricados na década de 1990, de acordo com a reportagem do Notes from Poland.
Os tanques K2 podem atingir uma velocidade de 70 quilómetros por hora e um alcance de 450 quilómetros, têm um motor de 1.500 cavalos e estão equipados com um canhão principal de 120 milímetros, calibre 55, com um sistema de carregamento automático, segundo o fabricante Hyundai Rotem.
Em 2022, a Polónia comprou 250 tanques aos Estados Unidos, num negócio no valor de 1,148 mil milhões de dólares (983 milhões de euros) que foi adjudicado à General Dynamics.
As primeiras unidades, agora no país, têm um canhão de cano liso M256 de 120 milímetros que pode "disparar uma variedade de tiros diferentes contra veículos blindados, pessoal e até aeronaves a voar baixo", revelou a empresa.
A Polónia tem no seu arsenal 247 tanques Leopard alemães de vários tipos, segundo a Defense News, incluindo os tanques Leopard 2A4, 2A5 e 2PL.
O país já enviou alguns destes tanques para a Ucrânia devido a acordos com os Estados Unidos e Coreia do Sul.
O país renovou ainda os tanques PT-91 da década de 1990 com "sistemas modernos de controlo de fogo" que permitem disparar mais rapidamente em condições diurnas ou noturnas, diz o fabricante polaco Bumar-Łabędy. Estes tanques pesam 47,5 toneladas e conseguem andar até 65 quilómetros por hora na estrada.
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