Poderá a Europa alcançar a autossuficiência estratégica em matéria de tecnologia de drones?

A Polónia, com base na sua experiência de guerra e no seu potencial industrial, está a investir cada vez mais no desenvolvimento dos seus próprios sistemas de drones - tanto ofensivos, de reconhecimento, como destinados à defesa. Piotr Wojciechowski, presidente da WB Electronics, uma das mais importantes empresas de defesa do país, fala sobre as orientações destes desenvolvimentos numa entrevista à Euronews.
Drones, a nova realidade do campo de batalha
"Aprendemos finalmente que os sistemas de drones, tanto os de reconhecimento, como os de ataque e os de engodo, são um desafio para todos nós, para os militares, mas também para a sociedade", afirma Wojciechowski.
Wojciechowski sublinha que os drones modernos não são brinquedos: "Não devem ser encarados da mesma forma que os drones que vemos nas lojas. São construídos para fins especiais. Em primeiro lugar, temos drones de reconhecimento que detetam alvos, por outro lado temos drones de ataque cujo objetivo é destruir vários tipos de objetos do lado inimigo".
Há ainda uma terceira categoria de drones, cujo objetivo é confundir o inimigo: "São construídos de forma a poderem ser detetados, de forma a refletirem o máximo possível o radar... e, por outro lado, para esconder os verdadeiros sistemas de combate nesta massa de drones".
"As experiências da guerra na Ucrânia mostram que queremos drones. Trata-se de uma espécie de vantagem sobre o inimigo", afirma o diretor executivo da WB Electronics. Segundo o CEO da WB Electronics, uma das lições mais importantes do conflito é a necessidade de construir sistemas de drones e sistemas para os combater: "O elemento de combate a estes sistemas é uma necessidade... Mas, por outro lado, não devemos esquecer que precisamos de construir os nossos próprios sistemas de drones para contrariar esta ameaça".
A Europa "acordou"
Wojciechowski recorda que os sinais de uma ameaça crescente já estavam a surgir há uma década: "Já sabíamos que haveria um tipo de ameaça desde 2014... A partir de 2022, começaram a ser envidados esforços intensivos para reforçar a defesa europeia." Os últimos anos foram um momento de "despertar europeu", salienta: "Tornou-se claro que o guarda-chuva de defesa dos EUA não é seguro. A Europa possui basicamente todas as tecnologias para construir esta indústria de defesa de forma eficaz".
O CEO está otimista: "Estou convencido de que, no espaço de alguns meses, ou talvez de alguns anos, esta indústria europeia será capaz de lidar com a situação e de produzir a quantidade certa de equipamento de qualidade para combater eficazmente as tentações de um agressor".
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou durante um debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, que o muro dos drones seria a resposta da UE às realidades da guerra moderna.
Polónia como exemplo de desenvolvimento rápido
A Polónia, sendo um dos líderes no desenvolvimento de tecnologias não tripuladas, tem hoje a oportunidade de se tornar um ator-chave na arquitetura de defesa europeia. "O governo polaco vai dar passos muito positivos nesta área - tanto em termos de construção de sistemas anti-drone como de aquisição de drones de vários tipos", acrescenta o presidente da WB Electronics.
Cezary Tomczyk, secretário de Estado do Ministério da Defesa, visitou o Centro de Drones PTK em Zielona Góra-Nowy Kisielin em 28 de julho de 2025.
"Queremos levar a cabo uma revolução dos drones na Polónia. Em primeiro lugar, será a compra de milhares de drones de treino, que são os drones mais simples, para os militares aprenderem a utilizá-los, e ao mesmo tempo estamos a iniciar o processo de produção e certificação de drones de combate. Um local como o Parque Tecnológico Espacial será extremamente útil para o nosso plano, pelo que posso desde já adiantar que vamos incluir o Parque neste conceito e estabelecer uma cooperação",afirmou o vice-ministro do Ministério da Defesa.
Wojciechowski salienta a rapidez com que a indústria de defesa polaca se está a desenvolver: "A nossa produção em algumas áreas não aumentou sequer mil vezes, mas vários milhares de vezes em três anos. Isto mostra a eficiência e a eficácia com que conseguimos desenvolver certas competências e métodos de produção".
A WB Electronics já tem mais de uma década de experiência no desenvolvimento de drones militares: "Não fazemos testes. São utilizados em grande número, em condições de guerra. E o mais importante é que estes drones são totalmente fabricados na Polónia e são construídos com base em sistemas".
"Temos uma cooperação ativa com o Ministério da Defesa e com os fabricantes de sistemas anti-drone para, por assim dizer, lhes proporcionar algum tipo de experiência. Como construir uma defesa deste tipo". acrescenta Wojciechowski.
Para além das aplicações ofensivas ou defensivas, a WB Electronic também está a desenvolver projetos para outras utilizações dos "drones": "Desenvolvemos um componente de drone médico, que também é muito importante no caso de uma potencial guerra".
Os drones estão a transformar a forma como as operações militares são conduzidas, aumentando significativamente as capacidades de reconhecimento e de ataque do exército.
A declaração de Wojciechowski permite tirar uma conclusão clara: o futuro dos drones na União Europeia depende da coordenação e da cooperação entre os Estados-membros. O desenvolvimento paralelo de sistemas ofensivos, de reconhecimento e anti-drone, o aumento da capacidade de produção, as cadeias de abastecimento e a interoperabilidade tecnológica são importantes.
O futuro dos drones não passa apenas pelo desenvolvimento da tecnologia, mas também pela construção da segurança e da independência estratégica da Europa.
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