Cientistas descobrem novo medicamento que impede crescimento do cancro sem danificar células saudáveis

Investigadores do Instituto Francis Crick em Londres, em colaboração com a empresa californiana Vividion Therapeutics, descobriram novos compostos químicos capazes de interromper o crescimento de tumores cancerígenos sem danificar células saudáveis.
Este avanço representa um passo científico significativo rumo ao desenvolvimento de tratamentos mais precisos e seguros para vários tipos de cancro.
Descoberta que muda as regras do jogo
Os investigadores focaram-se na relação entre o gene RAS, um dos mais associados ao cancro, e a enzima PI3K, que participa na regulação do crescimento celular.
Quando o gene RAS sofre mutações, permanece constantemente ativo, levando as células cancerígenas a dividir-se ininterruptamente. No entanto, desativar completamente este gene ou a enzima provoca efeitos secundários graves, pois ambos desempenham funções vitais no organismo, como a regulação dos níveis de açúcar no sangue.
Em vez de desativar completamente o gene ou a enzima, os cientistas conseguiram interromper apenas a comunicação entre eles, o que impediu os sinais que estimulam o crescimento das células cancerígenas sem afetar as células saudáveis.
Resultados impressionantes em testes iniciais
Os investigadores testaram os novos compostos em ratos com cancro do pulmão causado por mutações no gene RAS, observando a interrupção total do crescimento dos tumores sem efeitos secundários, como o aumento do açúcar no sangue.
Quando o medicamento foi combinado com outros que visam o mesmo caminho, o resultado foi ainda mais eficaz e duradouro na supressão do tumor.
Os compostos também foram testados em ratos com cancro da mama associado ao gene HER2, mostrando o mesmo efeito de redução dos tumores, mesmo sem mutações no gene RAS, sugerindo a possibilidade de utilização do tratamento para uma gama mais ampla de cancros.
Do laboratório para os testes em humanos
Após estes resultados promissores, a equipa já iniciou a primeira fase dos ensaios clínicos em humanos para testar a segurança do medicamento e os seus efeitos secundários em pacientes com mutações nos genes RAS e HER2.
Os ensaios também irão investigar se o tratamento é mais eficaz quando utilizado com outros fármacos que visam os mesmos caminhos.
Julian Downward, chefe do Laboratório de Biologia de Oncogenes no Instituto Crick, afirmou: "Trabalhámos durante anos para tentar interromper a interação do gene RAS com os caminhos de crescimento celular, mas os efeitos secundários eram sempre o maior obstáculo".
E acrescentou: "Agora conseguimos direcionar especificamente a relação entre RAS e PI3K, sem comprometer as funções normais das células, o que é um verdadeiro avanço".
Por sua vez, Matt Petroselli, diretor científico da Vividion, afirmou: "Conseguimos desenhar moléculas que interrompem o sinal que causa o crescimento do cancro sem afetar os processos vitais das células. Ver esta descoberta avançar para ensaios clínicos é incrível e promissor para os pacientes".
Um novo passo na luta da medicina contra o cancro
Esta descoberta representa uma mudança significativa na abordagem ao cancro, pois foca-se em interromper os sinais que causam a divisão das células em vez de as destruir completamente.
Se o medicamento provar ser bem-sucedido nos ensaios clínicos, poderá abrir caminho para uma nova geração de tratamentos inteligentes que atacam o cancro com precisão, preservando a saúde do corpo.
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