Alguns antidepressivos têm efeitos secundários físicos mais graves do que outros

Qualquer pessoa a quem tenha sido receitada medicação para tratar a depressão está familiarizada com a longa lista de potenciais efeitos secundários: sonolência, perda de apetite, dores de cabeça, etc.
Mas, na realidade, os efeitos secundários físicos diferem significativamente de fármaco para fármaco, de acordo com um novo estudo que concluiu que alguns antidepressivos podem causar alterações rápidas no peso, no ritmo cardíaco e na tensão arterial - enquanto outros são "relativamente benignos".
"Nem todos os antidepressivos são iguais no que diz respeito aos seus efeitos secundários físicos", afirmou Toby Pillinger, um dos autores do estudo e professor de clínica académica no King's College de Londres, durante uma reunião com jornalistas.
Os investigadores afirmaram que a sua análise, publicada na revista médica The Lancet, é a primeira a associar efeitos secundários físicos específicos a medicamentos antidepressivos individuais.
Os resultados poderão alterar a forma como os médicos prescrevem estes medicamentos, que são tomados por cerca de 17% dos adultos na Europa e na América do Norte, segundo o estudo.
"Seria bom saber quais os antidepressivos que são melhores ou piores do que outros para estes diferentes efeitos secundários físicos, de modo a orientar a prescrição personalizada", afirmou Pillinger.
"O problema é que, até agora, não dispúnhamos de dados comparativos para orientar essas decisões", acrescentou.
A equipa de Pillinger compilou dados de 151 estudos e 17 relatórios da Food and Drug Administration (FDA) dos EUA. A análise abrangeu cerca de 59 000 pessoas que tomaram antidepressivos ou um placebo - um tratamento simulado - durante uma média de oito semanas.
A análise incidiu sobre 30 medicamentos, incluindo inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRI) comuns, como a sertralina, o escitalopram e a fluoxetina, bem como outros tipos de antidepressivos, como a mirtazapina e a amitriptilina.
Encontrou "diferenças clinicamente significativas" nos efeitos secundários físicos destes medicamentos, incluindo uma diferença de quatro quilos na alteração de peso entre a agomelatina e a maprotilina e uma diferença de mais de 21 batimentos por minuto na alteração da frequência cardíaca entre a fluvoxamina e a nortriptilina.
Os investigadores estimaram que alguns antidepressivos, como a maprotilina e a amitriptilina, causaram um aumento de peso "clinicamente importante" em quase metade das pessoas a quem foram receitados.
No geral, os investigadores descreveram os SSRI como "relativamente benignos" em comparação com outros tipos de antidepressivos.
Estes tipos de efeitos secundários físicos podem levar algumas pessoas a deixar de tomar os antidepressivos que lhes foram receitados, o que pode piorar a sua saúde mental, afirmaram os investigadores.
"Uma melhor tolerabilidade - menos efeitos secundários - significa uma maior duração do tratamento para o doente... e quanto mais tempo o doente tomar a medicação, melhores serão os resultados obtidos com a medicação", disse aos jornalistas Andrea Cipriani, professora de psiquiatria na Universidade de Oxford e uma das autoras do estudo.
Especialistas independentes afirmaram que os resultados devem ser utilizados para desenvolver opções de tratamento mais personalizadas para os pacientes, especialmente aqueles com doenças cardiometabólicas existentes, como doenças cardíacas ou diabetes.
"Os resultados sublinham a necessidade de realizar controlos de saúde física de rotina nas pessoas tratadas com antidepressivos", afirmou em comunicado Azeem Majeed, presidente dos cuidados primários e da saúde pública do Imperial College London.
Entretanto, Prasad Nishtala, professor de farmácia e epidemiologia na Universidade de Bath, afirmou que o estudo pode subestimar a gravidade dos efeitos secundários.
Num "contexto real, em que os doentes recebem frequentemente antidepressivos durante meses ou anos, é provável que os riscos cumulativos sejam mais elevados, em especial entre os doentes com depressão crónica ou com comorbilidades metabólicas já existentes", afirmou Nishtala.
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