O mais antigo hospital psiquiátrico de Inglaterra organiza nova (e assustadora) exposição de arte de doentes

O hospital psiquiátrico mais antigo de Inglaterra está a exibir criações nunca antes apresentadas pelos seus pacientes numa nova exposição que explora o sono, os sonhos e os pesadelos.
"Between Sleeping and Waking" - entre o sono e a vigíla, numa tradução literal - no Bethlem Museum of the Mind, baseia-se em dois séculos de trabalho, grande parte do qual produzido por pessoas tratadas no hospital - desde uma ode a um esquilo de estimação morto, escrita por um homem que tentou assassinar George III, até instalações contemporâneas feitas de lençóis de cama rabiscados com pensamentos ansiosos de fim de noite.
Instalado nos terrenos do Bethlem Royal Hospital, que funciona desde 1403 e inspirou inúmeras representações culturais da loucura - sobretudo Bedlam, um filme de terror de 1946 protagonizado por Boris Karloff - o museu combinou estas obras de arte com a investigação sobre os tipos de sonhos mais comuns partilhados entre culturas.
"O que fizemos foi pegar no trabalho dos investigadores do sono e eles desenvolveram uma taxonomia dos sonhos que são mais comummente partilhados por toda a sociedade e também por todas as culturas", explica Colin Gale, diretor do Bethlem Museum of the Mind. "E depois fomos à rica coleção de obras de arte de reserva do nosso museu e conseguimos encontrar um quadro que ilustra cada um desses arquétipos".
Pesadelos em tela
Uma das obras mais marcantes da exposição é Nightmare (1953) de William Kurelek, um artista canadiano que foi tratado em Londres no início da década de 1950. As suas telas serviam como uma espécie de diálogo com os seus médicos - tentativas visuais de mapear os seus terrores internos.
"O que ele fazia era pintar para os seus médicos cenas que tentavam explicar-lhes todas as suas preocupações e dificuldades e, em particular, este quadro chamado "Pesadelo" é uma composição de todos os muitos pesadelos que o perseguiam na altura", diz Gale.
De perto, o quadro torna-se ainda mais perturbador. "Este é... uma representação realmente perturbadora dele a imaginar como seria se tivesse o seu pai - com quem tinha uma relação difícil - à sua mercê e lhe estivesse a partir os miolos com uma pedra", salienta Gale.
A exposição também dá espaço à experiência da insónia. A instalação Night Tides, de Kate McDonnell, é monumental, feita de edredões, fronhas e roupa de cama com linhas de texto frenéticas e em loop - o tipo de preocupações irracionais que vêm à tona a altas horas da madrugada.
"Esta obra de arte é sobre insónia e o estado estranho que ocupamos a meio da noite. É feita de edredões, fronhas e roupa de cama e está toda escrita com esse tipo de pensamentos ansiosos que temos, a estranheza irracional que a insónia realmente gera. E muito do meu trabalho incorpora sentimentos incómodos e intangíveis", diz McDonnell.
"O que espero que as pessoas retirem deste trabalho é que não estão sozinhas naquilo que estão a sentir", acrescenta. "Porque penso que é uma verdade universal que toda a gente já experimentou, a insónia de alguma forma. E eu gosto desse tipo de ligação que todos temos como seres humanos, quer sejamos muito pequenos ou muito mais velhos."
"Between Sleeping and Waking" está patente até 8 de novembro no Bethlem Museum of the Mind, em Beckenham, Sul de Londres.
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