Jennifer Lawrence recebe o Prémio Donostia em San Sebastián

A 73ª edição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián viveu um dos seus momentos altos na sexta-feira com a entrega do Prémio Donostia a Jennifer Lawrence. Aos 35 anos, a atriz norte-americana tornou-se na mais jovem artista a receber este reconhecimento pela sua carreira, que já inclui um Óscar, um Globo de Ouro e o apoio do público a uma longa série de filmes que marcaram toda uma geração.
"A nossa liberdade de expressão está a ser atacada nos Estados Unidos"
"É uma grande honra", disse a atriz numa conferência de imprensa antes da cerimónia, onde também refletiu sobre o estado da cultura no seu país: "A nossa liberdade de expressão está a ser atacada nos Estados Unidos, incluindo no mundo do cinema, onde percebemos que estamos todos ligados e precisamos de empatia e liberdade".
Lawrence apresentou no evento o seu último filme, Die My Love, que representa um ponto de viragem na sua carreira e no qual participa como produtora. A atriz encorajou os jovens cineastas e atores a continuarem a lutar pelos seus sonhos: "Aprendam, vão aos castings, continuem a tentar. Mas, acima de tudo, ver filmes é muito importante".
Quando questionada sobre o papel das mulheres em Hollywood, Lawrence referiu que criadoras como Greta Gerwig, uma atriz de renome e realizadora de filmes independentes, "mostraram que quando nos é dada a oportunidade, o mundo beneficia, porque são contadas mais histórias e há mais perspectivas".
Vencedora de um Óscar por Guia para um Final Feliz em 2012, Lawrence protagonizou títulos aclamados como Golpada Americana, Não Olhem Para Cima, Joy e a trilogia The Hunger Games.
Além disso, com a sua produtora Excellent Cadaver promoveu projetos como Causeway, Tudo na boa! e documentários de impacto social como Zurawski v. Texas ou Bread & Roses, que foi distinguido com um Peabody Award.
A atriz junta-se a uma longa lista de personalidades que receberam o Prémio Donostia, como Penélope Cruz, Julia Roberts e Viggo Mortensen. Em San Sebastián, o prémio coincidiu com um festival marcado por gestos políticos, especialmente em relação à guerra em Gaza.
Festival marcado por protestos pró-Palestina
O forte tom político que marca a edição deste ano do Festival de San Sebastian já estava presente na abertura do evento, a 19 de setembro, quando cerca de 2000 pessoas se juntaram à porta do Kursaal para manifestar o seu apoio ao povo palestiniano.
"Libertem a Palestina" foi a palavra de ordem entoada enquanto os convidados desfilavam pela passadeira vermelha. No interior, os apresentadores Silvia Abril, Toni Acosta e Itziar Ituño condenaram o "genocídio perpetrado por Israel na Palestina" e apelaram a uma salva de palmas "para que se ouça até na Palestina".
No mesmo dia, Pedro e Agustín Almodóvar usaram autocolantes com o slogan "Genocídio Stop" e gritaram "Viva a Palestina livre" durante a cerimónia de entrega do prémio Donostia à produtora Esther García. A própria homenageada lembrou que "os filmes são ferramentas para tornar o mundo um lugar mais bonito e mais justo" e apelou à "luta para acabar com o genocídio em Gaza agora".
Os protestos multiplicaram-se ao longo da semana. No dia 21 de setembro, Juliette Binoche apelou em palco ao "fim do massacre na Palestina", enquanto o cineasta iraniano Jafar Panahi denunciou a insensibilidade da política internacional.
Na passada terça-feira, realizadores como José María Goenaga e Aitor Arregi, em competição com Maspalomas, defenderam o embargo a Israel: "É tempo de tomar uma posição clara", disse Goenaga. No dia seguinte, o diretor de "Los Tigres", Alberto Rodríguez, foi categórico: "A continuação do genocídio em Gaza é uma vergonha. Somos todos cúmplices se não agirmos".
Também na quarta-feira, num gesto que fez lembrar o keffiyeh de Javier Bardem nos Emmy Awards, Eduard Fernández subiu ao palco com um lenço palestiniano na cabeça, durante a cerimónia de entrega dos Prémios Nacionais de Cinema. "Alguns dirão 'que chatice', mas não podemos deixar de o dizer para preservar a nossa dignidade", afirmou.
San Sebastián, nesta edição, mostrou que o cinema não só celebra carreiras como a de Jennifer Lawrence, mas também se torna um altifalante de causas comuns, sobretudo no mundo da sétima arte.
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