...

Logo Pasino du Havre - Casino-Hôtel - Spa
in partnership with
Logo Nextory

Múmias do Antigo Egito têm um cheiro “picante” e “doce", revela estudo

• Feb 18, 2025, 1:33 PM
8 min de lecture
1

Investigadores da University College London (UCL) e da Universidade de Ljubljana fizeram história com um estudo inovador, que se tornou o primeiro a analisar sistematicamente os odores de corpos mumificados.

Utilizando uma combinação de ferramentas de alta tecnologia, como um "nariz" eletrónico, e farejadores humanos treinados, estudaram nove múmias que estão em exposição e armazenadas no Museu Egípcio, no Cairo. Os resultados, publicados no Journal of the American Chemical Society, oferecem uma nova perspetiva sobre os antigos materiais de embalsamamento e a forma como os museus conservam estes artefactos antigos.

"O cheiro dos corpos mumificados atrai, há anos, um interesse significativo de especialistas e do público em geral, mas nenhum estudo científico químico e percetivo combinado foi realizado até agora", realçou Matija Strlič, principal autor do estudo, em comunicado.

"Esta investigação inovadora ajuda-nos realmente a melhor planear a conservação e a compreender os antigos materiais de embalsamamento. Acrescenta mais uma camada de dados para enriquecer a exposição de corpos mumificados em museus".

Parte da equipa de investigação do Museu Egípcio no Cairo posa para uma fotografia junto de uma seleção de corpos mumificados.
Parte da equipa de investigação do Museu Egípcio no Cairo posa para uma fotografia junto de uma seleção de corpos mumificados. Ahmed Abdellah via The Associated Press

Os odores são moléculas libertadas por uma substância no ar, pelo que a equipa utilizou um cromatógrafo a gás e um espetrómetro de massa para identificar os químicos emitidos pelas múmias. A par dos instrumentos, um painel de farejadores treinados descreveu a qualidade e a intensidade dos odores.

Este método ajudou a distinguir entre os odores causados pelo processo de mumificação original e os resultantes dos esforços modernos para conservar as múmias.

Para Cecilia Bembibre, outra das investigadoras, existem dois aspetos particulares do estudo que se destacam: "Em primeiro lugar, os odores revelaram novas informações, sublinhando a importância de utilizar os nossos sentidos para compreender o passado.

Em segundo lugar, embora a maioria dos estudos sobre corpos mumificados tenha sido realizada em museus europeus até agora, aqui trabalhámos em estreita colaboração com colegas egípcios para garantir que os seus conhecimentos e experiência percetiva fossem representados e desenvolvemos, em conjunto, uma abordagem ética e respeitosa para estudar os corpos mumificados".

Alguns dos corpos mumificados em exposição no Museu Egípcio, no Cairo.
Alguns dos corpos mumificados em exposição no Museu Egípcio, no Cairo. Emma Paolin via The Associated Press

Uma das principais conclusões da investigação é que os antigos egípcios estavam muito conscientes de como o cheiro estava ligado à pureza do falecido, especialmente quando embalsamavam deuses e faraós. O processo envolvia óleos, resinas e bálsamos como o pinho, o cedro, a mirra e o incenso, que ainda libertam um aroma agradável, mesmo após 5.000 anos.

"Para os antigos egípcios, a mumificação era uma prática mortuária importante que visava preservar o corpo e a alma para a vida após a morte, através de um ritual detalhado de embalsamamento do falecido, utilizando óleos, ceras e bálsamos", explicou o professor Ali Abdelhalim, coautor e diretor do Museu Egípcio, no Cairo.

"A prática evoluiu ao longo do tempo e a identificação das diferentes técnicas e materiais utilizados permite conhecer a época, a localização e o estatuto socioeconómico do indivíduo mumificado".

Emma Paolin, aluna de doutoramento na Universidade de Liubliana, realiza investigação sobre múmias.
Emma Paolin, aluna de doutoramento na Universidade de Liubliana, realiza investigação sobre múmias. Abdelrazek Elnaggar via The Associated Press

O estudo está também a abrir caminho para novidades nas exposições dos museus. No futuro, a equipa espera criar "paisagens olfativas" - recriações dos odores de corpos mumificados antigos - que poderão ser utilizadas em museus para ajudar os visitantes a vivenciar a história de uma forma totalmente inovadora.

Esta investigação pioneira não está, portanto, apenas a enriquecer o nosso conhecimento sobre o passado, mas também a moldar a forma como interagimos com ele.