"Não está à venda": manifestantes anti-turismo destroem centenas de espreguiçadeiras em Tenerife
Uma onda de vandalismo atingiu duas praias populares em Los Cristianos, Tenerife, na semana passada. Mais de 230 espreguiçadeiras foram destruídas e pintadas com graffitis antiturismo, tais como "Canarias se defiende" ("As Ilhas Canárias defendem-se a si próprias") e "Canarias no se vende" ("As Ilhas Canárias não estão à venda").
Descobertas às primeiras horas da manhã de quinta-feira, 5 de dezembro, as espreguiçadeiras das praias de Las Vistas e El Camison foram danificadas por vários indivíduos desconhecidos, no âmbito do que a Câmara Municipal de Arona descreve como sendo um "ataque coordenado".
Las Vistas vivenciou a destruição de 100 espreguiçadeiras e El Camison de 136, ao passo que um centro comercial próximo foi também grafitado.
Um vídeo partilhado online nos dias seguintes ao incidente exibe vândalos a cortar espreguiçadeiras com uma faca. O Canarian Weekly refere que os danos estão estimados em 5.000 euros.
"Somos contra todos os tipos de vandalismo e a falta de civismo de algumas pessoas que atacam o património de Arona, o que causa sérios danos, tanto aos residentes, como aos visitantes", afirmou a presidente da Câmara, Fátima Lemes, em comunicado. A autarca reiterou que tais infrações são puníveis por lei e apelou aos cidadãos para que ajudem a identificar os autores.
O último de uma vaga de protestos contra o turismo
As Ilhas Canárias tornaram-se um ponto de encontro para o sentimento antiturismo. Em abril, dezenas de milhares de manifestantes saíram à rua no arquipélago, exigindo limites para o que consideram ser um desenvolvimento descontrolado que prejudica o ambiente e o modo de vida das pessoas.
Alguns ativistas entraram em greve de fome em Tenerife, numa tentativa de travar a construção de um novo hotel e de uma estância balnear.
As manifestações estenderam-se a muitos dos destinos turísticos mais populares de Espanha, incluindo as Ilhas Baleares, Alicante, várias cidades da costa sul e Barcelona. Na maior parte dos casos, os protestos foram pacíficos, embora tenha havido alguns relatos de estrangeiros contra quem foram disparadas pistolas de água e a quem se gritou para "irem para casa".
No entanto, algumas iniciativas foram mais preocupantes. Em julho, cofres que se encontravam à entrada de apartamentos em Sevilha, utilizados para facilitar o check-in de visitantes, foram manchados com fezes, numa altura em que se exigia o fim das licenças da Airbnb. Em outubro, manifestantes antiturismo, agitando bandeiras e batendo tambores, invadiram a praia de Playa de las Americas, em Tenerife, aglomerando-se à volta dos visitantes que tomavam banhos de sol, numa tentativa de os intimidar.
Em muitas cidades e regiões, houve uma tentativa de acalmar a situação. Em Barcelona, por exemplo, os apartamentos turísticos de curta duração serão proibidos a partir de 2028. Palma de Maiorca está a limitar o número de cruzeiros que podem atracar no seu porto e Tenerife introduziu um limite para o número de visitantes em alguns dos seus parques nacionais.
Porque é que os espanhóis estão descontentes com o turismo?
Os manifestantes que foram contactados pelos meios de comunicação social sublinham que não são contra a indústria do turismo em si. O turismo representa mais de um terço da economia das Canárias e 40% dos empregos, pelo que os habitantes locais compreendem o valor dos visitantes.
"Queremos o turismo, mas o que não queremos é um excesso de turismo", afirmou o ativista Daniel Cabrera, em declarações ao Standard. "O que não queremos é uma exploração excessiva e um turismo de lixo que não beneficia a economia local". O ativista explicou ainda que 75% do dinheiro dos hotéis e outras empresas da ilha acaba fora de Espanha. "Isso não pode ser tolerado", acrescentou.
O problema reside naquilo que a população local considera ser uma expansão descontrolada do turismo no país. Segundo os residentes, é algo que está a provocar o aumento do custo da habitação, problemas ambientais e pressão sobre os serviços públicos.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), 34% dos habitantes das Ilhas Canárias estavam em risco de pobreza ou exclusão social em 2023, o valor mais elevado em Espanha depois da Andaluzia.
Mas nem todos os habitantes locais têm a mesma opinião. Augusto Ferreira, proprietário de um restaurante nas Canárias, organizou um contraprotesto intitulado "Lanzarote Loves Tourism" ("Lanzarote ama o turismo"), num esforço para realçar a importância do turismo para a economia das ilhas.
O Instituto Nacional de Estatística espanhol registou um aumento anual de 10,3% nas visitas às Ilhas Canárias, com 14 milhões de turistas internacionais a darem entrada na região em 2023. Esses visitantes, por sua vez, trouxeram um recorde de 20 mil milhões de euros para as ilhas.