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Ameaças tarifárias de Trump estão a trazer mais viajantes americanos para a Europa este ano. Eis a razão

• Feb 18, 2025, 5:40 PM
14 min de lecture
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As ameaças tarifárias de Donald Trump e a incerteza económica estão a levar os canadianos a descartar os EUA e a viajar para a Europa. Os americanos, aliás, estão a planear juntar-se a eles no Velho Continente, graças ao facto de o dólar americano ser mais caro para a marcação de viagens. Já os americanos que vivem na Europa dizem que vão mesmo ficar por cá, procurando evitar a sua pátria "tóxica e cara".

À medida que são reveladas as várias alterações políticas que o novo presidente dos EUA pretende implementar, a Euronews Travel analisa o impacto que estas poderão ter nas viagens.

O dólar americano estará forte em 2025?

Se os economistas estiverem certos, o dólar americano continuará a fortalecer-se face às moedas estrangeiras. Mesmo a ameaça de uma nova política tarifária significa que as principais moedas mundiais - como o euro - são enfraquecidas pela evolução das taxas de juro.

Isto permite aos americanos que desejam viajar para fora dos Estados Unidos um maior poder de compra, podendo usufruir de viagens mais longas ou luxuosas caso reservem visitas guiadas, alojamento e restaurantes na moeda local.

Expatriados americanos na Europa planeiam afastar-se da América "tóxica"

Craig Sauers, um americano que vive em Tbilisi, na Geórgia, já vivia no estrangeiro quando Trump ganhou em 2016, o que, segundo afirma, foi "um choque".

Como americano no estrangeiro, sente-se "envergonhado, embaraçado e zangado" e ficou "chocado por tantos americanos terem acreditado nas mensagens" do atual chefe de Estado oito anos depois.

"Não tenciono regressar aos EUA tão cedo. As mudanças com o regime MAGA [Make America Great Again] são reais, mas as pressões inflacionistas também não diminuíram de todo. Os EUA são tóxicos e dispendiosos neste momento, o que é uma má combinação", refere Sauers.

"Espero, no entanto, visitar o país. Não estou a ficar mais novo e não posso deixar que o orgulho interfira nas relações com os meus pais, irmãos, sobrinhos e sobrinhas."

Uma jovem viajante americana capta imagens da Europa
Uma jovem viajante americana capta imagens da Europa Canva/LuckyImages

Jared Batzel vive atualmente em Madrid e está a estudar para o seu MBA. Anteriormente, prestou serviço militar nos EUA e desempenhou outras funções no setor público, incluindo na USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional), que foi praticamente encerrada com a chegada de Trump à presidência.

"Sempre regressei periodicamente aos Estados Unidos por uma razão ou outra... mas os regressos têm sido cada vez mais perturbadores", afirma.

Batzel mantém os seus planos de visitar os EUA em maio, "sobretudo por motivos pessoais ou profissionais", mas diz que não sente falta de nada na América, apesar de ter nascido e crescido numa região americana muito pró-Trump.

Embora compreenda algumas queixas e frustrações dos eleitores de Trump, diz que "já não reconhece grande parte da América".

"Isto vai para além da política quotidiana e inclui tópicos como a inflação e o custo de vida, o crime e os tiroteios em massa, e muitas outras razões que tornaram a marca americana tóxica no cenário mundial."

"Tenho muitos colegas de língua inglesa em Espanha que são oriundos de algumas dezenas de países. Muitos deles já trabalharam nos Estados Unidos ou pretendiam fazê-lo no futuro. Praticamente todos reconsideraram e estão agora a procurar oportunidades a longo prazo na Europa ou nos seus países de origem", acrescenta Batzel.

Porque é que os canadianos estão a cancelar as viagens para os EUA?

Depois de a administração Trump ter ameaçado o Canadá com pesadas tarifas logo nos primeiros dias de mandato, o primeiro-ministro, Justin Trudeau, disse aos cidadãos para "escolherem o Canadá".

Primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, dirige-se aos meios de comunicação social após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter assinado uma ordem para impor taxas altas
Primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, dirige-se aos meios de comunicação social após o presidente dos EUA, Donald Trump, ter assinado uma ordem para impor taxas altas AP/Justin Tang

"Tal pode significar mudar os planos de férias de verão de modo a ficarem aqui no Canadá e explorarem os muitos parques nacionais e provinciais, locais históricos e destinos turísticos que o nosso grande país tem para oferecer", disse Trudeau.

Um pedido que foi acolhido pelos cidadãos, de acordo com os dados mais recentes.

"Os especialistas da [empresa] Flight Centre já ajudaram vários canadianos a descartar as suas férias nos Estados Unidos e a fazer novas reservas noutro local", indicou a repartição desta agência de viagens no Canadá ao Open Jaw, um site de notícias diárias destinada a agentes de viagens canadianos.

"Um dos nossos clientes de longa data cancelou uma viagem ao Arizona no fim de semana e, agora, planeia levar a família a Portugal", confirmou a empresa.

Algumas destas viagens são "experiências marcantes e que constam em muitas listas de desejos", que custam entre 6.700 e 13.480 euros. Cruzeiros planeados também estão a ser cancelados porque muitos fazem escala em portos americanos.

Descolagem de um avião da Air Canada
Descolagem de um avião da Air Canada Canva/Troy Squillaci

Não são apenas os que viajam por motivos de lazer que estão a cancelar viagens: um inquérito recente da Corporate Traveller/YouGov revela que 40% das pequenas e médias empresas canadianas já reduziram as viagens de negócios com destino aos EUA. As filas na alfândega norte-americana, nos principais aeroportos canadianos, já estão, alegadamente, muito mais calmas.

De acordo com a US Travel Association (USTA), os canadianos são a principal fonte de visitantes internacionais nos Estados Unidos. Apreciam os climas mais quentes da Florida, Califórnia, Nevada, Nova Iorque e Texas. Em 2024, 20,4 milhões de canadianos visitaram os EUA, gastando 20,5 mil milhões de dólares (19,60 mil milhões de euros).

As tarifas - quando os bens importados de outros países são sujeitos a um imposto, normalmente uma percentagem do valor do produto - são uma parte significativa dos planos económicos de Trump.

Nos primeiros dias de mandato, a nova administração dos EUA introduziu um imposto de 10% sobre todos os produtos provenientes da China e propôs também a introdução de taxas aduaneiras sobre os produtos provenientes do Canadá e do México.

Quer as tarifas venham ou não a ser aplicadas, os canadianos afirmam que continuarão a cancelar voos. A Air Canada vai cortar várias rotas para a Flórida, Las Vegas e Arizona a partir de março, invocando a disputa sobre as tarifas aduaneiras e o enfraquecimento do dólar canadiano, segundo informa o Travel and Tour World.

Havai receia ter menos turistas em 2025

Embora o Havai seja um destino de férias popular, com uma identidade cultural distinta da América continental, o arquipélago depende do dólar americano e, por isso, também está agora a receber menos visitantes devido às ameaças de tarifas sobre as importações estrangeiras.

A procura da WestJet, uma companhia aérea local que voa dos EUA para todas as principais ilhas havaianas, caiu 25% nas últimas semanas, de acordo com o meio de comunicação social local Khon2.

Os habitantes que dependem do turismo nesta ilha têm vindo a pedir aos visitantes internacionais que não cancelem as suas viagens.

Se os pedidos dos residentes na ilha - para apoiar a indústria turística vital do Havai -serão ouvidos, só o tempo dirá.